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Baixe o PDF do Livro! - Mensagens com Amor

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<strong>com</strong>parar, retificar, excluir, incluir, concluir. To<strong>do</strong> esse trabalho é inútil, se não trocar<br />

o nome por outro. Messalina, por exemplo. Esta imperatriz chegou à celebridade <strong>do</strong><br />

substantivo, que é a maior a que pode aspirar uma criatura real ou fingida: uma<br />

messalina, um tartufo. Se quiserdes tirá-la da lama histórica, em que ela caiu, não<br />

vos bastará esgravatar o que disseram dela os autores; arranca-lhe violentamente o<br />

nome. Chama-lhe Anastácia. Quereis fazer uma experiência Pegai em Suetônio e<br />

lede <strong>com</strong> o nome de Anastácia tu<strong>do</strong> o que ele se refere de Messalina; é outra cousa.<br />

O asco diminui, o horror afrouxa, o escândalo desaparece; e a figura emerge, não<br />

digo para o céu, mas para uma colina. Em história, o ocupar uma colina é alguma<br />

cousa. Gregorovius, <strong>com</strong>o outros autores deste século, quis reabilitar Lucrécia<br />

Bórgia; acho que o fez, mas esqueceu-se de lhe mudar o nome, e toda gente<br />

continua a des<strong>com</strong>pô-lo em prosa <strong>com</strong> Vítor Hugo, ou em verso e por música <strong>com</strong><br />

Donizetti.<br />

Voltan<strong>do</strong> aos <strong>com</strong>issários de higiene, futuros inspetores sanitários, repito que<br />

o serviço melhorará muito <strong>com</strong> essa alteração <strong>do</strong> título, e não é pouco. Mas é<br />

preciso que, sem dizê-lo na lei, nem no parecer, nem nos debates, fiquem to<strong>do</strong>s<br />

<strong>com</strong>bina<strong>do</strong>s em alterar periodicamente o título, desde que o serviço precise reforma.<br />

Não me <strong>com</strong>pete lembrar outros, nem me ocorre nenhum. Digo só que, passa<strong>do</strong>s<br />

mais quatro ou cinco títulos, não será má política voltar ao primeiro. Os nomes têm,<br />

às vezes, a propriedade de criar pele nova, só <strong>com</strong> o desuso ou descanso.<br />

Comissário de higiene, que vai ser descalça<strong>do</strong> agora, desde que repouse alguns<br />

anos, ficará <strong>com</strong> sola nova e tacão direito. Assim acontecesse aos meus sapatos!<br />

[136]<br />

[8 abril]<br />

Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma cousa tão interessante,<br />

que determinei logo de <strong>com</strong>eçar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de<br />

pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que<br />

lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve-me a impertinência; os gostos não<br />

são iguais.<br />

Entre a grade <strong>do</strong> jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o<br />

antigo passadiço, ao pé <strong>do</strong>s trilhos de bonds, estava uni burro deita<strong>do</strong>. O lugar não<br />

era próprio para remanso de burros, <strong>do</strong>nde concluí que não estaria deita<strong>do</strong>, mas<br />

caí<strong>do</strong>. Instantes depois, vimos (eu ia <strong>com</strong> um amigo), vimos o burro levantar a<br />

cabeça e meio corpo. Os nossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos<br />

fechavam-se de quan<strong>do</strong> em quan<strong>do</strong>. O infeliz cabeceava, mas tão frouxamente, que<br />

parecia estar próximo <strong>do</strong> fim.<br />

Diante <strong>do</strong> animal havia algum capim espalha<strong>do</strong> e uma lata <strong>com</strong> água. Logo,<br />

não foi aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> inteiramente; alguma piedade houve no <strong>do</strong>no ou quem quer que<br />

é que o deixou na praça, <strong>com</strong> essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se<br />

o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta. receba daqui um aperto de<br />

mão. O burro não <strong>com</strong>eu <strong>do</strong> capim, nem bebeu da água; estava para outros capins e<br />

outras águas, em campos mais largos e eternos.<br />

Meia dúzia de curiosos tinham para<strong>do</strong> ao pé <strong>do</strong> animal. Um deles, menino de<br />

dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar <strong>com</strong> ela na anca<br />

<strong>do</strong> burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava<br />

<strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong> pescoço, mas justamente <strong>do</strong> la<strong>do</strong> da anca. Diga-se a verdade; não o fez<br />

— ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos. Esses poucos minutos,<br />

porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na terra, valerão por um século,<br />

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