14.11.2012 Views

João Luís Nabo - Index of - Universidade de Évora

João Luís Nabo - Index of - Universidade de Évora

João Luís Nabo - Index of - Universidade de Évora

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ao contrário das personagens <strong>de</strong> Poe e Dostoiévski, o confronto, quer a nível psíquico, quer<br />

físico, entre o yuppie e o serial killer (Duplos um do outro) não resulta na morte <strong>de</strong> ambos, porque as<br />

duas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, apesar da sua aparente incompatibilida<strong>de</strong>, não se anulam mas complementam-se,<br />

com é também o caso <strong>de</strong> Hannibal Lecter ou Norman Bates. Quando a narrativa caminha para o final,<br />

o espaço neutro e <strong>de</strong> encontro entre as duas entida<strong>de</strong>s torna-se mais visível. Tanto o yuppie como o<br />

serial killer acabam por manifestar-se como meras ilusões: <strong>de</strong>ste modo, sem a presença activa dos<br />

alter-egos, o que fica à vista é o vazio, o nada que a personagem representa, a sua inevitável fonte <strong>de</strong><br />

angústia 641 . É neste espaço que vamos <strong>de</strong>scobrir um Patrick Bateman “bloody ass-kisser, such a<br />

brown-nosing goody-goody” 642 , incapaz dos actos monstruosos que confessara para um gravador <strong>de</strong><br />

mensagens. Esta terceira i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, mais próxima da consciência do autor, leva Bateman à seguinte<br />

reflexão:<br />

All I have in common with the uncontrollable and the insane, the vicious and the evil, all the<br />

mayhem I have caused and my utter indifference toward it, I have now surpassed. (…) No<br />

one is safe, nothing is re<strong>de</strong>emed. (…) My pain is constant and sharp and I do not hope for a<br />

better world for anyone. In fact, I want my pain to be inflicted on others. I want no one to<br />

escape. (…) There is no catharsis. (…)There has been no reason for me to tell you any <strong>of</strong><br />

this. This confession meant nothing. 643<br />

Este acto <strong>de</strong> confessar que nada há para confessar reforça o anticlímax anunciado: não existe<br />

qualquer problema escondido à espera <strong>de</strong> uma solução ou a aguardar o momento apropriado para vir<br />

ao encontro da luz. Não há qualquer verda<strong>de</strong> que mereça ser exposta, numa continuação da confissão<br />

<strong>de</strong>sesperada que <strong>de</strong>ixara no aten<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> chamadas do seu advogado. Não há, afinal, nada que mereça<br />

uma <strong>de</strong>sconstrução para o apuramento da verda<strong>de</strong>.<br />

5.2.3. Processo <strong>de</strong> Construção – Proximida<strong>de</strong>s entre<br />

641 Søren Kierkegaard, O Conceito <strong>de</strong> Angústia, pp. 63-67.<br />

642 Bret Easton Ellis, American Psycho, p. 387.<br />

643 Ibi<strong>de</strong>m, p. 377.<br />

o Escritor e a Personagem<br />

146

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!