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As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Vou morrer; mas, para morrer contente, meu caro Duque, eu quero ver um<br />

solda<strong>do</strong> <strong>do</strong> Porto. Um daqueles bravos <strong>do</strong> cerco...<br />

O Coronel Pimentel saiu às pressas à cata de um solda<strong>do</strong> <strong>do</strong> Porto.<br />

Encontrou a Manuel Pereira. Era o 82 da segunda companhia. Trouxe-o até ao<br />

Paço. D. Pedro, no leito, recebeu-o com ternura. Tomou-lhe as mãos. Apertou-as.<br />

Abraçou-o. O 82 tremia...<br />

D. Pedro, ofegante, disse-lhe apenas:<br />

— Transmite este abraço aos teus camaradas... É a minha última lembrança!<br />

Conta o historia<strong>do</strong>r: "O 82, curva<strong>do</strong> e trêmulo, chorava como qualquer<br />

criança. Parecia chumba<strong>do</strong> ao chão, sem poder mover-se. Foi preciso tirá-lo dali,<br />

levan<strong>do</strong>-o pela mão, como se fora um cego. Por muito tempo, Manuel Pereira ficou<br />

padecen<strong>do</strong> ataques nervosos, devi<strong>do</strong>s à comoção desse dia".<br />

Começou, então a agonia. Durante três dias, naquela fúnebre sala D. Quixote,<br />

foi um morrer <strong>do</strong>loroso, devagarinho...<br />

Mas os negócios públicos não estacionaram. D. Maria da Glória, numa<br />

sessão fulgurante <strong>do</strong> parlamento, foi reconhecida solenemente como rainha. Jurou a<br />

Constituição. Recebeu a coroa e o cetro. Ao voltar da sua apoteose, ainda toda<br />

refulgente da glória, a rainhazinha encontrou o pai a morrer. Estava nos últimos<br />

lampejos. Então, naquele momento supremo, a pequenina D. Maria II assinou<br />

rapidamente o seu primeiro decreto: era um decreto conferin<strong>do</strong> a D. Pedro a grãcruz<br />

da Torre e Espada.<br />

A Torre e Espada, ordem velhíssima, D. Pedro a reformara no Porto para<br />

"premiar o valor, a lealdade e o mérito <strong>do</strong>s solda<strong>do</strong>s".<br />

A menina coroada entrou no quarto <strong>do</strong> pai. Estava nos estertores aquele que<br />

bravamente a colocara no trono. Estava morren<strong>do</strong> o mais duro solda<strong>do</strong> <strong>do</strong> cerco <strong>do</strong><br />

Porto! A linda criaturinha circun<strong>do</strong>u-lhe galantemente o pescoço: e no peito <strong>do</strong><br />

moribun<strong>do</strong>, com uma delicadeza enternece<strong>do</strong>ra, pregou a grã-cruz da Torre e<br />

Espada O pai, semicerran<strong>do</strong> os olhos, sorriu palidamente à filha que o galar<strong>do</strong>ava...<br />

E morreu. Morreu condecora<strong>do</strong> pela rainha a quem dera a coroa...<br />

<strong>As</strong>sim passou aquele que foi o cria<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Império Brasileiro. <strong>As</strong>sim passou<br />

aquele galhar<strong>do</strong>, aquele simpático rapaz que foi D: Pedro I <strong>do</strong> Brasil e Pedro IV de<br />

Portugal.<br />

O moço herói, de vida tão cheia, tinha apenas, ao morrer, um pouco mais de<br />

trinta e cinco anos.<br />

* * *<br />

FIM<br />

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