João LuÃs Nabo - Index of - Universidade de Évora
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Ro<strong>de</strong>rick Usher per<strong>de</strong> a irmã e entra em ruína mental e física; o narrador <strong>de</strong> The Black Cat assassina a<br />
mulher; William Wilson não tem família; e as personagens dos anteriores romances <strong>de</strong> Ellis mantêm<br />
com as famílias relações distantes ou apenas politicamente correctas.<br />
A família <strong>de</strong> “Ellis”, em vias <strong>de</strong> reestruturação, e a casa <strong>de</strong> Elsinore Lane são igualmente<br />
objecto <strong>de</strong> salvação por parte do perturbado escritor que, não enten<strong>de</strong> ainda as ligações existentes entre<br />
ele, o pai e o filho. Assim, a mente em fragmentação cria um conjunto <strong>de</strong> Duplos, cada um com a sua<br />
função específica na história e na resolução dos problemas que afectam o escritor. Na sequência <strong>de</strong>sta<br />
i<strong>de</strong>ia, iremos procurar articular a duplicida<strong>de</strong> criada entre “Ellis” e o pai, Robert, e, simultaneamente,<br />
entre Robby e o pai, “Ellis”. É clara a existência <strong>de</strong> uma imagem especular, com “Ellis” e Robby<br />
diante do espelho, vendo reflectidos diante <strong>de</strong>les “Ellis” e o pai. Na situação apresentada, o espelho<br />
não estará ligado, tal como em The Picture <strong>of</strong> Dorian Gray, ao conceito da autocontemplação<br />
narcísica, que compele o sujeito para a morte e conduz à <strong>de</strong>struição da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do Eu 767 . Neste caso<br />
preciso <strong>de</strong> Lunar Park, o que existe é a vonta<strong>de</strong> e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> constatar, como escreve Judith<br />
Oster, no artigo “See(k)ing the Self: Mirrors and Mirroring in Bicultural Texts”, “how alike they<br />
are”. 768 Nesta manifestação concreta <strong>de</strong> reflexo especular, a imagem que se observa do outro lado é<br />
sinónimo <strong>de</strong> reflexo, <strong>de</strong> reflexão, <strong>de</strong> procura e <strong>de</strong> salvação, no sentido apontado em Fotografia e<br />
Narcisismo por Margarida <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros, no qual o espelho “em diversas culturas significa revelação,<br />
conhecimento, iluminação.” 769 Conhecendo nós o tipo <strong>de</strong> relação que existiu entre Bret Easton Ellis e o<br />
pai, “Ellis” vai concretizar o exorcismo <strong>de</strong>ssa relação através <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> três elementos<br />
puramente ficcionais: um filho, um casamento e uma esposa.<br />
No capítulo “The Beginnings”, o escritor informa o leitor dos motivos que o levaram a casar<br />
com Jayne, e a assumir o filho <strong>de</strong> ambos, após um afastamento e uma negação <strong>de</strong> 12 anos. O<br />
casamento, embora não apresentasse muita estabilida<strong>de</strong>, trouxera-lhe a nova responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
assumir a paternida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Robby, propósito que procurou, esforçadamente, levar a cabo: “The wedding<br />
– after Robby took my hand for the first time – was the beginning. This was the moment when the son<br />
sud<strong>de</strong>nly became real to the father.” 770 Numa entrevista, Ellis reforça a i<strong>de</strong>ia do carácter complexo das<br />
imagens reflectidas e das duplicida<strong>de</strong>s não assumidas no contexto da narrativa:<br />
That character was very much based on my Dad, who failed at being a father. (…)Once he<br />
really wants to be a father, it’s too late. The damage is irreparable, which was also like my<br />
Dad. So, in a lot <strong>of</strong> ways, there is a strong corollary between me and the character in Lunar<br />
767 Margarida Me<strong>de</strong>iros, Fotografia e Narcisismo, p. 64.<br />
768 Judith Oster, “See(k)ing the Self: Mirrors and Mirroring in Bicultural Texts”. In MELUS, Vol. 23, n.º 4, Theory, Culture<br />
and Criticism.p. 77.<br />
769 Margarida Me<strong>de</strong>iros, Fotografia e Narcisismo, p. 64.<br />
770 Bret Easton Ellis, Lunar Park, p. 17.<br />
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