João LuÃs Nabo - Index of - Universidade de Évora
João LuÃs Nabo - Index of - Universidade de Évora
João LuÃs Nabo - Index of - Universidade de Évora
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
3.3.2. O Duplo em Dois Contos <strong>de</strong> Edgar Allan Poe:<br />
“The Imp <strong>of</strong> the Perverse” e “William Wilson”<br />
LET ME CALL MYSELF, FOR the present, William Wilson.<br />
The fair page now lying before me need not be sullied with my<br />
real appellation. 332<br />
Edgar Allan Poe, “William Wilson”<br />
A questão do Duplo ligado à auto-reflexivida<strong>de</strong> autoral, tema central <strong>de</strong>sta dissertação, começa<br />
por estar presente na obra <strong>de</strong> Edgar Allan Poe, para se esten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>pois a escritores <strong>de</strong> outras gerações.<br />
Bret Easton Ellis viria a escrever romances sobre personagens fragmentadas, revelando um enorme<br />
interesse, na tradição <strong>de</strong> Poe, pela duplicida<strong>de</strong> da natureza humana. Neste subcapítulo propomo-nos<br />
analisar duas histórias <strong>de</strong> Poe, “The Imp <strong>of</strong> the Perverse” e “William Wilson”, por três razões<br />
fundamentais: contêm em si as bases nas quais se alicerça a obra do escritor em referência; são um<br />
importante contributo para o género Gótico Norte-Americano; e tornam-se um ponto essencial <strong>de</strong><br />
ligação com as teorias sobre o conceito do Duplo, como iremos <strong>de</strong>monstrar a seguir.<br />
Comecemos por uma breve passagem pelo conto “The Imp <strong>of</strong> the Perverse”, no qual é<br />
apresentada a questão do Outro sem que Poe tenha criado duas personagens fisicamente separadas<br />
para ilustrar a perversida<strong>de</strong> da natureza humana, contida na sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se duplicar. Neste<br />
verda<strong>de</strong>iro tratado <strong>de</strong> Poe sobre a teoria da perversão, o protagonista é a principal ameaça a si próprio,<br />
<strong>de</strong>vido à ambivalência dos seus <strong>de</strong>sejos e à falta <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> para refrear os impulsos que o lançam na<br />
concretização das intenções mais perversas. Há, assim, um impulso irracional, sem nada que o motive,<br />
que o conduz à auto<strong>de</strong>struição. O protagonista-narrador comporta dois seres num só: aquele que quer<br />
dar o passo em direcção ao abismo, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> jamais po<strong>de</strong>rá regressar, e o outro que sabe da gravida<strong>de</strong> e<br />
das consequências <strong>de</strong>sse gesto, mas que nada faz para impedir a outra parte <strong>de</strong> avançar. Como refere<br />
Maria Antónia Lima, em “Perversity as one <strong>of</strong> the Fine Arts: creative acts <strong>of</strong> <strong>de</strong>struction in some<br />
332 Edgar Allan Poe, “William Wilson”. In The Complete Illustrated Works <strong>of</strong> Edgar Allan Poe, p. 34.<br />
80