14.11.2012 Views

João Luís Nabo - Index of - Universidade de Évora

João Luís Nabo - Index of - Universidade de Évora

João Luís Nabo - Index of - Universidade de Évora

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Com o objectivo <strong>de</strong> contribuir para uma análise da auto-referencialida<strong>de</strong> na obra do escritor<br />

Bret Easton Ellis, integrada no género Gótico Norte-Americano contemporâneo, procurámos, em<br />

primeiro lugar, enten<strong>de</strong>r o processo <strong>de</strong> fragmentação do sujeito, com base nas teorias psicanalíticas <strong>de</strong><br />

Freud e Rank, os primeiros a estudar este fenómeno. Depois <strong>de</strong> termos pesquisado em Poe e em<br />

Hawthorne a expressão literária <strong>de</strong> uma fragmentação psíquica autoral, centrámos o nosso estudo nas<br />

obras <strong>de</strong> Ellis, analisando as que mais directamente se enquadravam na temática do Gótico e que<br />

simultaneamente abordavam os conceitos da duplicida<strong>de</strong>. Assim, e embora o tema do Duplo em Bret<br />

Easton Ellis possa ser alvo <strong>de</strong> um estudo mais apr<strong>of</strong>undado, acreditamos ter reunido elementos<br />

suficientes que nos levam a concluir que o autor manifestou, através da sua técnica e das temáticas<br />

abordadas, um pr<strong>of</strong>undo interesse por vários tipos <strong>de</strong> ambivalências e duplicida<strong>de</strong>s psicológicas, éticas<br />

e estéticas que caracterizam as melhores ficções góticas, permitindo-nos, assim, consi<strong>de</strong>rá-lo her<strong>de</strong>iro<br />

legítimo da tradição Gótica Norte-Americana.<br />

Na linha <strong>de</strong> Edgar Alan Poe, Ellis cria em American Psycho e em Lunar Park cenários físicos e<br />

psicológicos, objectivos correlativos das mentes dos protagonistas, personagens inseguras e<br />

insatisfeitas, que revelam através dos seus comportamentos uma insanida<strong>de</strong> perigosa para si próprios e<br />

para os que os ro<strong>de</strong>iam. Os excessos protagonizados por estas personagens são o resultado manifesto<br />

<strong>de</strong> uma era em que a paranóia é, ainda, um dos poucos elementos comuns aos habitantes do espaço<br />

americano: um comportamento objectivado <strong>de</strong> forma insistente e quase doentia através da literatura e<br />

<strong>de</strong> outras representações artísticas. Tal como Poe, Ellis privilegiou a narrativa <strong>de</strong> primeira pessoa,<br />

obrigando, <strong>de</strong>sta forma, a um maior envolvimento do leitor com a sua ficção, num jogo que Lodge<br />

consi<strong>de</strong>ra tipicamente mo<strong>de</strong>rnista 818 , provocando uma pr<strong>of</strong>unda ambivalência, que Scott Brewster<br />

justificou do seguinte modo: “Fantasies beget fantasies, blurring the boundaries between fact and<br />

fiction, reason and <strong>de</strong>lirium.” 819 Tanto Poe como Ellis <strong>de</strong>spertam no leitor uma incerteza <strong>de</strong> tal forma<br />

arrebatadora, que este, contaminado pela angústia do narrador, consegue enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma mais<br />

pr<strong>of</strong>unda a dimensão do terror vivido pelo protagonista, figura na qual o autor projecta os seus<br />

próprios sentimentos. Chegámos, assim, à conclusão da necessida<strong>de</strong> sentida pelo autor <strong>de</strong> utilizar a<br />

ficção para, num registo diferente, mas paralelo ao da autobiografia, po<strong>de</strong>r narrar a história ou as<br />

histórias da sua vida, mantendo in<strong>de</strong>finidas as fronteiras entre ficção e um possível exercício<br />

autobiográfico. Motivado por essa ambiguida<strong>de</strong>, o escritor parte, assim, para um processo <strong>de</strong> análise e<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconstrução do seu próprio processo criativo.<br />

818 David Lodge, Consciousness and the Novel, p. 21.<br />

819 Scott Brewster, “Seeing Things: Gothic and the Madness <strong>of</strong> Interpretation”. In A Companion to the Gothic, p. 285.<br />

180

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!