18.04.2013 Views

As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama

As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama

As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

atração de abismo. Escreveu-lhe... Aquele bilhetinho denunciava-lhe a alma. Por<br />

isso, durante a noite, naquele espetáculo de gala, o coração batia-lhe<br />

descompassa<strong>do</strong>, aos saltos. Não pelos lances da peça, que eram velhos e banais,<br />

mas pela idéia beliscante da ceia, daquela ceia que prometia ser cor-de-rosa...<br />

Caiu o pano. O Impera<strong>do</strong>r desceu vitoria<strong>do</strong> as escadas <strong>do</strong> teatro. O coche<br />

imperial, tira<strong>do</strong> a quatro, partiu a galope. E o Rio, a cidadezinha triste e feia,<br />

retombou no silêncio. Tu<strong>do</strong> deserto. Escuridão. De repente, no Paço, pelas saídas<br />

<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>, surde misteriosamente um vulto. Vem cauteloso, pisan<strong>do</strong> leve, enrola<strong>do</strong> na<br />

capa negra. O vulto embarafusta-se pelas ruelas pretas. Mete-se pela Rua Direita.<br />

Corta o Largo. Entra na Rua <strong>do</strong> Cano. Estaca diante dum casarão chato. É a morada<br />

da atriz Lu<strong>do</strong>vina. O vulto espreita. Tu<strong>do</strong> trevas. Põe o ouvi<strong>do</strong> á fechadura. Tu<strong>do</strong><br />

quieto. Então, naquela hora morta, o curioso personagem bate devagarinho à<br />

porta... Bruscamente, como por milagre, jorram lá dentro clarões fortes de luz. O<br />

homem da capa negra sente um arrepio:<br />

— É ela!<br />

A porta escancara-se. O vulto recua, aterra<strong>do</strong>: diante de si, na porta, surde<br />

uma chusma de cômicos! São os atores da companhia... E o ban<strong>do</strong> inteiro, abrin<strong>do</strong><br />

alas, com fachos na mão, alumia sarcasticameute a chegada <strong>do</strong> embuça<strong>do</strong>... O vulto<br />

foge, espavori<strong>do</strong>!<br />

No mesmo instante, atroan<strong>do</strong> a noite, estronda uma gargalhada formidável.<br />

Uma gargalhada de to<strong>do</strong>s os comediantes, ferina, demoli<strong>do</strong>ra. E uma voz velu<strong>do</strong>sa,<br />

uma voz acariciante de mulher, grita para o homem que foge:<br />

* * *<br />

— Queira entrar, meu senhor! A ceia está na mesa...<br />

Dentro da capa espanhola, furioso, o vulto sente o sangue chofrar-lhe nas<br />

veias. Uma grande cólera estruge nele. Mas, para evitar o escândalo, estugan<strong>do</strong> o<br />

passo, apenas murmura entre dentes, fulo de ira:<br />

— Cachorra!<br />

E foi assim, naquela noite, depois <strong>do</strong> espetáculo de gala, que terminou a ceia<br />

cor-de-rosa <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r D. Pedro com a trágica Lu<strong>do</strong>vina.<br />

O HERDEIRO DO TRONO<br />

Duas horas da noite. Negra massa de populares apinha-se curiosíssima em<br />

torno de S. Cristóvão. Fora, no pátio, muita sege. Dentro, pelos salões, um vaivém<br />

estranho. Todas as luzes acesas. Os lacaios, cá em baixo, reconhecem os vultos,<br />

através das vidraças iluminadas:<br />

— D. Mariana!<br />

* * *<br />

47

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!