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As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama

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www.nead.unama.br<br />

A Inglaterra exige, para o reconhecimento, que o Brasil pague o empréstimo de<br />

1.400.000 libras feito a Portugal; exige que o Brasil pague a D. João VI mais 600.000<br />

libras a título de indenizá-lo das propriedades reais existentes no Brasil; exige para si,<br />

finalmente, um novo trata<strong>do</strong> de comércio nas mesmas condições <strong>do</strong> antigo.<br />

Os homens ouviram, estatela<strong>do</strong>s, a proposta. Aquela idéia de pagar em<br />

dinheiro (<strong>do</strong>is milhões de libras!) o reconhecimento da independência repugnou-lhes.<br />

Era indigno! O Ministro da guerra objetou, com grande ira, teatralmente:<br />

— Mas é um recuo, Majestade! Depois da luta, depois de venci<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os<br />

estorvos, senhores <strong>do</strong> país, vamos nós agora voltar para trás? Vamos pagar, em<br />

dinheiro, o que já conquistamos com sangue? Por quê? Não há motivo que<br />

justifique... Se Portugal quiser reconhecer o novo Império, reconheça. Se não quiser,<br />

paciência!<br />

— Mas, nesse caso, Senhor Ministro, a Inglaterra intervém, redarguia D.<br />

Pedro concilia<strong>do</strong>r; veja a gravidade disto: a Inglaterra, que é hoje toda poderosa,<br />

intervém a favor de Portugal!<br />

— E que mal há nisso, Majestade?<br />

— Que mal há nisso?<br />

— Sim, Majestade, tornou o ministro com espavento; que mal há nisso? Se a<br />

Inglaterra intervier, Majestade, nós nos bateremos contra a Inglaterra! Nós nos<br />

bateremos até à última gota de sangue!<br />

D. Pedro irritou-se! Aquela patriotada recendia fortemente a estultícia. O Brasil a<br />

bater-se contra a Inglaterra em 1825! Vede um pouco! O Brasil sem dinheiro, sem<br />

armas, sem gente, inteiramente desguarneci<strong>do</strong>, a enfrentar a Inglaterra, o país mais rico<br />

e mais forte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>! Que basófia! D. Pedro não se conteve; e carrancu<strong>do</strong>:<br />

— Mas, enfrentar com que, Senhor Ministro? Nós não temos nada... Enfrentar<br />

com quê?<br />

— Enfrentar de qualquer jeito, Majestade!<br />

— Mas, enfrentar de que jeito, Senhor Ministro? De que jeito? Só se for com...<br />

E D. Pedro, furioso, disse em pleno Conselho uma palavra porca. Viu o<br />

monarca nitidamente que o espírito brasileiro não admitia acor<strong>do</strong>s. Havia, entre os<br />

próprios ministros, aquela absurda atitude de patriotas. Que seria, então, no<br />

congresso? Que barulhada não haviam de fomentar os deputa<strong>do</strong>s? D. Pedro, à vista<br />

disso, resolveu o caso temerariamente. <strong>As</strong>sinou <strong>do</strong>is trata<strong>do</strong>s. Um, público,<br />

ostensivo, pelo qual D. João VI reconhecia singelamente a independência <strong>do</strong> Brasil.<br />

Foi uma alegria. Aplausos das galerias. Grande vitória! Mas, assinou, também, outro,<br />

este secreto pelo qual o Impera<strong>do</strong>r, ilegalmente, se obrigava a pagar <strong>do</strong>is milhões de<br />

libras e a fazer com a Inglaterra novo trata<strong>do</strong> de comércio.<br />

"Sir" Stuart partiu para Portugal. E a 15 de Novembro de 1825, em Lisboa, D.<br />

João VI reconhecia afinal a independência da sua colônia...<br />

D. Pedro cumpriu a palavra: pagou as libras e assinou o trata<strong>do</strong>.<br />

O ato <strong>do</strong> soberano ressente-se — não há dúvida — duma ilegalidade<br />

clamante. D. Pedro não podia dispor assim, arbitrariamente, de <strong>do</strong>is milhões de<br />

esterlinos. Mas essa ilegalidade foi a mais abençoada das que praticou D. Pedro.<br />

Conseguiu o monarca, por ela, alicerçar a sua grande obra. Evitou a guerra.<br />

Serenou as agitações patrióticas. Não se derramou mais uma gota de sangue. Criou<br />

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