As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama
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— Um negocião da China, como dizia alvoroçadamente o príncipe ao<br />
barbeiro; um negocião da China! E dizer que até hoje ninguém teve ainda essa idéia.<br />
Mas, um dia, por fatalidade, aquela história foi parar aos ouvi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Rei. D.<br />
João VI branqueou. Nunca, na sua vida, o pobre monarca enfureceu tanto! Aquela<br />
leviandade <strong>do</strong> príncipe revirou-lhe os nervos. Sacudiu-o! Man<strong>do</strong>u chamar<br />
imediatamente o filho.<br />
D. Pedro, ao entrar, deparou com o pai de pé, revoluciona<strong>do</strong>, o cenho<br />
torvamente cerra<strong>do</strong>. O rei tinha na mão a sua grossa bengala de castão de ouro. E<br />
numa fúria, espumejan<strong>do</strong>:<br />
— Então, seu grandíssimo canalha, vosmecê a negociar em animais? E a<br />
negociar de parceria com o Pláci<strong>do</strong>, o barbeiro? Pois vosmecê, o herdeiro <strong>do</strong> trono,<br />
não tem vergonha nessa cara? O que eu devia fazer, seu cachorro, era quebrar-lhe<br />
a cara com esta bengala? Quebrar-lhe a cara, ouviu?<br />
E erguia a bengala no ar, e bramia, e descompunha, e gaguejava de cólera.<br />
D. Pedro não negou. Confessou tu<strong>do</strong> com firmeza. D. João man<strong>do</strong>u buscar o<br />
Pláci<strong>do</strong>. E ali mesmo:<br />
— Você, de hoje em diante, está proibi<strong>do</strong> de se meter em qualquer negócio<br />
com o príncipe. A sociedade está liquidada. Lucro, se houve, que fique para você.<br />
Não admito que meu filho toque num real dessa patifaria.<br />
E desfez a sociedade.<br />
Está claro que havia muitíssimo lucro no negócio. E o Pláci<strong>do</strong>, o felizar<strong>do</strong>,<br />
ficou-se com aquele dinheirão to<strong>do</strong>. Principiou desde ai, com esse capital, a<br />
prosperar na vida. Ficou riquíssimo. Terminou numa das mais grandiosas fortunas<br />
<strong>do</strong> Primeiro Império.<br />
Rompeu-se a sociedade mercantil, é verdade, mas não se rompeu a amizade<br />
velha que unia o amo e o cria<strong>do</strong>. Ao contrário: afeiçoaram-se ambos mais<br />
estreitamente. Continuaram pela vida afora companheiros e íntimos. E agora, já<br />
impera<strong>do</strong>r, D. Pedro não dispensava o Pláci<strong>do</strong>. Naquele momento, então, mais <strong>do</strong><br />
que nunca, o favorito desempenhava esta nobre e alta missão: era o recadeiro entre<br />
D. Pedro e a filha <strong>do</strong> Inhambupe. Diga-se outra vez, a bem da justiça, que o<br />
Impera<strong>do</strong>r, até aquele momento, não recebera da rapariga uma só prova, por<br />
pequenina que fosse, que demonstrasse ser correspondi<strong>do</strong> na sua maluquice.<br />
Nunca a moça dissera-lhe um "muito obriga<strong>do</strong>!" Nunca, nos beija-mãos, esboçara<br />
um sorriso mais significativo. Nunca, no teatro, erguera ao camarim imperial um<br />
olhar que prometesse. D. Pedro notava aquilo. Reclamava. Mas, o Pláci<strong>do</strong>,<br />
astucioso e hábil, explicava sempre:<br />
— É para não dar na vista. Ela não quer comprometer-se. Haverá nada mais<br />
justo? Mas fique Vossa Majestade sossega<strong>do</strong>! Deixe o caso por minha conta...<br />
* * *<br />
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