Baixe o PDF do Livro! - Mensagens com Amor
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seu. Mas era uma glória britânica; não teve a influência nem a universalidade <strong>do</strong><br />
grande francês.<br />
Renan, <strong>com</strong>o Tennyson, despegou-se da vida no espaço de <strong>do</strong>us telegramas,<br />
algumas horas apenas. Não penso em agonias de Renan. Afigura-se-me que ele<br />
voltou o corpo de um la<strong>do</strong> para outro e fechou os olhos. Mas agonia que fosse, e por<br />
mais longa que haja si<strong>do</strong>, ter-lhe-á custa<strong>do</strong> pouco ou nada o último adeus daquele<br />
grande pensa<strong>do</strong>r, tão pláci<strong>do</strong> para <strong>com</strong> as fatalidades, tão prestes a absolver as<br />
cousas irremissíveis.<br />
Comparan<strong>do</strong> este glorioso desfecho <strong>com</strong> aquele dia em que Renan subiu à<br />
cadeira de professor e soltou as famosas palavras: "Alors, un homme a paru... ",<br />
podemos crer que os homens, <strong>com</strong>o os livros, têm os seus destinos. Recor<strong>do</strong>-me <strong>do</strong><br />
efeito, que foi universal; a audácia produziu escândalo, e a punição foi pronta. O<br />
professor desceu da cadeira para o gabinete. Passaram-se muitos anos, as<br />
instituições políticas tombaram, outras vieram, e o professor morre professor, após<br />
uma obra vasta e luminosa, universalmente aclama<strong>do</strong> <strong>com</strong>o sábio e <strong>com</strong>o artista. Os<br />
seus próprios adversários não lhe negam admiração, e porventura lhe farão justiça.<br />
J'ai tout critiqué (diz ele em um <strong>do</strong>s seus prefácios) et quoi qu'on en dise, y j'ai tout<br />
maintenu. O século que está a chegar, criticará ainda uma vez a crítica, e dirá que o<br />
ilustre exegeta definiu bem a sua ação.<br />
A morte não pode ter apareci<strong>do</strong> a esse magnífico espírito <strong>com</strong> aqueles dentes<br />
sem boca e aqueles furos sem olhos, <strong>com</strong> que os demais peca<strong>do</strong>res a vêem, mas<br />
<strong>com</strong> as feições da vida, coroada de flores simples e graves. Para Renan a vida nem<br />
tinha o defeito da morte. Sabe-se que era desejo seu, se houvesse de tornar à terra,<br />
ter a mesma existência anterior, sem alteração de trâmites nem de dias. Não se<br />
pode confessar mais vivamente a bem-aventurança terrestre. Um poeta daquele<br />
país, o velho Ronsard, para igual hipótese, preferia vir torna<strong>do</strong> em pássaro, a ser<br />
duas vezes homem. Eu (fale-mos um pouco de mim), se não fossem as armadilhas<br />
próprias <strong>do</strong> homem e o uso de matar o tempo matan<strong>do</strong> pássaros, também quisera<br />
regressar pássaro.<br />
Não voltou o pássaro Ronsard, <strong>com</strong>o não voltará o homem Renan. Este irá<br />
para onde estão os grandes <strong>do</strong> século, que <strong>com</strong>eçou em França <strong>com</strong>o o autor de<br />
René, e acaba <strong>com</strong> o da Vida de Jesus, páginas tão características de suas<br />
respectivas datas.<br />
Não faço aqui análises que me não <strong>com</strong>petem, nem cito obras, nem<br />
<strong>com</strong>ponho biografia. O jornalismo desta capital mostrou já o que valia o autor de<br />
tantos e tão a<strong>do</strong>ráveis livros, falou daquele estilo in<strong>com</strong>parável, puro e sóli<strong>do</strong>, feito<br />
de cristal e melodia. Nada disso me cabe. A rigor, nem me cabe cuidar da morte.<br />
Cuidei desta por ser a única nota idílica, entre tanta cousa grave, soturna, trágica ou<br />
simplesmente enfa<strong>do</strong>nha.<br />
Em verdade, que posso eu dizer das cousas pesadas e duras de uma<br />
semana, remendada de códigos e praxistas, a ponto de algarismo e citação<br />
Prisões, que tenho eu <strong>com</strong> elas Processos, que tenho eu <strong>com</strong> eles Não dirijo<br />
<strong>com</strong>panhia alguma, nem anônima, nem pseudônima; não fundei bancos, nem me<br />
disponho a fundá-los, e, de todas as cousas deste mun<strong>do</strong> e <strong>do</strong> outro, a que menos<br />
enten<strong>do</strong>, é o câmbio. Não é que lhe negue o direito de subir; mas tantas lástimas<br />
ouvi pela queda, quantas ouço agora pela ascensão, — não sei se às mesmas<br />
pessoas, mas <strong>com</strong> estes mesmos ouvi<strong>do</strong>s.<br />
Finanças das finanças, são tu<strong>do</strong> finanças. Para onde quer que me volte, <strong>do</strong>u<br />
<strong>com</strong> a incandescente questão <strong>do</strong> dia. Conheço já o vocabulário, mas não sei ainda<br />
todas as idéias a que as palavras correspondem, e, quanto aos fenômenos, basta<br />
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