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[105]<br />

[2 outubro]<br />

Tannháuser e bonds elétricos. Temos finalmente na terra essas grandes<br />

novidades. O empresário <strong>do</strong> Teatro Lírico fez-nos o favor de dar a famosa ópera de<br />

Wagner, enquanto a Companhia de Botafogo tomou a peito transportar-nos mais<br />

depressa. Cairão de uma vez o burro e Verdi Tu<strong>do</strong> depende das circunstâncias.<br />

Já a esta hora algumas das pessoas que me lêem, sabem o que é a grande<br />

ópera. Nem todas; há sempre um grande número de ouvintes que farão ao grande<br />

maestro a honra de não perceber tu<strong>do</strong> desde logo, e entendê-lo melhor à segunda, e<br />

de vez à terceira ou quarta execução. Mas não faltam ouvi<strong>do</strong>s acostuma<strong>do</strong>s ao seu<br />

oficio, que distinguirão na mesma noite o belo <strong>do</strong> sublime, e o sublime <strong>do</strong> fraco.<br />

Eu, se lá fosse, não ia em jejum. Pegava de algumas opiniões sólidas e<br />

francesas e metia-as na cabeça <strong>com</strong> facilidade; só não me valeria das muletas <strong>do</strong><br />

bom Larousse, se ele não as tivesse em casa; mas havia de tê-las. Cai aqui, cai<br />

acolá, faria uma opinião prévia, e à noite iria ouvir a grande partitura <strong>do</strong> mestre. Um<br />

amigo:<br />

— Afinal temos o Tannhäuser; eu conheço um trecho, que ouvi há tempos...<br />

— Eu não conheço nada, e quer que lhe diga É melhor assim. Faço de conta<br />

que assisto à primeira representação que se deu no mun<strong>do</strong>. Tu<strong>do</strong> novo.<br />

— O que eu ouvi, é soberbo.<br />

— Creio; mas não me diga nada, deixe-me virgem de opiniões, Quero julgar<br />

por mim, mal ou bem...<br />

E iria sentar-me e esperar, um tanto nervoso, irrequieto, sem atinar <strong>com</strong> o<br />

binóculo para a revista <strong>do</strong>s camarotes. Talvez nem levasse binóculo; diria que as<br />

grandes solenidades artísticas devem ser estremes de quaisquer outras<br />

preocupações humanas. A arte é uma religião. O gênio é o sumo sacer<strong>do</strong>te. Em vão,<br />

Amália, posta no camarote, em frente à mãe, lançaria os olhos para mim, assustada<br />

<strong>com</strong> a minha indiferença e perguntan<strong>do</strong> a si mesma que me teria feito. Eu, teso,<br />

espero que as portas <strong>do</strong> templo se abram, que as harmonias <strong>do</strong> céu me chamem<br />

aos pés <strong>do</strong> divino mestre; não sei de Amália não quero saber <strong>do</strong>s seus olhos de<br />

turquesa.<br />

Era assim que eu ouviria o Tannhäuser. Nos intervalos, visita aos camarotes<br />

e crítica. Aquela entrada <strong>do</strong>s fagotes, lembra-se Admirável! Os coros, o duo, os<br />

violinos, oh! o trabalho <strong>do</strong>s violinos que cousa a<strong>do</strong>rável, <strong>com</strong> aquele motivo<br />

obriga<strong>do</strong>: lá, lá, lá tra, lá, lá, lá, tra, lá, lá... Há neste ato inspirações que são, <strong>com</strong><br />

certeza, as maiores <strong>do</strong> século. De resto, os próprios franceses emendaram a mão<br />

dan<strong>do</strong> a Wagner o preito que lhe cabe, <strong>com</strong>o um cria<strong>do</strong>r genial...<br />

As senhoras ouvem-me encantadas; a linda Amália sente-se honrada <strong>com</strong> a<br />

indiferença de há pouco, ven<strong>do</strong> que ela e a arte são o meu culto único.<br />

Ao fun<strong>do</strong>, o pai e um homem de suíças falam da fusão <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Brasil<br />

<strong>com</strong> o da República. O irmão, encosta<strong>do</strong> à divisão <strong>do</strong> camarote, conversa <strong>com</strong> uma<br />

dama vizinha, casada de fresco, ombros magníficos. Que tenho eu <strong>com</strong> ombros,<br />

nem <strong>com</strong> bancos Lá, lá, lá, tra, lá, lá, lá, tra, lá, lá ...<br />

Feitas as despedidas, passaria a outro camarote, para continuar a minha<br />

crítica. Dous homens, sempre ao fun<strong>do</strong>, conversam baixo, um recitan<strong>do</strong> os versos<br />

de Garrett sobre a Guerra das Duas Rosas, o outro esperan<strong>do</strong> a aplicação. A<br />

aplicação é a Câmara Municipal de S. Paulo, que acaba de tomar posse solene, <strong>com</strong><br />

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