As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama
As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama
As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
— O Impera<strong>do</strong>r!<br />
www.nead.unama.br<br />
<strong>As</strong> ruas abarrotam-se de gente. Grande correria. <strong>As</strong> janelas abrem-se com<br />
estrépito. Que há?<br />
— O Impera<strong>do</strong>r!<br />
É o Impera<strong>do</strong>r que passa. Sua Majestade guia um coche tira<strong>do</strong> a seis. O fraco<br />
de D. Pedro, toda gente o sabe, é guiar. Não há para Sua Majestade paixão que o<br />
empolgue tanto.<br />
Naquele dia, então, como o sol luzisse magnífico, D. Pedro saiu com espavento.<br />
Soberbo, o chicote em punho, o boleeiro imperial largara o coche num galope solto.<br />
Vinha dentro a Imperatriz D. Amélia. Dum la<strong>do</strong>, D. Maria da Glória, a rainhazinha de<br />
Portugal. Do outro la<strong>do</strong>, o Príncipe Augusto, irmão da imperatriz. Um ban<strong>do</strong> luzidissimo!<br />
De repente, a uma chicotada mais violenta, um <strong>do</strong>s cavalos pula, as guias quebram-se,<br />
o coche revira com estron<strong>do</strong>! Grande pânico! D. Pedro é arremessa<strong>do</strong> longe. A<br />
Imperatriz e a Rainha caem de borco no chão. O Príncipe Augusto bate a cabeça no<br />
laje<strong>do</strong>. Um desastre completo. To<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> precipita-se numa ânsia. Que foi? Que<br />
foi? Os viajantes reais estavam feri<strong>do</strong>s. O Impera<strong>do</strong>r, gemen<strong>do</strong>, vermelho de sangue,<br />
tinha duas costelas quebradas. Era na Rua <strong>do</strong> Lavradio. Era em frente à casa <strong>do</strong><br />
Marquês de Cantagalo. O Marquês corre com to<strong>do</strong>s os escravos a socorrer os feri<strong>do</strong>s.<br />
Recolhe-os. Presta-lhes auxílios enérgicos. Vieram logo os médicos. Veio o cirurgião.<br />
Encastoaram fortemente o Impera<strong>do</strong>r. E Pedro, durante largos dias, até curar-se da<br />
fratura, deixou-se ficar na casa amiga <strong>do</strong> Cantagalo.<br />
Um dia, ao fim da <strong>do</strong>ença, recebeu o monarca a correspondência de Esta<strong>do</strong>.<br />
Era imensa. D. Pedro pôs-se a correr os olhos por aquele monte de papéis. Havia,<br />
entre eles, uma carta que chegara de Londres. Carta grossa, recheada de<br />
<strong>do</strong>cumentos. D. Pedro leu-a, com espanto. Depois, com mais vagar, tornou a ler.<br />
Meditou. Tornou a ler... Aquela estranha carta chocara vivamente o soberano! D.<br />
Pedro bateu palmas. Apareceu o guarda-roupa de serviço:<br />
* * *<br />
— Vá buscar o Barbacena. Que venha já!<br />
O guarda-roupa saiu. Devia existir nela qualquer coisa de muito grave, de<br />
muito impressionante. Aquelas letras tiveram influência radical no espírito de D.<br />
Pedro. Perturbaram-no. Um ricto de cólera enrugou-lhe o lábio. O olhar lampejoulhe,<br />
bravio. Não restava dúvida: aquela estranha carta revirou-lhe os nervos. <strong>As</strong>sim,<br />
quan<strong>do</strong> Barbacena entrou, D. Pedro fervia.<br />
O Ministro notou logo aquele azedume, aquelas sombras, D. Pedro,<br />
encastoa<strong>do</strong> nas faixas, fez um enorme esforço para sentar-se. Sentou-se. E áspero:<br />
— Diga-me aqui, Marquês: quanto V. Excia. gastou na Europa com o meu<br />
casamento?<br />
Barbacena petrificou-se! Olhou o Amo assombra<strong>do</strong>. E D. Pedro, cada vez<br />
mais rude:<br />
71