As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama
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D. João, nesse instante, abre uma caixa de xarâo que o guarda-jóias trouxera.<br />
Toma dum colar de pérolas. É magnífico. Tem quatrocentas pérolas. E<br />
cavalheiresco, to<strong>do</strong> num sorriso, enrodilha-o no pescoço da nora. D. Carlota, por sua<br />
vez, enroda-lhe nos braços duas pulseiras de safiras imensas. São safiras<br />
incomparáveis, as maiores <strong>do</strong> Brasil. D. Miguel oferece-lhe uma afogadeira de rubis.<br />
D. Maria Teresa um trepa-moleque de brilhantes. D. Maria Francisca uma colossal<br />
borboleta cravejada. Todas as infantas trazem o seu mimo. É uma profusâo de<br />
riquezas. D. Leopoldina a cada jóia, sorri encantada:<br />
— Oh! Oh!<br />
D. Pedro enfia-lhe no de<strong>do</strong> um anel opulentissimo. Há nele uma pedra de dez<br />
quilates, azul-querosene. Depois, galantemente, a<strong>do</strong>rna-lhe os cabelos com um<br />
diadema de pedrarias. E entrega-lhe, enfim, uma caixa de ouro muito lavrada. D.<br />
João, ven<strong>do</strong> a Princesa abrir a caixa explica modestamente:<br />
— Estão ai dentro, minha filha, os frutos da terra. Este é o país <strong>do</strong>s diamantes.<br />
A caixa estava atulhada de diamantes brasileiros.<br />
O vea<strong>do</strong>r de el-Rei, nesse instante, faz um sinal ao mestre da galeota. Os<br />
marinheiros, a um só tempo, batem os remos na água. A embarcação voa. E uns<br />
instantes depois, debaixo dum sol de ouro, sob a alegria frenética <strong>do</strong>s campanários,<br />
D. Leopoldina pisa a terra <strong>do</strong> Brasil.<br />
Um séquito único, brilhantíssimo, como nunca mais se viu no Brasil,<br />
acompanhou os noivos até à Capela Real. Não o descreva eu, para não me<br />
acoimarem de imaginativo. Descreva-o esse tão saboroso cronista, o Padre Luís<br />
Gonçalves <strong>do</strong>s Santos, testemunha presencial da festa. Lá diz o padre nas suas<br />
"Memórias":<br />
O SÉQUITO<br />
"Vinha adiante uma partida de Bate<strong>do</strong>res. Seguiam-se quatro Moços a cavalo,<br />
e os Azemeis cobertos de velu<strong>do</strong>s carmezim. Logo depois os Timbaleiros com<br />
atabales. To<strong>do</strong>s a cavalo, agaloa<strong>do</strong>s de ouro, coletes azuis agaloa<strong>do</strong>s de prata.<br />
Seguiam-se imediatamente oito Porteiros da Cana. Os <strong>do</strong>is dianteiros com canas, os<br />
mais com maças de prata ao ombro. Vinham vesti<strong>do</strong>s de casacas pretas com capas<br />
da mesma cor. E tu<strong>do</strong> era de seda. Atrás deles, vinham os Reis d'Armas, Arautos, e<br />
Passavantes, vesti<strong>do</strong>s com armaduras de seda ricamente bordadas. Marchava em um<br />
soberbo cavalo o Correge<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Crime da Côrte. Trazia a beca, a vara alçada, o<br />
chapéu de plumas na mão. Acompanhavam-no <strong>do</strong>us Cria<strong>do</strong>s da Casa Real a pé.<br />
Após <strong>do</strong> Correge<strong>do</strong>r seguin<strong>do</strong>-se noventa e três carruagens, todas de quatro rodas,<br />
puxadas a <strong>do</strong>us e a quatro. <strong>As</strong> primeiras conduziam os <strong>do</strong> Conselho d'Esta<strong>do</strong>, as<br />
últimas os Bispos e Grandes <strong>do</strong> Reino. Levava cada uma <strong>do</strong>us Cria<strong>do</strong>s á portinhola,<br />
muito bem farda<strong>do</strong>s, segun<strong>do</strong> a variedade das librés <strong>do</strong>s seus Amos, trazen<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s<br />
plumas brancas nos chapéus, que levavam nas mãos. Esta extensa fila de<br />
carruagens, todas mui asseadas, e ricas, puxadas por soberbos machos enfeita<strong>do</strong>s<br />
com plumas e fitas, por longo espaço de tempo entreteve com prazer os especta<strong>do</strong>res<br />
pela sua brilhante vista. Mas o que era Esta<strong>do</strong> da Casa Real, isto sim, surpreendia<br />
pela sua grandeza e magnificência. Estadeou-se nesta Côrte pela primeira vez, com<br />
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