As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama
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Os salões <strong>do</strong> Paço fervem. Anda por eles um redemoinho cor-de-rosa. Corde-rosa<br />
em tu<strong>do</strong>! Cor-de-rosa nas flores, cor-de-rosa nos enfeites, cor-de-rosa nas<br />
tapeçarias. Todas as damas vestidas de cor-de-rosa. To<strong>do</strong>s os cavalheiros com a<br />
banda cor-de-rosa a tiracolo.<br />
D. Amélia, ao saltar de bor<strong>do</strong>, trouxera um soberbo vesti<strong>do</strong> cor-de-rosa. Era a<br />
cor da sua paixão. E a Corte, por gentileza, oferecera à Imperatriz um baile cor-derosa.<br />
O próprio D. Pedro, por uma galantaria principesca, criara nesse dia a "Ordem<br />
da Rosa".<br />
O Paço freme. Formigam nele os nomes mais altos <strong>do</strong> Império. Vai um áspero<br />
refulgir de jóias nos decotes e nas orelhas. Lampejam crachás em todas as lapelas.<br />
Súbito, reboa uma trompa. Sousa Lobato, porteiro imperial, anuncia com retumbância:<br />
— Suas Majestades!<br />
D. Pedro e D. Amélia entram. Um par garboso, fascinante. Ele, moreno, <strong>do</strong>is<br />
olhos negríssimos, um desgarre magnificamente varonil. Ela, muito clara, muito<br />
esgalga, um sorriso diáfano nos lábios, o diadema de pedrarias na fronte, vasta<br />
cauda de seda rosa, carregada por oito damas.<br />
To<strong>do</strong>s abrem alas. Os impera<strong>do</strong>res avançam. E no salão, diante da<br />
curiosidade irrequieta <strong>do</strong>s cortesãos, D. Pedro faz um gesto ao guarda-jóias. O<br />
guarda-jóias apresenta a Sua Majestade uma caixa de xaráo, embutida de ouro. O<br />
Impera<strong>do</strong>r abre-a. Retira dela uma insígnia ricamente cravejada de brilhantes<br />
enormes. É a Grã-Cruz da Ordem da Rosa.<br />
D. Pedro, com fina gentileza, passa o mimo às mãos da Imperatriz. E D.<br />
Amélia, <strong>do</strong>cemente, com vence<strong>do</strong>ra cortesanice, ali, diante de to<strong>do</strong>s, dependura a<br />
Grã-Cruz no peito de Barbacena... Caldeira Brant embranquece. E trêmulo e ébrio<br />
de gozo, murmura às tontas:<br />
— Oh! Oh!<br />
A Corte inteira vibra. É uma apoteose. Mas aquilo dura um instante. D. Pedro,<br />
sem tardar, faz um gesto ao mestre-sala. A música rompe. É a quadrilha! Os pares<br />
agitam-se para a velha, a clássica, a queridíssima quadrilha. Tu<strong>do</strong> a postos! D.<br />
Pedro e D. Amélia vão dançar. Os Marqueses de Barbacena têm a honra de ser os<br />
vis-a-vis <strong>do</strong>s soberanos. E o mestre-sala, quan<strong>do</strong> as filas cor-de-rosa se estendem<br />
ao compri<strong>do</strong> <strong>do</strong> salão, grita com entono:<br />
— Attention!<br />
O CHALAÇA<br />
Há um relâmpago de silêncio. E o mestre-sala, alto e solene:<br />
— En avant, tous!<br />
O homem culminante <strong>do</strong> Primeiro Reina<strong>do</strong> não foi José Bonifácio. Também<br />
não foi o Marquês de Barbacena. O homem culminante <strong>do</strong> Primeiro Reina<strong>do</strong> foi o<br />
Chalaça. Ninguém conseguiu no Império, durante aqueles nove anos desordena<strong>do</strong>s,<br />
uma influência tão alta e tão decisiva. D. Pedro teve para com esse grotesco dize<strong>do</strong>r<br />
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