As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama
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www.nead.unama.br<br />
magnífico aprestou-se com pompas régias. Circun<strong>do</strong>u-se dum aparato à<br />
Buckingham. Gastou desordenadamente, como um rajá. E um dia, enfim, cerca<strong>do</strong> de<br />
equipagens brilhantíssimas, sonhan<strong>do</strong> aureolar o seu nome com a mais retumbante<br />
glória mundana, o Embaixa<strong>do</strong>r Extraordinário enfiou as suas berlindas <strong>do</strong>uradas<br />
pela estrada real. E partiu estron<strong>do</strong>samente para Viena.<br />
EM VIENA<br />
A entrada <strong>do</strong> Marquês de Marialva fez época. Ainda não se vira, na Áustria,<br />
embaixada mais luzida e mais ribombante. Nem a de Napoleão Bonaparte, quan<strong>do</strong><br />
mandara buscar Maria Luísa, tivera riquezas tão feéricas. A Corte Imperial, para<br />
corresponder aos atroantes deslumbramentos de Marialva, ataviou-se com luxos<br />
desmedi<strong>do</strong>s. Foi um reboliço, uma loucura, formidáveis requintes de elegância.<br />
É o dia 17 de fevereiro de 1817. Um sol de ouro, estilhaçante. Alegrias<br />
derramadas em tu<strong>do</strong>. Viena esplende de louçanias. O povo coalha as ruas<br />
profusamente embandeiradas. Vai pela multidão um fremir ansioso. To<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> quer<br />
ver o cortejo. De repente, no ar sonoro, retumbam clarins. Rufar de caixas. Estronda no<br />
laje<strong>do</strong> um patear áspero de cavalos. Rompem, de to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s, gritos ávi<strong>do</strong>s:<br />
— É o embaixa<strong>do</strong>r! É o Embaixa<strong>do</strong>r!<br />
É o Embaixa<strong>do</strong>r Extraordinário de Portugal. É Sua Excelência, o Senhor<br />
Marquês de Marialva, que entra espaventosamente em Viena. E o séquito surge.<br />
Que galas! À frente, rompen<strong>do</strong> a marcha, vêm dezessete carruagens. Vêm tiradas a<br />
seis, escudeiro de la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong>, librés acaireladas de ouro. São as carruagens <strong>do</strong>s<br />
príncipes e magnatas da Corte Imperial, comissiona<strong>do</strong>s de receber, além das portas,<br />
a embaixada <strong>do</strong> rei português. Logo após, com uma opulência de embasbacar,<br />
passa o séquito <strong>do</strong> esplendidíssimo fidalgo.<br />
Era de vê-lo! Setenta e sete homens rutilantemente agaloa<strong>do</strong>s. To<strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>s<br />
e pajens. Montam ginetes árabes, muito negros, que trazem arreios de prata e<br />
telizes de velu<strong>do</strong> com largas bordaduras de ouro. Rebrilham por tu<strong>do</strong>, em relevos<br />
fortes, as armas <strong>do</strong>s Marialvas. É fascinante!<br />
Seguem-se, depois, numa clareira, <strong>do</strong>is coches <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s. Faiscam nas<br />
portinholas as armas imperiais da Áustria. Num deles, no coche de gala, senta-se<br />
gloriosamente, olimpicamente, alvo de to<strong>do</strong>s os olhares, o Embaixa<strong>do</strong>r<br />
Extraordinário de D. João VI. Ao la<strong>do</strong> de sua excelência, em nome de Francisco I, o<br />
estribeiro-mor da Casa Imperial. No outro coche, que é mais singelo, vai o Secretário<br />
da Embaixada, apruma<strong>do</strong> e refulgente. Ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Secretário, às ordens dele, um<br />
camarista <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r austríaco. Ao depois, vazias e graves, rodam as berlindas<br />
em que jornadeara o Marquês. Que berlindas! Que riquezas ator<strong>do</strong>antes! Vêm numa<br />
seis cavalos castanhos com arreios de prata. Vêm noutra seis cavalos brancos com<br />
arreios de ouro. Ambas levam um cocheiro, um sota, um moço de estribeira, catorze<br />
cria<strong>do</strong>s a pé. Tu<strong>do</strong> soberbamente equipa<strong>do</strong>!<br />
O povo freme, eletriza<strong>do</strong>. Reboam palmas. Estrondam vivas. É uma<br />
apoteose! Enfim, fechan<strong>do</strong> o séquito incomparável, desfilam as carruagens <strong>do</strong><br />
embaixa<strong>do</strong>r da Espanha, <strong>do</strong> embaixa<strong>do</strong>r da Inglaterra, <strong>do</strong> embaixa<strong>do</strong>r da França.<br />
<strong>As</strong>sim, com essa pompa de príncipe oriental, deslumbran<strong>do</strong>, sob o delírio da<br />
turba, Marialva seguiu até á sede da embaixada portuguesa, onde se alojou.<br />
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