14.11.2012 Views

João Luís Nabo - Index of - Universidade de Évora

João Luís Nabo - Index of - Universidade de Évora

João Luís Nabo - Index of - Universidade de Évora

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

I was now my father. Robby was now me. I saw my own<br />

features mirrored in his – my world was mirrored there: the<br />

brownish auburn hair, the high and frowning forehead, the thick<br />

lips pursed together always in thought and anticipation, the<br />

hazel eyes swirling with barely contained bewil<strong>de</strong>rment. 763<br />

Bret Easton Ellis, Lunar Park<br />

Ellis vem mostrar em Lunar Park uma das preocupações importantes do género Gótico<br />

Americano: os conflitos na família, entendida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre como o núcleo da socieda<strong>de</strong> americana.<br />

Na tradição <strong>de</strong> Hawthorne e Poe, muitos autores centram as narrativas nos conflitos latentes no seio da<br />

família, explorando as dinâmicas das relações entre os seus membros e as causas para uma<br />

fragmentação, quase sempre iminente. Em Psycho, Bloch mostra-nos a paranóia <strong>de</strong> Bates <strong>de</strong>vido à<br />

ausência do pai e ao perfil repressivo da mãe, construindo uma personagem múltipla, que só através do<br />

crime sente que está viva. Em Re<strong>de</strong>fining American Gothic from Wieland to Day <strong>of</strong> the Dead (1995),<br />

Louis Gross aponta a família americana como a origem dos conflitos abordados, quer pelo cinema,<br />

quer pelas narrativas Góticas actuais 764 . Ao explorarem o caos latente nas famílias, os escritores<br />

americanos entram em diálogo com os primórdios do género, quando levam os leitores à conclusão<br />

que a base do conflito está na ausência <strong>de</strong> afectos ou na impossibilida<strong>de</strong> da sua manifestação, <strong>de</strong><br />

maneira aberta e sem restrições. A Família, tal como a Casa, <strong>de</strong>ve à partida garantir segurança.<br />

Recordando, mais uma vez, o conceito do Unheimlich, são estes dois elementos estruturantes do<br />

equilíbrio emocional e psíquico os primeiros a tornarem-se ameaçadores, motivados por uma falha na<br />

ligação entre os seus membros. Em Frankenstein, como já referimos num capítulo anterior, a falta<br />

<strong>de</strong>ssa ligação afectiva entre Victor e a sua Criação mostrou ter sido uma das origens das atitu<strong>de</strong>s<br />

criminosas da Criatura. Sobre este facto, George Levine refere que “Frankenstein himself confesses<br />

that he has failed in his responsibility to his creature.” 765 O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> Shelley em mostrar esse<br />

insucesso do inventor confun<strong>de</strong>-se com o objectivo da escrita <strong>de</strong>ssa história. Kilgour acredita que, para<br />

aquela escritora, “the aim <strong>of</strong> writing is not to assert individuality, but to insert oneself into a family.” 766<br />

Os problemas relacionados com a família e com dinâmica familiar esten<strong>de</strong>m-se a outras personagens e<br />

a outras famílias, em narrativas já abordadas neste trabalho: a filha <strong>de</strong> Rappaccini acaba por morrer a<br />

seus pés, vítima dos planos tenebrosos do pai; Aylmer per<strong>de</strong> a mulher, tal como o pintor em “The Oval<br />

Potrait”, em nome da beleza e da estética; Goodman Brown foge da mulher e da socieda<strong>de</strong>, em<br />

pr<strong>of</strong>unda <strong>de</strong>silusão; Hester Pryne não tem uma família socialmente aceite pela comunida<strong>de</strong> puritana;<br />

763 Ibi<strong>de</strong>m, p. 160.<br />

764 Louis Gross, Re<strong>de</strong>fining American Gothic from Wieland to Day <strong>of</strong> the Dead, p. 76.<br />

765 George Levine, “’Frankenstein’ and the Tradition <strong>of</strong> Realism”. In NOVEL: A Forum on Fiction, Vol. 7, No. 1,<br />

(Autumn, 1973), p. 22, acedido em 22/07/08, em: http://www.jstor.org/stable/1345050.<br />

766 Maggie Kilgour, “The Artist as Goth”. In The Rise <strong>of</strong> the Gothic Novel, p. 191.<br />

168

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!