Baixe o PDF do Livro! - Mensagens com Amor
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Oh! se o nosso veneran<strong>do</strong> latinista me desse uma palavra que, substituin<strong>do</strong><br />
mentira, não fosse inverdade! Creio que esta segunda palavra nasceu no<br />
parlamento, obra de algum ora<strong>do</strong>r indigna<strong>do</strong> e cauteloso, que, não queren<strong>do</strong> ir até a<br />
mentira, achou que inexatidão era frouxa demais. Não nego perfeição à inverdade,<br />
nem eufonia, nem cousa nenhuma. Digo só que me é antipática. A simpatia é o meu<br />
léxico. A razão por que eu nunca explo<strong>do</strong>, nem gosto que os outros explodam, não é<br />
porque este verbo não seja elegante, belo, sonoro, e principalmente necessário; é<br />
porque ele não vai <strong>com</strong> o meu coração. Le coeur a des raisons que la raison ne<br />
connait pas, disse um moralista.<br />
A outra palavra, mentira, essa é simpática, mas faltam-lhe maneiras e anda<br />
sempre grávida de tumultos. Há cerca de quinze dias, em sessão <strong>do</strong> Conselho<br />
Municipal, caiu da boca de um intendente no rosto de outro, e foi uma agitação tal,<br />
que obrigou o presidente a suspender os trabalhos por alguns minutos. Reaberta a<br />
sessão, o presidente pediu aos seus colegas que discutissem <strong>com</strong> a maior<br />
moderação; pedi<strong>do</strong> excessivo, eu contentar-me-ia <strong>com</strong> a menor, era bastante para<br />
não ir tão longe.<br />
De resto, a agitação é sinal de vida e melhor é que o Conselho se agite que<br />
durma. Esta semana o caso da bandeira, que é um <strong>do</strong>s mais graciosos, agitou<br />
bastante a alma municipal. Se o leste, é inútil contar; se o não leste, é difícil. Refirome<br />
à bandeira que apareceu hasteada na sala das sessões <strong>do</strong> Conselho, em dia de<br />
gala, sem se saber o que era nem quem a tinha ali posto. Pelo debate viu-se que a<br />
bandeira era positivista e que um emprega<strong>do</strong> superior a havia hastea<strong>do</strong>, depois de<br />
consentir nisso o presidente. O presidente explicou-se. Um intendente propôs que a<br />
bandeira fosse recolhida ao Museu Nacional, por ser "obra de algum merecimento".<br />
Outro chamou-lhe trapo. O positivismo foi ataca<strong>do</strong>. Crescen<strong>do</strong> o debate, alargou-se<br />
o assunto e as origens da revolução <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul foram achadas no<br />
positivismo, bem <strong>com</strong>o a estátua de Monroe e um episódio <strong>do</strong> asilo de mendicidade.<br />
Se assim é, explica-se o apostola<strong>do</strong> antipositivista, funda<strong>do</strong> esta semana, e<br />
não pode haver maior alegria para o apostola<strong>do</strong> positivista; não se faz guerra a<br />
fantasmas, a não ser no livro de Cervantes. Mas que pensa de tu<strong>do</strong> isto um<br />
habitante <strong>do</strong> planeta Marte, que está espian<strong>do</strong> cá para baixo <strong>com</strong> grandes olhos<br />
irônicos<br />
A bandeira não teve destino, foi a conclusão de tu<strong>do</strong>, e não ser de admirar<br />
que torne a aparecer no primeiro dia de gala, para da lugar a nova discussão —<br />
cousa utilíssima, pois da discussão nasce a verdade. Para mim, a bandeira caiu <strong>do</strong><br />
céu. Sem ela esta página que <strong>com</strong>eçou pedante, acabaria ainda mais pedante.<br />
[149]<br />
[2 dezembro]<br />
Quan<strong>do</strong> me leres, poucas horas terão passa<strong>do</strong> depois da tua volta <strong>do</strong><br />
Cassino. Vieste da festa Alencar, é <strong>do</strong>mingo, não tens de ir aos teu negócios, ou aos<br />
teus passeios, se és mulher, <strong>com</strong>o me pareces. O teus de<strong>do</strong>s não são de homem.<br />
Mas, homem ou mulher, quem quer que sejas tu, se foste ao Cassino, pensa que<br />
fizeste uma boa obra, e se não foste, pensa em Alencar, que é ainda uma obra<br />
excelente Verás em breve erguida a estátua. Uma estátua por alguns livros!<br />
Olha, tens um bom meio de examinar se o homem vale o monumento, etc. É<br />
<strong>do</strong>mingo, lê alguns <strong>do</strong>s tais livros. Ou então, se queres uma boa idéia dele, pega no<br />
livro de Arararipe Júnior, estu<strong>do</strong> imparcial e <strong>com</strong>pleto, publica<strong>do</strong> agora em segunda<br />
edição. Araripe Júnior nasceu para a crítica; sabe ver claro e dizer bem. É o autor de<br />
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