As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama
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D. Miguel, ven<strong>do</strong> a derrota <strong>do</strong> seu exército, arremessara ao chão, com desespero,<br />
os seus óculos de campanha. E o impera<strong>do</strong>r, entusiasma<strong>do</strong> com Saldanha,<br />
condecora-o ali com a grã-cruz da Torre e Espada".<br />
D. Pedro triunfara. E esse triunfo, que foi <strong>do</strong>s mais altos, teve também a<br />
correspondê-lo um outro altíssimo feito de guerra:<br />
O Duque da Terceira fora manda<strong>do</strong> ao Algarve, numa expedição. E conseguira<br />
êxitos estron<strong>do</strong>sos. <strong>As</strong> suas armas levavam tu<strong>do</strong> de roldão. De tal forma, com tanta<br />
estrela, que as guarnições de Lisboa, aterrorizadas, aban<strong>do</strong>naram espavoridamente a<br />
cidade. O Duque da Terceira, à frente <strong>do</strong> seu exército, entrou com estrépito em<br />
Lisboa: era o supremo triunfo! Estava ganha a causa da Rainha... D. Pedro delirou. Os<br />
constitucionais deliraram. Não há palavra que pinte a <strong>do</strong>idice <strong>do</strong> exército.<br />
E o Duque de Bragança, ao saber da notícia fragorosa, deixa Saldanha no<br />
Porto. Embarca para Lisboa: entra vence<strong>do</strong>ramente na Capital. Senhor da situação,<br />
D. Pedro instala-se no Palácio das Necessidades. Forma o ministério. E, sem mais<br />
demora, man<strong>do</strong>u buscar a Rainha em Paris.<br />
A 22 de setembro de 1833 aportou, enfim no Tejo, ovacionada, apoteosada,<br />
í<strong>do</strong>lo <strong>do</strong> povo, a mimosa rainhazinha constitucional. D. Maria da Glória veio,<br />
acompanhada da sua madrasta, a ex-imperatriz D. Amélia. D. Pedro, no cais,<br />
ofegante e emociona<strong>do</strong>, recebeu-a nos braços. Recebeu nos braços, choran<strong>do</strong>,<br />
aquela por quem arriscara a vida, os teres, a honra. Ao verem-se, ao aconchegaremse<br />
num aperto afetuosíssimo, o hino rompeu com fúria, estrepitosamente. E da<br />
multidão imensa, que atulhava o cais, romperam vivas frenéticos. Romperam vivas<br />
loucos em honra de D. Maria da Glória. A menina, com a sua vozinha límpida, muito<br />
<strong>do</strong>ce, gritou em meio daquele oceano de berros:<br />
— Viva a Carta constitucional!<br />
* * *<br />
E foi, no cais, um delírio. Um delírio inenarrável? Uma apoteose!<br />
Estava ganha a revolução...<br />
Mais uns combates e o próprio D. Miguel fugia para Santarém. Mais uns<br />
combates ainda e D. Miguel fugia para o Alentejo. Mais umas últimas escaramuças,<br />
e D. Miguel era definitivamente escorraça<strong>do</strong> de Portugal. Pôde, enfim, D. Pedro,<br />
culminan<strong>do</strong> na glória, fazer sentar no trono a filha. Vingou-se assim de to<strong>do</strong>s os<br />
ultrajes. Teve a altíssima felicidade de resgatar, pelo seu heroísmo quixotesco, a<br />
mais <strong>do</strong>lorosa das injustiças que o irmão ingrato lhe havia feito. E com essa aventura<br />
de louco, a mais bela e a mais nobre da sua vida, D. Pedro realizou estas duas<br />
coisas formidáveis: dar a Portugal uma rainha e dar a Portugal uma constituição.<br />
Nada mais justo, portanto, <strong>do</strong> que essa estátua de bronze que hoje se ergue<br />
olimpicamente, em pleno Rocio, nessa deliciosa Lisboa: é a estátua de Pedro IV de<br />
Portugal. O Impera<strong>do</strong>r constitucional bem a mereceu.<br />
Graças a D. Pedro, graças a esse visionário magnífico, D. Maria da Glória<br />
ganhou uma coroa. Foi D. Maria II de Portugal. Foi a primeira e única rainha brasileira.<br />
* * *<br />
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