BIOMA MATA ATLÂNTICAOs manguezais <strong>da</strong>s regiões <strong>de</strong> Cananéia – SP, Paranaguá – PR, São Francisco <strong>do</strong> Sul – SC foramincorpora<strong>do</strong>s aos limites por apresentarem elementos importantes para a gestão <strong>da</strong> conservação<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> nas paisagens costeiras <strong>da</strong> Ecorregião <strong>Serra</strong> <strong>do</strong> <strong>Mar</strong>.A questão <strong>da</strong> zona serrana <strong>do</strong> Espírito Santo, que correspon<strong>de</strong> a to<strong>da</strong> a porção sul <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>,mostrou-se mais complexa, porque se tratava não <strong>de</strong> um encrave, mas <strong>de</strong> uma área consi<strong>de</strong>rável,com cerca <strong>de</strong> 14.000 km² <strong>de</strong> extensão.A área serrana capixaba foi originalmente inseri<strong>da</strong> na Ecorregião Florestas Costeiras Baianas,<strong>do</strong>mina<strong>da</strong> por formações <strong>de</strong> floresta ombrófila <strong>de</strong>nsa <strong>de</strong> tabuleiros costeiros, cujas peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>slhe valeram o nome Hiléia Baiana. Convencionou-se que a Hiléia Baiana tem seu limite sulestabeleci<strong>do</strong> no vale <strong>do</strong> Rio Doce porque a distribuição <strong>de</strong> muitas espécies <strong>de</strong> sua fauna e floratão características não ultrapassa este rio, caracterizan<strong>do</strong> uma situação bem diferente <strong>da</strong>sdistribuições em gradiente observa<strong>da</strong>s ao longo <strong>da</strong> costa. Muitas espécies <strong>da</strong> biota <strong>da</strong> HiléiaBaiana são endêmicas, uma porção expressiva é compartilha<strong>da</strong> com a região amazônica (<strong>da</strong>íseu nome) e menos <strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua flora é comum às serras <strong>do</strong> su<strong>de</strong>ste, inclusive aquelas<strong>do</strong> Espírito Santo. A Hiléia Baiana possui ain<strong>da</strong> uma parcela consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> espécies arbóreas<strong>de</strong>cíduas <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à existência <strong>de</strong> uma estação seca bem <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>.A região <strong>do</strong>s tabuleiros possui reduzi<strong>da</strong> sazonali<strong>da</strong><strong>de</strong> térmica e está livre <strong>da</strong>s gea<strong>da</strong>s. O relevo <strong>de</strong>tabuleiros costeiros é muito homogêneo, o que torna a maior parte <strong>da</strong> Ecorregião <strong>da</strong>s FlorestasCosteiras Baianas bastante plana (interrompi<strong>do</strong> somente pelos pequenos encraves serranos <strong>do</strong> sul<strong>da</strong> Bahia), ao contrário <strong>da</strong>s serras capixabas. Além <strong>de</strong> influenciarem a biota, tais fatos pressupõemformas <strong>de</strong> ocupação humana, e conseqüentes pressões socioeconômicas, bastante distintas entrea maior parte <strong>da</strong> ecorregião e o sul <strong>do</strong> Espírito Santo.Definitivamente, embora se encontrasse na mesma ecorregião, o sul <strong>do</strong> Espírito Santo compartilhavapoucas características bióticas e abióticas com a Hiléia Baiana. Por outro la<strong>do</strong>, muitas características<strong>da</strong>s serras <strong>do</strong> Espírito Santo são muito semelhantes àquelas vigentes nos <strong>de</strong>mais complexos serranos<strong>do</strong> su<strong>de</strong>ste e sul. É importante notar que os limites iniciais <strong>da</strong> Ecorregião <strong>Serra</strong> <strong>do</strong> <strong>Mar</strong> foram basea<strong>do</strong>sna existência <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> condições abióticas e fitofisionômicas. Nessas circunstâncias também é <strong>de</strong>se esperar a existência <strong>de</strong> similari<strong>da</strong><strong>de</strong>s nos fluxos e processos ecológicos atuantes tanto na Ecorregião<strong>Serra</strong> <strong>do</strong> <strong>Mar</strong>, quanto nas serras capixabas, pois é precisamente a existência <strong>da</strong>s referi<strong>da</strong>s condiçõesabióticas, nota<strong>da</strong>mente a combinação <strong>de</strong> clima e relevo, que condicionam a biota. Abaixo <strong>do</strong> RioDoce, a distribuição <strong>de</strong> muitas <strong>da</strong>s espécies <strong>da</strong> biota atlântica mostra gradientes, inclusive com asubstituição <strong>de</strong> espécies irmãs ao longo <strong>da</strong>s diferentes serras e a gra<strong>da</strong>tiva diminuição <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>.Também se observa a restrição às planícies litorâneas <strong>de</strong> algumas populações <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong>maior distribuição à medi<strong>da</strong> que se caminha no senti<strong>do</strong> sul. Diversos elementos <strong>da</strong> flora e a própriafitofisionomia <strong>da</strong>s florestas ombrófilas, como as características formações montanas e alto-montanassão compartilha<strong>da</strong>s entre as serras <strong>do</strong> Espírito Santo e o restante <strong>da</strong> Ecorregião <strong>Serra</strong> <strong>do</strong> <strong>Mar</strong>, assimcomo grupos animais típicos <strong>de</strong> ambiente serrano, que incluem vários gêneros <strong>de</strong> anfíbios liga<strong>do</strong>saos riachos <strong>de</strong> corre<strong>de</strong>ira, lepidópteros, pequenos mamíferos e aves. Devi<strong>do</strong> aos condicionantesambientais similares, também as formas <strong>de</strong> ocupação e ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s antrópicas <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s nasserras capixabas são semelhantes àquelas realiza<strong>da</strong>s na <strong>Serra</strong> <strong>do</strong> <strong>Mar</strong>.
Visão <strong>de</strong> Biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Ecorregião <strong>Serra</strong> <strong>do</strong> <strong>Mar</strong>21© WWF-Brasil / Adriano GambariniA região serrana <strong>do</strong> Espírito Santo é separa<strong>da</strong> <strong>da</strong>s <strong>de</strong>mais serras <strong>do</strong> su<strong>de</strong>ste pela largaplanície fluvio-litorânea terminal <strong>do</strong> Rio Paraíba, inseri<strong>da</strong> na chama<strong>da</strong> Ecorregião<strong>da</strong>s Florestas Interioranas Baianas. Essa ecorregião engloba florestas estacionaissemi<strong>de</strong>ciduais com afini<strong>da</strong><strong>de</strong>s com o Cerra<strong>do</strong> e a Caatinga e niti<strong>da</strong>mente distintas<strong>da</strong>s formações florestais <strong>da</strong>s serras capixabas. O vale <strong>do</strong> Paraíba está intensamente<strong>de</strong>vasta<strong>do</strong>, a ponto <strong>de</strong> tornar muito difícil <strong>de</strong>terminar suas afini<strong>da</strong><strong>de</strong>s biogeográficasem relação às três ecorregiões que o circun<strong>da</strong>m. Contu<strong>do</strong>, é interessante notar que, emsua porção litorânea, o vale <strong>do</strong> rio Paraíba era coberto pre<strong>do</strong>minantemente por campos,mesmo antes <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> <strong>do</strong>s portugueses. Se os chama<strong>do</strong>s campos <strong>do</strong>s Goitacazeseram feições naturais, ou resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> antrópica 1 permanece ain<strong>da</strong> como umaquestão em aberto, mas o fato é que as formações florestais serranas <strong>do</strong> Espírito Santoformam um bloco disjunto <strong>da</strong>s <strong>de</strong>mais florestas <strong>de</strong> encosta <strong>do</strong> su<strong>de</strong>ste. Tal disjunçãopo<strong>de</strong> não ter ocorri<strong>do</strong> em outras épocas, especialmente durante o último perío<strong>do</strong> glacial,quan<strong>do</strong> a circulação <strong>de</strong> elementos <strong>da</strong> flora e fauna teria se <strong>da</strong><strong>do</strong> provavelmente através<strong>da</strong> zona <strong>da</strong> mata mineira, conforme atestam os encraves <strong>de</strong> floresta ombrófila mistapresentes nas serras capixabas. Uma possível linha <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> ligação po<strong>de</strong> servislumbra<strong>da</strong> através <strong>de</strong> serranias menores e disjuntas, que incluem as serras <strong>da</strong>s Torres,<strong>do</strong> Seio <strong>de</strong> Abraão, <strong>do</strong> Bom Retiro, <strong>do</strong> Palmital, <strong>da</strong>s Cangalhas e o Caparaó.Embora possua muitas similari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> biota com a Ecorregião <strong>Serra</strong> <strong>do</strong> <strong>Mar</strong>, a zonaserrana <strong>do</strong> Espírito Santo também possui componentes <strong>de</strong> fauna e flora únicos e <strong>de</strong>distribuição restrita. Particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa natureza também ocorrem em outras porções<strong>da</strong> Ecorregião <strong>Serra</strong> <strong>do</strong> <strong>Mar</strong> – ex. serra <strong>do</strong>s Órgãos e as planícies costeiras paranaenses e<strong>do</strong> sul <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo. A diferenciação <strong>da</strong>s serras capixabas em relação às <strong>de</strong>maisformações serranas <strong>do</strong> sul e su<strong>de</strong>ste é compatível com o grau <strong>de</strong> heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> inclusono conceito <strong>de</strong> ecorregião. Porém, a presença <strong>de</strong> en<strong>de</strong>mismos e outras singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>spressupõem a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s diferencia<strong>da</strong>s em uma estratégia conservacionista.UNIR PARA CONSERVAR A VIDA1 Certos autores <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que esses campos eram propositalmente manti<strong>do</strong>s pelos índios Tupis, a fim <strong>de</strong> que pu<strong>de</strong>ssem<strong>de</strong>tectar mais facilmente a presença <strong>de</strong> seus inimigos Goitacazes (ver Dean, 1996).