João LuÃs Nabo - Index of - Universidade de Évora
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Ellis não enten<strong>de</strong>m. Por isso, não conseguem livrar-se do que as atormenta naquele mundo on<strong>de</strong> tudo é<br />
excessivo. Como nota Young, “the priviledged are more priviledged, the rich richer.” 471 A <strong>de</strong>cadência<br />
atinge níveis <strong>de</strong> tal forma exagerados que ser-se <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte se transforma num i<strong>de</strong>al ou numa tendência<br />
da moda. Os jovens <strong>de</strong>sta geração são filhos dos rock stars e dos produtores <strong>de</strong> cinema dos anos 60 e,<br />
por esse motivo, as drogas e o sexo livre fazem parte do seu património cultural e, quase diríamos,<br />
genético. Apesar <strong>de</strong> livres dos compromissos político-humanistas dos anos 60, são viciados em<br />
televisão e em drogas, continuando a viver, na perspectiva <strong>de</strong> Elizabeth Young, a vida <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte que<br />
os seus pais lhe legaram. Contudo, estes “Ellis’s ficcional children” 472 não experienciaram as<br />
alterações culturais, sociais e políticas do final dos anos 60 e princípios dos anos 70, sendo a era pós-<br />
mo<strong>de</strong>rna a única que conhecem. Como conclui Young, “They have inherited its treacherous freedoms<br />
without dialectics.” 473<br />
Esta crítica refere também que o medo é um dos pontos-chave do livro, apresentado como um<br />
sentimento difícil <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir, por ser um medo sem forma concreta, amorfo, “fed by ominous portents<br />
and rumours” 474 , alimentado pelos paradoxos que os jovens não enten<strong>de</strong>m, nem querem enten<strong>de</strong>r, pela<br />
vida fácil mas que, em contradição, se torna difícil <strong>de</strong> gerir. O medo, ligado ao Gótico, está presente<br />
no livro na primeira frase do texto, quando Clay diz: “People are afraid to merge.” 475 Esta insegurança<br />
é objectivada no vento que faz abanar as palmeiras paradisíacas, nos coiotes que uivam, nos cães que<br />
ladram, manifestando um <strong>de</strong>sconforto permanente que atravessa toda a obra, provocado pela morte,<br />
pela alienação e pelo <strong>de</strong>sespero. As personagens, para além <strong>de</strong> idênticas nos seus comportamentos e na<br />
ausência <strong>de</strong> ambições, transformam-se em meros números (Elizabeth Young chama-lhes characterless<br />
ciphers e passive consumers 476 ) e, como <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser pessoas, são cada vez mais “interchangeable”,<br />
tal como virá a acontecer em American Psycho. Neste romance, Bateman vai apresentar-se como um<br />
vilão estilizado, uma metáfora para a socieda<strong>de</strong> americana <strong>de</strong> finais dos anos 80, e uma crítica feroz ao<br />
consumismo, à cultura yuppie, à ganância e aos serial killers. Ainda em Less Than Zero, a quantida<strong>de</strong><br />
exagerada <strong>de</strong> informação, gente, produtos, tempo e dinheiro leva as personagens ao <strong>de</strong>sespero, porque<br />
há, como refere Braudrillard, uma “orgy <strong>of</strong> indifference, disconnection, exhibition and circulation.” 477<br />
Existe, assim, um caos <strong>de</strong> sinais e <strong>de</strong> imagens que dificultam uma leitura da socieda<strong>de</strong>, que se<br />
pretendia correcta e que não é possível ler <strong>de</strong>ssa forma, porque as personagens não têm capacida<strong>de</strong><br />
para distinguir entre o que é real e o que é aparente. Ellis sugere neste primeiro romance o que vai<br />
<strong>de</strong>pois continuar a mostrar em The Rules <strong>of</strong> Attraction e, posteriormente, em American Psycho: o<br />
471 Elizabeth Young, “Vacant Possession”. In Shopping in Space, p. 25.<br />
472 Ibi<strong>de</strong>m, p. 34.<br />
473 Ibi<strong>de</strong>m.<br />
474 Elizabeth Young, “Vacant Possession”. In Shopping in Space, p. 27.<br />
475 Bret Easton Ellis, Less than Zero, p. 1.<br />
476 Elizabeth Young, “Vacant Possession”. In Shopping in Space, p. 30, p. 33.<br />
477 Apud Elizabeth Young, “Vacant Possession”. In Shopping in Space, p. 30<br />
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