João LuÃs Nabo - Index of - Universidade de Évora
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3. O Tema do Duplo na Ficção Gótica<br />
O senhor Goliádkin quis gritar mas não conseguiu; quis<br />
protestar mas não teve forças. O cabelo pôs-se-lhe em pé, os<br />
joelhos dobraram-se-lhe <strong>de</strong> terror. De resto, tinha razões para<br />
tal. O senhor Goliádkin reconheceu categoricamente o seu<br />
amigo nocturno. O seu amigo nocturno mais não era do que ele<br />
próprio – o próprio senhor Goliádkin, outro senhor Goliádkin,<br />
mas absolutamente igual a ele – numa palavra, o que se chama<br />
um duplo <strong>de</strong>le, em todos os sentidos. 180<br />
Fiódor Dostoiévski, O Duplo<br />
It is our human condition to struggle against the dark <strong>de</strong>mons. 181<br />
Robert I. Simon, Bad Men Do What Good Men Dream<br />
Como temos vindo a verificar, a temática do Duplo insere-se no género Gótico, baseada na<br />
permanente insegurança <strong>de</strong>vida à existência do Outro, entida<strong>de</strong> cuja presença ameaçadora põe em<br />
causa a estabilida<strong>de</strong> do Eu. Essa luta entre entida<strong>de</strong>s opostas e incompatíveis, um dos fundamentos<br />
<strong>de</strong>ste género literário, inclui nesse tipo <strong>de</strong> duplicida<strong>de</strong> a divisão do próprio sujeito. Partindo <strong>de</strong> uma<br />
situação hipotética, se encontrássemos alguém igual a nós, o nosso Duplo, aceitaríamos pacificamente<br />
180 Fiódor Dostoiévski, O Duplo, p. 48.<br />
181 Robert I. Simon, Bad Men Do What Good Men Dream, p. 324.<br />
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