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Baixe o PDF do Livro! - Mensagens com Amor

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Aquela igreja tem uma história interessante. Vês ali na sacristia, entre os<br />

retratos de corretores, um velho Siqueira, calção e meia, sapatos de fivela, cabeleira<br />

postiça, e chapéu de três bicos na mão Foi um <strong>do</strong>s maiores serviçais daquela casa.<br />

Síndico durante trinta e um anos, morreu em 1811, merecen<strong>do</strong> que vá ao fim <strong>do</strong><br />

primeiro século e entre pelo segun<strong>do</strong>. O que mais me interessa nele, é a pia fraude<br />

que empregava para recolher dinheiro e continuar as obras da igreja. Aos que<br />

desanimavam, respondia que contassem <strong>com</strong> algum milagre <strong>do</strong> patriarca. De noite,<br />

ia ele próprio ao adro da igreja, chegava-se à caixa das esmolas e metia-lhe to<strong>do</strong> o<br />

dinheiro que levava, de maneira que, aos sába<strong>do</strong>s, aberta a caixa, davam <strong>com</strong> ela<br />

pejada <strong>do</strong> necessário para saldar as dívidas. As rondas seriam poucas, a iluminação<br />

escassa, fazia-se o milagre e <strong>com</strong> ele a igreja. Não digo que os Siqueiras<br />

morressem, mas, ten<strong>do</strong> cresci<strong>do</strong> a polícia e paralelamente a virtude, o dinheiro é<br />

da<strong>do</strong> diretamente às corporações, e dali a notícia às folhas públicas.<br />

Não faltará quem pergunte <strong>com</strong>o é que tal milagre, feito às escondidas, veio a<br />

saber-se tão miudamente que anda em livros. Não sei responder, provavelmente<br />

houve espiões, se é que o amor da contabilidade exata não levou o velho Siqueira a<br />

inscrever em cadernos os <strong>do</strong>nativos que fazia. Há outro costume dele que justifica<br />

esta minha suposição. Siqueira possuía navios; simulava (sempre a simulação!) ter<br />

neles um marinheiro chama<strong>do</strong> Francisco de Paula, e pagava à igreja o ordena<strong>do</strong><br />

correspondente. O <strong>do</strong>nativo era assim ostensivo por amor da contabilidade.<br />

A contabilidade podia trazer-me a cousas mais modernas, se me sobrasse<br />

tempo; mas o tempo é quase nenhum. Resta-me o preciso para dizer que também<br />

fez o seu aniversário, esta semana, a inauguração <strong>do</strong> Panorama <strong>do</strong> Rio de Janeiro,<br />

na Praça Quinze de Novembro. Foi em 1891, há apenas cinco anos, mas os<br />

centenários não são blocos inteiros, fazem-se de pedaços. As pirâmides tiveram o<br />

mesmo processo. A arte não nasceu toda nem junta. O Panorama resistiu, notai<br />

bem, às balas da revolta. Certa casa próxima, onde eu ia por obrigação, foi mais<br />

uma vez marcada por elas, na própria sala em que me achei, caíram duas. Conservo<br />

ainda, ao pé de algumas relíquias romanas, uma que lá caiu na segunda-feira 2 de<br />

outubro de 1893. o Panorama <strong>do</strong> Rio de Janeiro não recebeu nenhuma, ou resistiulhes<br />

por um prodígio só explicável à vista <strong>do</strong>s fins artísticos da construção. Que as<br />

paixões políticas lutem entre si, mas respeitem as artes. anda nas suas aparências.<br />

Adeus. O sol arde, as cigarras cantam, um cão late, passam um bond.<br />

Consolemo-nos <strong>com</strong> a idéia de que um dia, de to<strong>do</strong>s estes fenômenos, —nem o sol<br />

existirá. É banal, mas o calor não dá idéias I novas. Adeus.<br />

[178]<br />

[19 janeiro]<br />

Se não fosse o receio de cair no desagra<strong>do</strong> das senhoras, dava-lhes um<br />

conselho. O conselho não é casto, não é sequer respeitoso, mas econômico, e por<br />

estes tempos de mais necessidade que dinheiro a economia é a primeira das<br />

virtudes.<br />

Vá lá o conselho. Sempre haverá algumas que me per<strong>do</strong>em. A poesia<br />

brasileira, que os poetas andaram buscan<strong>do</strong> na vida cabocla, não deixan<strong>do</strong> mais<br />

que os versos bons e maus, isto nos dai agora, senhoras minhas. Fora <strong>com</strong> obras de<br />

modistas; mandai tecer a simples araçóia, feita de finas plumas, atai-a à cintura e<br />

vinde passear cá fora. Podeis trazer um colar de cocos, um cocar de penas e mais<br />

nada. Escusai leques, luvas, rendas, brincos, chapéus, tafularia inútil e custosíssima.<br />

A dúvida única é o calça<strong>do</strong>. Não podeis ferir nem macular os pés acostuma<strong>do</strong>s à<br />

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