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João Luís Nabo - Index of - Universidade de Évora

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“William Wilson” <strong>de</strong> Poe, que, por motivos <strong>de</strong> vergonha e temor, se escon<strong>de</strong> por <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> um nome<br />

falso, Ellis proce<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma totalmente oposta, atribuindo o seu próprio nome à personagem principal<br />

<strong>de</strong> Lunar Park, que assume estar a viver uma pr<strong>of</strong>unda crise <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> 708 . O autor revela, numa<br />

entrevista, que o plot <strong>de</strong> Lunar Park tinha sido concebido inicialmente sem a existência <strong>de</strong> um Bret<br />

Easton Ellis como narrador. Foi o seu second self 709 que o alertou para essa possibilida<strong>de</strong>:<br />

I was stuck in the summer <strong>of</strong> 2000. I don’t know why I was stuck and the little writer I have<br />

in my head, who is very reckless and impulsive says, ‘Make him Bret Easton Ellis. Make<br />

him Bret Easton Ellis. You are basically <strong>de</strong>aling with so much personal stuff in this book, go<br />

ahead and do it. See what happens.’ And then I changed it. 710<br />

Após esta tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, o livro tornou-se mais pessoal, o que trouxe novas consequências:<br />

os críticos procuraram, a partir <strong>de</strong> então, a todo o custo e pelos mais variados métodos, analisar à lupa<br />

a narrativa <strong>de</strong> Ellis e tentar distinguir entre ficção e realida<strong>de</strong> 711 . Mas Lunar Park não é um romance<br />

inédito quando se procura a sua originalida<strong>de</strong> em termos <strong>de</strong> estrutura ou <strong>de</strong> estratégias narrativas, estas<br />

essenciais para <strong>de</strong>finir o tipo <strong>de</strong> jogo pós-mo<strong>de</strong>rnista a ter com o leitor. Ao analisar o conceito <strong>de</strong><br />

consciência na literatura, David Lodge menciona, em Consciousness and the Novel, o romance<br />

Galatea 2.2 (1995), do escritor norte-americano Richard Powers. O narrador <strong>de</strong>sse romance chama-se<br />

Richard Powers e tem uma biografia muito idêntica à do escritor. Po<strong>de</strong>mos, nesta or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias,<br />

referir também o escritor Philip Roth que, para além <strong>de</strong> ter criado uma versão ficcional <strong>de</strong>le próprio,<br />

em Zuckerman Unbound (1981), inventou ainda uma personagem chamada Philip Roth, em Operation<br />

Shylock (1993). Numa entrevista à BBC, em Outubro <strong>de</strong> 2005, Ellis confessa ter lido Roth enquanto<br />

escrevia o seu romance anterior, Glamorama. Daí o processo criativo e as estratégias narrativas<br />

utilizadas em Lunar Park terem s<strong>of</strong>rido, visivelmente, alguma influência daquele autor. 712<br />

Reconhecendo que não fora original com esta <strong>de</strong>cisão, Ellis apresenta, em 2005, uma história cujas<br />

estrutura e estratégia narrativa já tinham sido postas em prática.<br />

A escrita é, como aliás já havíamos concluído, uma das formas que Ellis encontra para reflectir<br />

sobre si próprio e sobre o seu acto criativo. Desta forma, as palavras tornam-se instrumento <strong>de</strong> análise<br />

<strong>de</strong> um acto que se alimenta <strong>de</strong>las, colocando-nos perante um fenómeno prático <strong>de</strong> metalinguagem e <strong>de</strong><br />

vampirismo literário. Lunar Park é disso exemplo, já que vai utilizar algumas obras do escritor para<br />

justificar <strong>de</strong>terminados pontos da história. Desta motivação fulcral partem três razões que po<strong>de</strong>rão ter<br />

708 Bret Easton Ellis, entrevista a Robert Birnbaum, em 20/06/07, em:<br />

http://www.themorningnews.org/archives/birnbaum_v/bret_easton_ellis.php.<br />

709 William Styron, Darkness Visible, p. 64.<br />

710 Bret Easton Ellis, entrevista a Robert Birnbaum,acedido em 20/06/07, em:<br />

http://www.themorningnews.org/archives/birnbaum_v/bret_easton_ellis.php.<br />

711 Brandon Stosuy, “Less Than Hero” (09/08/2005), acedido em 20/05/08, em:<br />

http://www.villagevoice.com/books/0533,stosuy,66860,10.html.<br />

712 Bret Easton Ellis, in “Writing Lunar Park” (05/10/05), acedido em 20/05/08, em:<br />

http://www.bbc.co.uk/dna/collective/A6127427.<br />

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