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Baixe o PDF do Livro! - Mensagens com Amor

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palavra é paternalismo e foi empregada para definir o sistema <strong>do</strong>s que querem fazer<br />

<strong>do</strong> governo um pai. Cleveland condena fortemente esse sistema, mas ele nada pode<br />

contra a natureza. O Esta<strong>do</strong> não é mais que uma grande família, cujo chefe deve ser<br />

pai de to<strong>do</strong>s.<br />

Alivia<strong>do</strong> <strong>com</strong>o fiquei <strong>do</strong> conflito, abri novamente o último livro de Luís Murat e<br />

pus-me a reler os versos <strong>do</strong> poeta. Deus meu, aqui não há estradas nem <strong>com</strong>pras,<br />

aqui ninguém deve um real a nenhum banco, a não ser o banco de Apolo: mas este<br />

banco empresta para receber em rimas, e o poeta pagou-lhe capital e juros. Posto<br />

que ainda moço, Luís Murat tem nome feito, nome e renome mereci<strong>do</strong>. Os versos<br />

deste segun<strong>do</strong> volume das Ondas já foi nota<strong>do</strong> que desdizem <strong>do</strong> prefácio; mas não<br />

é defeito <strong>do</strong>s versos, senão <strong>do</strong> prefácio. Os versos respiram vida íntima, amor e<br />

melancolia, as próprias páginas da Tristeza <strong>do</strong> Caos, por mais que queiram, a<br />

princípio, ficar na nota Impessoal, acabam no pessoal puro e na desesperança.<br />

O poeta tem largo fôlego. Os versos são, às vezes menos castiga<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que<br />

cumpria, mas é essa mesma a ín<strong>do</strong>le <strong>do</strong> poeta, que Lhe não permite senão produzir<br />

<strong>com</strong>o a natureza: os passantes que colham as belas flores entre as ramagens que<br />

não têm a mesma igualdade e correção. Luís Murat cultiva a antítese de Hugo <strong>com</strong>o<br />

Guerra Junqueiro; eu pedir-lhe-ia moderação, posto reconheça que a sabe empregar<br />

<strong>com</strong> arte. Por fim, aqui Lhe deixo as minhas palavras; é o que pode fazer a crônica<br />

destes dias.<br />

[180]<br />

[2 março]<br />

Se to<strong>do</strong>s quantos empunham uma pena, não estão a esta hora toman<strong>do</strong><br />

notas e coligin<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentos sobre a história desta cidade não sabem o que são<br />

cinqüenta contos de réis. Uma lei municipal votada esta semana, destina "ao<br />

historia<strong>do</strong>r que escrever a história <strong>com</strong>pleta <strong>do</strong> Distrito Federal desde os tempos<br />

coloniais até a presente época", aquela valiosa quantia. O prazo para <strong>com</strong>por a obra<br />

é de cinco anos. O julgamento será confia<strong>do</strong> a pessoas <strong>com</strong>petentes a juízo <strong>do</strong><br />

prefeito.<br />

Não serei eu que maldiga de um ato que põe em relevo o amor da cidade e o<br />

apreço das letras. Os historia<strong>do</strong>res não andam tão fartos, que desdenhem <strong>do</strong>s<br />

proveitos que ora Lhes oferecem, nem os legisla<strong>do</strong>res são tão generosos, que Lhes<br />

dêem to<strong>do</strong>s os dias um prêmio deste vulto. Se todas as capitais da República e<br />

algumas cidades ricas concederem igual quantia a quem Lhes escrever as<br />

memórias, e se o Congresso Federal fizer a mesma cousa em relação ao Brasil, mas<br />

por preço naturalmente maior,—digamos quinhentos contos de réis, —a profissão de<br />

historia<strong>do</strong>r vai primar sobre muitas outras deste país.<br />

Há só <strong>do</strong>us pontos em que a recente lei me parece defeituosa. O primeiro e o<br />

prazo de cinco anos, que acho longo, em vista <strong>do</strong> preço. Quan<strong>do</strong> um homem se põe<br />

a escrever uma história, sem estar <strong>com</strong> o olho no dinheiro, mas por simples amor da<br />

verdade e <strong>do</strong> estilo, é natural que despenda cinco anos ou mais no trabalho; mas<br />

cinqüenta contos de réis excluem qualquer outro ofício, mal dão seis horas de sono<br />

por dia, de maneira que, em <strong>do</strong>us anos, está a obra, acabada e copiada. Muito antes<br />

<strong>do</strong> fim <strong>do</strong> século podem ter os cariocas a sua história pronta, substituin<strong>do</strong> as<br />

memórias <strong>do</strong> Padre Perereca e outras.<br />

O segun<strong>do</strong> ponto que me parece defeituoso na lei, é que a <strong>com</strong>petência das<br />

pessoas que houverem de julgar a obra, dependa <strong>do</strong> juízo <strong>do</strong> prefeito. Nós não<br />

sabemos quem será o prefeito daqui a cinco anos, pode ser um droguista, e há duas<br />

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