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João Luís Nabo - Index of - Universidade de Évora

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certa e no contexto a<strong>de</strong>quado, para produzir o efeito pensado <strong>de</strong> antemão, num plano bem elaborado:<br />

“Nothing is more clear than that every plot, worth the name, must be elaborated to its dénouement<br />

before anything be attempted with the pen.” 163 Para ilustrar a sua teoria, apresenta o poema “The<br />

Raven” como case study, procurando provar que o texto nada <strong>de</strong>ve à inspiração, antes sendo um<br />

rigoroso “mathematical problem” 164 , assegurando que cada elemento do poema <strong>de</strong>ve ter o seu<br />

objectivo concreto.<br />

O processo criativo <strong>de</strong> Poe, ainda que exposto e analisado com ironia naquele ensaio, vai estar<br />

contaminado pela negativida<strong>de</strong> e pelo s<strong>of</strong>rimento do próprio autor que o utilizará como ferramenta<br />

para extrair <strong>de</strong>sse “doloroso processo <strong>de</strong> criação um enorme entusiasmo e humor”, que lhe vai permitir<br />

não fugir da tragédia mas enfrentá-la com emoção 165 . Fugir à tragédia significaria um afastamento do<br />

autor em relação à sua própria arte e, por isso, uma negação da sua capacida<strong>de</strong> criativa, já que esta está<br />

intimamente ligada ao trágico. H. P. Lovecraft confirma estas conclusões, num ensaio <strong>de</strong>dicado a Poe,<br />

incluído no seu livro Supernatural Horror in Literature (1927), dizendo acreditar que o escritor, cuja<br />

mente esteve sempre próxima do terror e da <strong>de</strong>cadência 166 , transporta para os textos a sua própria<br />

infelicida<strong>de</strong>. Ao estudar a mente humana, foi através dos seus textos que Poe manifestou a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r as fontes do seu próprio terror e o paradoxal funcionamento da mente, sempre habitada<br />

por sentimentos contraditórios. Lovecraft termina o capítulo sobre este autor, manifestando a certeza<br />

do paralelismo entre as personagens atormentadas <strong>de</strong> Poe e a vida do escritor: “More particular<br />

qualities appear to be <strong>de</strong>rived from the psychology <strong>of</strong> Poe himself, who certainly possessed much <strong>of</strong><br />

the <strong>de</strong>pression, sensitiveness, mad aspiration, loneliness, and extravagant freakishness which he<br />

attributes to his haughty and solitary victims <strong>of</strong> Fate.” 167<br />

Tratando-se <strong>de</strong> obras com carácter auto-reflexivo, o escritor tenta, através das histórias e das<br />

personagens que cria, reflectir sobre o que o aterroriza ou fascina, incluindo o seu próprio acto <strong>de</strong><br />

criação, os seus limites, fronteiras, <strong>de</strong>svios e transgressões. Ao projectar nas suas personagens aquilo<br />

que o atormenta, Poe é, para Maria Antónia Lima, “o artista da sua própria perversida<strong>de</strong>, para quem o<br />

mal nunca <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser sedutor” 168 e que, como escritor, encontra na literatura que produz uma forma<br />

<strong>de</strong> alívio para os seus medos, um meio estético <strong>de</strong> legitimar os seus mais pr<strong>of</strong>undos e secretos <strong>de</strong>sejos.<br />

Vindo ao encontro <strong>de</strong>sta nossa perspectiva, Grantz acredita que o medo explorado pelo escritor tinha<br />

sobretudo a ver com os seus terrores pessoais, servindo a escrita como terapia para os seus próprios<br />

163 Ibi<strong>de</strong>m, p. 480.<br />

164 Ibi<strong>de</strong>m, p. 482.<br />

165 Maria Antónia Lima, Emoção Trágica e Impessoalida<strong>de</strong> na Poesia, p. 149.<br />

166 H. P. Lovecraft, Supernatural Horror in Literature, p. 57.<br />

167 Ibi<strong>de</strong>m, p. 59.<br />

168<br />

Maria Antónia Lima, Terror na Literatura Norte-Americana, Vol. II, p. 276.<br />

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