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[196]<br />

[11 outubro]<br />

Czarina, se estas linhas chegarem às tuas mãos, não faças <strong>com</strong>o Vítor Hugo,<br />

que, receben<strong>do</strong> um folheto de Lisboa, respondeu ao autor: Não sei português, mas<br />

<strong>com</strong> o auxílio <strong>do</strong> latim e <strong>do</strong> espanhol, vou len<strong>do</strong> o vosso livro.." Não, nem peço que<br />

me respondas. Manda traduzi-las na língua de Gógol, que dizem ser tão rica e tão<br />

sonora, e em seguida lê. Verás que o beijo que te depositou na mão, em Cherburgo,<br />

o presidente da República Francesa, foi aqui objeto de algum debate.<br />

Uns acharam que, para republicano, o ato foi vilania; outros que, para francês,<br />

foi galantaria. Uma princesa! Uma senhora! E daí uma conversação longa em que se<br />

disseram cousas agressivas e defensivas. Eu, pouco da<strong>do</strong> a rusgas, limitei-me a<br />

pensar <strong>com</strong>igo que a galantaria não deve ficar sen<strong>do</strong> um costume somente das<br />

cortes. A democracia pode muito bem a<strong>com</strong>odar-se <strong>com</strong> a graça; nem consta que<br />

Lafayette, marquês <strong>do</strong> antigo regímen, tivesse deita<strong>do</strong> a cortesia ao mar quan<strong>do</strong> foi<br />

colaborar <strong>com</strong> Washington.<br />

Olha, czarina, houve tempo em que nessa mesma França, cujo chefe te<br />

beijou agora a mão, se fazia grande cabedal de tratar por tu aos outros, para<br />

continuar Robespierre e os seus terríveis <strong>com</strong>panheiros. Então um poeta falou em<br />

verso, <strong>com</strong>o é uso deles, e concluiu por este, que faz casar a política e as maneiras:<br />

Appellons-nous MONSIEUR et soyons CITOYEN. Nós, para não ir mais longe,<br />

fizemos a república, sem deportar a excelência das câmaras. Era costume antigo,<br />

não <strong>do</strong> regímen deposto, mas da sociedade. A excelência veio da mãe-pátria, onde<br />

parece que se generalizou ainda mais, não se tratan<strong>do</strong> lá ninguém por outra<br />

maneira. Aqui, quan<strong>do</strong> ainda não há familiaridade bastante para o tu e o você, e já a<br />

excelência é demasia<strong>do</strong> cerimoniosa, ficamos no senhor é um mo<strong>do</strong> indireto; em<br />

Portugal, nos casos, aperta<strong>do</strong>s, empregam o amigo, que é ainda indireto. Tu<strong>do</strong> para<br />

fugir aos vós <strong>do</strong>s nossos maiores, e que entre nós é a fórmula oficial da<br />

correspondência escrita. Em verdade, se o regimento das nossas câmaras tivesse<br />

obriga<strong>do</strong> o tratamento de vós na tribuna, <strong>com</strong>o na correspondência oficial, antes de<br />

infringirmos o regimento, teríamos infringi<strong>do</strong> a gramática. É duro de meter na oração<br />

a flexão vos <strong>do</strong> pronome. Tenho visto casos em que a pessoa para desfazer-se logo<br />

dela. <strong>com</strong>eça por ela: Vos declaro, Vos <strong>com</strong>unico. Vos peço, Nem é por outra razão,<br />

czarina, que eu te trato por tu, <strong>com</strong>o se faz em poesia.<br />

Voltan<strong>do</strong> ao beijo, admito que há cousas que só podem ser bem entendidas<br />

no próprio lugar. Julgadas de longe levam muita vez ao erro. Tu, por exemplo, se<br />

lesses a moção da Câmara Municipal <strong>do</strong> Rio Claro, S. Paulo, protestan<strong>do</strong> contra o<br />

presidente <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, que não a recebeu quan<strong>do</strong> ela ali foi ver a mãe enferma, pode<br />

se: que a entendesses mal. A moção aceitou o ato <strong>com</strong>o uma injúria ofensiva e<br />

direta ao município, ao povo, a to<strong>do</strong> o parti<strong>do</strong> republicano, e man<strong>do</strong>u publicar o<br />

protesto e <strong>com</strong>unicá-lo por cópia a todas as câmaras municipais <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, ao<br />

presidente da República, aos presidentes <strong>do</strong>s congressos federal e estadual e ao<br />

diretório central <strong>do</strong> parti<strong>do</strong>.<br />

Aparentemente é uma tempestade num copo d'água; mas a moção alega que<br />

há da parte <strong>do</strong> presidente contra o município sentimento de hostilidade já muitas<br />

vezes manifesta<strong>do</strong>. Assim sen<strong>do</strong>, explica-se a recusa <strong>do</strong> presidente em recebê-la,<br />

mas não se explica o ato da Câmara em visitá-lo. Não se devem fazer visitas a<br />

desafetos; o menos que acontece é não achá-los em casa. Quan<strong>do</strong>, porém, a<br />

Câmara, esquecen<strong>do</strong> ressentimentos legítimos, quisesse levar o ramo de oliveira ao<br />

chefe <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, em benefício <strong>com</strong>um, se esse não aceitasse as pazes, o melhor<br />

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