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As Maluquices do Imperador _NOVA_ - Unama

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— O padre Boiret!<br />

— O Chalaça!<br />

www.nead.unama.br<br />

A arraia-miúda ferve. Ninguém <strong>do</strong>rmira nessa noite. Que aconteceu? É que<br />

pela cidade, sacudin<strong>do</strong>-a, estourara a notícia febrentamente esperada: Sua<br />

Majestade, a Imperatriz, sentira as primeiras <strong>do</strong>res... Foi um reboliço! <strong>As</strong> igrejas<br />

abriram-se. Começaram devoções infindáveis. O povo, ao eco da notícia, acudira<br />

num alvoroço bisbilhoteiro. Partiu tu<strong>do</strong>, bulhentamente, numa sôfrega romaria, para<br />

S Cristóvão. <strong>As</strong> cercanias <strong>do</strong> Paço abarrotaram-se. Havia mulheres que rezavam<br />

terços em voz alta. Outras que acendiam velas bentas. E em to<strong>do</strong>s, naquela mescla,<br />

a mesma pergunta ia de boca em boca:<br />

— Um foguete? Três foguetes?<br />

Fora este o sinal convenciona<strong>do</strong>: um foguete, princesa; três foguetes,<br />

príncipe. E discutia-se. E faziam-se apostas. E sempre a mesma tecla, sempre o<br />

mesmo palpitar: um foguete? Três foguetes?<br />

Nisto, dentro <strong>do</strong> Paço, há um férvi<strong>do</strong> corre-corre. Os cortesãos precipitam-se<br />

avidamente em volta dum homem que entra, o vulto <strong>do</strong> Dr. Guimarães Peixoto,<br />

médico imperial. O velho cirurgião carrega nos braços qualquer coisa... E o povo,<br />

espicaça<strong>do</strong>, num anseio:<br />

— Será? Será?<br />

Era! Era a criancinha que nascera... E eis que, chamejan<strong>do</strong>, uma súbita<br />

girân<strong>do</strong>la risca o céu: e um grande estron<strong>do</strong> fura o silêncio estrela<strong>do</strong>. O povo, os<br />

olhos no alto, freme. Será princesa. Um momento de ansiedade... Não! Não era<br />

princesa: nova giran<strong>do</strong>la espouca estrepitosamente no ar. E logo outra, a terceira, a<br />

última, a <strong>do</strong> príncipe herdeiro!<br />

Desencadeia-se pela turba um vendaval frenético. Algazarra bravia, chapéus<br />

no ar, grossa barulheira infernizante. Príncipe! Príncipe! Viva! E em meio a esses<br />

júbilos furiosos, na noite chagada de astros, a fortaleza de Santa Cruz, com um<br />

retumbar solene, dispara majestosamente, um por um, os 101 tiros da salva imperial.<br />

Nascera o herdeiro <strong>do</strong> trono.<br />

D. Pedro, perdi<strong>do</strong> de contentamento, marcou para este mesmo dia a<br />

apresentação <strong>do</strong> príncipe à corte. Céus, que alvoroço!<br />

São três horas. Um dia glorioso, tropical. Tu<strong>do</strong> ri. O Paço faisca. <strong>As</strong> bandeiras<br />

trepidam risonhamente ao sol. Folhagens. Tufos de flores. Galhardetes. Os<br />

arqueiros, com o tope verde e amarelo, perfilam-se ao longo das escadarias. To<strong>do</strong>s<br />

os cria<strong>do</strong>s agaloa<strong>do</strong>s de primeira gala. De instante a instante, estacan<strong>do</strong> com<br />

estrépito, as carruagens despejam nomes retumbantes. Os salões fervem. Risos em<br />

toda boca. Um tom de festa, um magnetismo vivi<strong>do</strong> pelo ar. Ah, um príncipe! E as<br />

damas grulham numa tagarelice vivaz. Num canto, junto à consola de ébano, a<br />

Senhora Marquesa de Aguiar, camareira-mor, está rodeada de emproadíssimas<br />

fidalgas. É a Viscondessa de Paranaguá, é a Baronesa <strong>do</strong>s Goitacases, é a Senhora<br />

Carvalho e Melo, ministra <strong>do</strong>s estrangeiros, é D. Mariana Laurentina da Silva e<br />

Sousa Veloso de Barbuda... E que crivar de perguntas!<br />

* * *<br />

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