As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama
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www.nead.unama.br<br />
solda<strong>do</strong>, militar de gênio. Saldanha tinha feito a guerra da Península; a campanha<br />
de Monteevidéu: vencera Artigas; fora governa<strong>do</strong>r da Província <strong>do</strong> Rio Grande e<br />
recusara-se ficar na América ao serviço de D. Pedro. Em 1820, sen<strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r<br />
das armas <strong>do</strong> Porto, é ele quem força a regência a jurar e a proclamar a Carta. E isto<br />
com grande surpresa para a aristocracia <strong>do</strong> País, pois que nenhum esperava que<br />
um fidalgo saísse em defesa das concessões democráticas. Não podia D. Pedro ter<br />
escolhi<strong>do</strong>, com maior tino, um general. Saldanha seduzia pelo talento e pelas<br />
maneiras. Era solda<strong>do</strong> guapíssimo. Era um homem de raros encantos pessoais. O<br />
retrato que dele nos fez o pitoresco historia<strong>do</strong>r, que venho seguin<strong>do</strong>, é duma justeza<br />
de mestre:<br />
"Saldanha era, então, um homem de quarenta o três anos. Alto, encorpa<strong>do</strong>,<br />
gentil, com umas feições masculamente formosas. Sabia falar aos solda<strong>do</strong>s e às<br />
damas. Tão bem estava no campo de batalha como nas salas de baile. E to<strong>do</strong>s os<br />
seus <strong>do</strong>tes físicos e intelectuais, to<strong>do</strong> o seu prestígio militar, tinha a sobre<strong>do</strong>urá-los o<br />
relance <strong>do</strong> nascimento: era, por sua mãe, um neto <strong>do</strong> grande Pombal. Entrara no<br />
mun<strong>do</strong> pela porta da superioridade. Habituara-se a ser um homem superior em toda<br />
parte. Aos vinte e três anos, comandava já uma brigada. Acostumara-se a mandar e<br />
a ser obedeci<strong>do</strong>. Daqui, e <strong>do</strong> seu sangue quente, muito peninsular, os defeitos das<br />
suas qualidades".<br />
Foi este homem na verdade, quem fez triunfar a causa da rainhazinha<br />
brasileira, Foi esse homem, com a sua varonilidade, com ou seus golpes de capitão<br />
heróico, quem implantou em Portugal a carta constitucional. D. Pedro foi o sonho,<br />
Saldanha foi a ação.<br />
Desde que assumiu o coman<strong>do</strong> das tropas, transfigurou-se, como por<br />
sortilégio, a sorte das armas constitucionais. O seu primeiro encontro com as tropas<br />
miguelistas deu-se entre o Pasteleiro e o Pinhal: Saldanha desbaratou-as num<br />
pronto. Foi a primeira vitória <strong>do</strong>s rebeldes.<br />
Logo após, num movimento temeroso, os miguelistas atacaram toda a linha<br />
esquerda <strong>do</strong> Porto. Saldanha rechaçou-os soberbamente. Rechaçou-os com tanto<br />
brilho que D. Pedro, entusiasmadíssimo, ali mesmo, no próprio campo de batalha,<br />
promove Saldanha a tenente-general.<br />
Os constitucionais tiveram assim o seu segun<strong>do</strong> triunfo. E desde então,<br />
graças a Saldanha, desencadearam-se vitórias sobre vitórias. Aquele homem<br />
tornara-se realmente providencial. Tu<strong>do</strong>, com ele, renasceu. Reverdeceram todas as<br />
alegrias. <strong>As</strong> esperanças todas refloriram. Foi uma rajada de sangue novo!<br />
Os constitucionais, com esses júbilos fortes dentro <strong>do</strong> coração, esperaram o<br />
combate decisivo. Foi no dia 25 de julho. O próprio D. Miguel, em pessoa, viera ao<br />
Minho dirigir a campanha. Aprestou-se tu<strong>do</strong>. Houve grande lufa-lufa. Ia enfim travarse<br />
um combate de morte. E o combate travou-se. Que coisa tremenda! É assim que<br />
no-lo transmitiu o cronista:<br />
"O ataque foi realmente terrível, desespera<strong>do</strong>. "infernal", chama-lhe um<br />
escritor. <strong>As</strong> investidas sucedem-se desde o romper da manhã. Os miguelistas têm<br />
vantagens por momentos; mas são repeli<strong>do</strong>s, esmaga<strong>do</strong>s. Na linha direita, pelo<br />
Bonfim, conseguem penetrar na cidade. A infantaria cede; retira precipitadamente.<br />
Mas Saldanha chega a tempo. Vem da linha esquerda. Aparece por uma inspiração<br />
feliz. Não ten<strong>do</strong> outros recursos de que lançar mão põe-se à frente <strong>do</strong> seu esta<strong>do</strong><br />
maior e, segui<strong>do</strong> por vinte lanceiros carrega, de espada na mão, <strong>do</strong>idamente,<br />
cegamente, sobre o inimigo. Desconcerta-o. <strong>As</strong>susta-o. Varre-o. Triunfa, enfim!<br />
"Os <strong>do</strong>is irmãos, D. Pedro e D. Miguel, assistiam ambos a essa formidável<br />
batalha. D. Pedro, no "forte da Glória", D. Miguel no "forte de S. Gens". Diz-se que<br />
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