João LuÃs Nabo - Index of - Universidade de Évora
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A utilização <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados tipos <strong>de</strong> roupas, marcas e produtos na construção da sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
yuppie acaba por provar que essa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> não existe em termos individuais. Todos apresentam o<br />
mesmo aspecto, o mesmo vestuário, frequentam os mesmos ginásios, os mesmos bares e restaurantes.<br />
Como observa Bateman, “the Chan<strong>de</strong>lier room is packed and everyone looks familiar, everyone looks<br />
the same.” 626 Ao longo do romance é frequente a confusão que os nomes geram, levando a que sejam<br />
atribuídos a pessoas erradas:<br />
Owen has mistaken me for Marcus Halberstam (…) but for some reason it really doesn’t<br />
matter and it seems a logical faux pas since Marcus works at P & P also, in fact does the<br />
same exact thing I do, and he also has a penchant for Valentino suits and clear prescription<br />
glasses and we share the same barber at the same place, Pierre Hotel. 627<br />
Patrick Bateman recebe vários nomes no <strong>de</strong>correr da narrativa: Marcus, McDonald, Ted Owen, Saul.<br />
Por vezes, exibe-se como Paul Owen, como George Hamilton, da classe <strong>de</strong> 84 628 , ou como Schrawt 629 .<br />
Afirma ainda ser médico, no episódio da morte da criança no Zoo 630 e também Chris Hagen. 631 Como<br />
referiu: “I think a lot <strong>of</strong> snowflakes are alike… and I think a lot <strong>of</strong> people are alike too.” 632 E conclui:<br />
“Everyone is interchangeable anyway.” 633 As roupas iguais servem para escon<strong>de</strong>r o niilismo presente<br />
em cada personagem, e em Bateman <strong>de</strong> forma particular, dando origem a uma <strong>de</strong>spersonalização em<br />
contraste com os nomes dos criadores das roupas que usam: Ralph Lauren, Calvin Klein, Giorgio<br />
Armani, Brooks Brothers, Joseph Abboud, Christian Lacroix, entre muitos outros. Ao consi<strong>de</strong>rarmos<br />
as personagens <strong>de</strong> American Psycho Duplos umas das outras, <strong>de</strong>stacamos a negação da<br />
individualida<strong>de</strong> e o culto não da multiplicida<strong>de</strong>, mas da multiplicação e imitação <strong>de</strong> gostos, atitu<strong>de</strong>s e<br />
formas <strong>de</strong> viver. Este multiplicar <strong>de</strong> Batemans, num <strong>de</strong>sdobramento quase infinito <strong>de</strong> imagens, permite<br />
que o romance seja entendido como uma <strong>de</strong>scrição exaustiva e repetitiva <strong>de</strong> elementos e características<br />
<strong>de</strong> uma cultura <strong>de</strong> negação e <strong>de</strong> uma existência niilista e vazia. Bateman, na sua personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
yuppie, apercebe-se <strong>de</strong>ssa questão várias vezes e admite a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar um<br />
comportamento homicida em gran<strong>de</strong> escala, afirmando: “But I … have no other way to express my<br />
blocked… needs.” 634<br />
Um verda<strong>de</strong>iro yuppie não experiencia as amarguras e as frustrações que Bateman é obrigado a<br />
atravessar, quando confrontado com situações <strong>de</strong> insucesso. As suas necessida<strong>de</strong>s bloqueadas<br />
obrigam-no a transformar-se num po<strong>de</strong>roso e implacável serial killer, antecedidas, tal como na<br />
626 Bret Easton Ellis, American Psycho, p. 61.<br />
627 Ibi<strong>de</strong>m, p. 89.<br />
628 Ibi<strong>de</strong>m, p. 236.<br />
629 Ibi<strong>de</strong>m, p. 260.<br />
630 Ibi<strong>de</strong>m, p. 299.<br />
631 Ibi<strong>de</strong>m, p. 390.<br />
632 Ibi<strong>de</strong>m, p. 378.<br />
633 Ibi<strong>de</strong>m, p. 379.<br />
634 Ibi<strong>de</strong>m, p. 338.<br />
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