João LuÃs Nabo - Index of - Universidade de Évora
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‘My worry is that people will want to know<br />
what’s true and what’s not’, he said recently.<br />
‘All these things that are in the book – my<br />
quote-unquote autobiography – I just don’t<br />
want to answer any <strong>of</strong> those questions. I don’t<br />
like <strong>de</strong>mystifying the text.’ 703<br />
Bret Easton Ellis, cit. por Edward Wyatt<br />
A primeira questão a ser colocada é o motivo pelo qual o escritor cria uma personagem com o<br />
seu nome, a sua pr<strong>of</strong>issão, a sua vida e um passado quase coinci<strong>de</strong>ntes. Uma das razões centra-se na<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar mecanismos que permitam entrar num processo <strong>de</strong> transgressão, sem assumir a<br />
responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse excesso. A escrita é um <strong>de</strong>sses mecanismos, ao permitir a criação <strong>de</strong> um Eu<br />
que assume a responsabilida<strong>de</strong> dos seus actos, sem que o criador tenha <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r por eles. Essa<br />
perversida<strong>de</strong> do escritor é, por si, uma atitu<strong>de</strong> transgressiva, prática comum aos escritores do género<br />
Gótico, cujos impulsos, paradoxalmente criativos e <strong>de</strong>struidores, os levam a utilizar o processador <strong>de</strong><br />
texto para cometer “crimes <strong>of</strong> imaginative transgression” 704 . Para além disso, quando o escritor<br />
constrói um universo paralelo, o objectivo é procurar respostas às suas dúvidas, partilhá-las com os<br />
leitores, <strong>de</strong>socultar o que, por motivos vários, ficou escondido e que, a <strong>de</strong>terminada altura, necessitou<br />
<strong>de</strong> ser revelado, atitu<strong>de</strong> que Stephen King classificou como “a Freudian exorcism” 705 . Esta acepção<br />
vem ao encontro do pensamento <strong>de</strong> Bret Easton Ellis e do que diz ser um dos principais objectivos da<br />
sua escrita: “You do not write a novel for praise, or thinking <strong>of</strong> your audience. You write for yourself;<br />
you work out between you and your pen the things that intrigue you.” 706 Ao manifestar esta vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scodificar para si próprio o que o perturba, Ellis entra em perfeito diálogo com Dostoiévski que, em<br />
Notes from Un<strong>de</strong>rground, nos revela as qualida<strong>de</strong>s exorcizantes da escrita: “There’s something<br />
impressive about the written word; it is more conductive to self-examination, and my confession will<br />
have more style. It is possible, too, that the very process <strong>of</strong> writing things down will relieve me<br />
somewhat. Today, for instance, I’m particularly oppressed by an old memory.” 707<br />
As memórias do escritor tornam Lunar Park, mais do que os romances anteriores, um<br />
mecanismo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scodificação do seu passado pessoal e familiar, bem como uma reflexão sobre<br />
American Psycho, texto escrito anteriormente ao presente romance. Ao contrário do narrador <strong>de</strong><br />
703<br />
Apud Edward Wyatt, “The Man in the Mirror” (07/08/05), acedido em 18/05/08, em:<br />
http://www.nytimes.com/2005/08/07/arts/07wyat.html.<br />
704<br />
Maria Antónia Lima, “Perversity as one <strong>of</strong> the Fine Arts: creative acts <strong>of</strong> <strong>de</strong>struction in some gothic novels”, (Nov.<br />
2005).<br />
705 Stephen King, “The Playboy Interview”. In The Stephen King Companion, p. 36.<br />
706<br />
Apud Roger Cohen, “Bret Easton Ellis Answers Critics <strong>of</strong> 'American Psycho'” (06/03/1991), acedido em 13/05/08,<br />
em: http://query.nytimes.com/gst/fullpage.html.<br />
707 Fyodor Dostoyevsky, Notes from Un<strong>de</strong>rground, p. 116.<br />
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