BIOMA MATA ATLÂNTICA© WWF-Brasil / Adriano Gambarinimanti<strong>da</strong> até próximo ao cume <strong>do</strong>s relevos disseca<strong>do</strong>s, em função <strong>do</strong>s solos <strong>de</strong>lga<strong>do</strong>s ou litólicos, altamentelixivia<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> baixa fertili<strong>da</strong><strong>de</strong> em <strong>de</strong>corrência <strong>da</strong> drenagem intensa. Nestas condições, há uma maiordisponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> luz no interior <strong>da</strong> mata, que juntamente com a maior umi<strong>da</strong><strong>de</strong> provi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong> pelas chuvasorográficas favorece a eleva<strong>da</strong> riqueza <strong>de</strong> epífitas.Observa-se o aparecimento <strong>de</strong> espécies seletivas xerófilas juntamente com aquelas seletivas higrófilas. Asárvores mais altas <strong>da</strong> floresta montana são em geral leguminosas, como o caovi (Newtonia glaziovii (Harms)Burkart ex Barth & Yoneshigue) e o pau-óleo (Copaifera trapezifolia Hayne), com alturas <strong>de</strong> 30 metros ou maise copas bastante amplas. Outras espécies que ocorrem no estrato superior são o guatambu (Aspi<strong>do</strong>spermaolivaceum Müll. Arg.), ipê-amarelo (Tabebuia cf. alba (Cham.) Sandwith), licurana (Hyeronima alchorneoi<strong>de</strong>sAllemão), canjerana (Cabralea canjerana (Vell.) <strong>Mar</strong>t.), cedros (Cedrela spp), tapiás (Alchornea spp), guapeva(Pouteria torta (<strong>Mar</strong>t.) Radlk.), baguaçu (Talauma ovata A. St.-Hil.), capixinguis (Croton spp), manacás (gênerosMiconia spp, Leandra spp e Tibouchina spp), carvalho (Roupala sp), baga-<strong>de</strong>-pomba (Byrsonima ligustrifoliaA. Juss.), carobas (Jacaran<strong>da</strong> spp), carne-<strong>de</strong>-vaca (Clethra scabra Pers.) e o guaraparim (Vantanea compacta(Schnizl.) Cuatrec.). No sul <strong>do</strong> Brasil, a conífera Po<strong>do</strong>carpus sellowii Klotzsch ex Endl. é típica <strong>de</strong>ssa formação,ocorren<strong>do</strong> por vezes com gêneros <strong>da</strong> família Lauraceae (Ocotea spp e Nectandra spp), em associaçõessemelhantes à floresta ombrófila mista.O interior <strong>de</strong>ssas florestas é semelhante àquele <strong>da</strong>s florestas submontanas, porém com típica diminuiçãonatural <strong>da</strong> <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> palmito-juçara (Euterpe edulis <strong>Mar</strong>t.) acima <strong>do</strong>s 800 metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, a partir<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se torna restrito aos vales <strong>de</strong> drenagem protegi<strong>do</strong>s. No estrato arbóreo intermediário ocorremcom freqüência o macuqueiro (Bathysa sp), gramimunhas (Weinmannia spp), ingás-macaco (Inga minutula(Schery) T.S. Elias), ingá-feijão (Inga marginata Willd.), baga-<strong>de</strong>-macaco (Posoqueria latifolia (Rudge) Roem. &Schult.), almesca (Protium kleinii Cuatrec.), guaraperê (Lamanonia speciosa (Cambess.) L.B. Sm.) e guamirins(mirtáceas). O estrato herbáceo-arbustivo é caracteriza<strong>do</strong> por melastomatáceas, rubiáceas, bromeliáceasterrestres e pteridófitas. Bambus também são freqüentes acima <strong>do</strong>s 800 metros e, entre as palmeiras, aguaricana (Geonoma schottiana <strong>Mar</strong>t.) e outras espécies <strong>do</strong> gênero são bastante comuns, assim como espécies<strong>de</strong> Lytocaryum spp, agora ameaça<strong>da</strong>s pela extração indiscrimina<strong>da</strong>. As epífitas são muito abun<strong>da</strong>ntes e éevi<strong>de</strong>nte o pre<strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> pteridófitas e briófitas, que formam ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros tapetes sobre os troncos e os ramos<strong>da</strong>s árvores, além <strong>de</strong> cipó-imbés (Philo<strong>de</strong>ndron sp), bromeliáceas e micro-orquí<strong>de</strong>as.
Visão <strong>de</strong> Biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Ecorregião <strong>Serra</strong> <strong>do</strong> <strong>Mar</strong>35As florestas ombrófilas <strong>de</strong>nsas altomontanas ocorrem nas altitu<strong>de</strong>s superiores a 1.000metros. Também são chama<strong>da</strong>s <strong>de</strong> mata nebular ou floresta nuvígena, pois estãosujeitas à alta umi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> ar, proveniente <strong>do</strong>s ventos úmi<strong>do</strong>s que sopram <strong>do</strong> mar, ese resfriam enquanto sobem a serra provocan<strong>do</strong> precipitação na forma <strong>de</strong> nevoeiro ouchuva. Tal fenômeno característico também é conheci<strong>do</strong> como um efeito orográfico, etorna o ambiente constantemente satura<strong>do</strong> <strong>de</strong> umi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Além disso, há diminuição<strong>da</strong> temperatura, com médias diárias e anuais por vezes inferiores a 15º C (<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong><strong>da</strong> latitu<strong>de</strong>), e mínimas <strong>de</strong> até –6º C durante a noite. As florestas altomontanas seapresentam como vegetação arbórea <strong>de</strong>nsa, uniestratifica<strong>da</strong>, baixa e com um <strong>do</strong>sseluniforme, entre 5 e 10 metros, forma<strong>do</strong> por indivíduos tortuosos, abun<strong>da</strong>ntementeramifica<strong>do</strong>s e nanofolia<strong>do</strong>s. Tanto o porte, quanto a estrutura e composição florísticavariam conforme altitu<strong>de</strong> e espessura <strong>do</strong>s solos, e a maioria <strong>da</strong>s espécies é seletivaxerófita, a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> às condições <strong>de</strong>sfavoráveis e à intensa insolação e ventos fortes.Muitas <strong>da</strong>s espécies aí presentes ocorrem também nas restingas e costões rochososexpostos à maresia, que compartilham condições <strong>de</strong> estresse semelhantes.Mirtáceas, melastomatáceas, clusiáceas e aquifoliáceas costumam ser as famílias<strong>do</strong>minantes <strong>do</strong> componente arbóreo e as seguintes árvores costumam ser freqüentes:gramimunha-miú<strong>da</strong> (Weinmannia humilis Engl.), cambuí (Siphoneugena reitzii D. Legrand),guaperê (Clethra scabra Pers.), quaresmeira (Tibouchina sellowiana Cogn.), jabuticaba-<strong>do</strong>campo(Eugenia pluriflora DC.), guamirim (Eugenia sp), cambuis (Myrcia spp e Myrceugeniaspp), congonha (Ilex theizans <strong>Mar</strong>t. ex Reissek), caúna (Ilex micro<strong>do</strong>nta Reissek), mangue<strong>do</strong>-mato(Clusia criuva Cambess.), pinho-bravo (Po<strong>do</strong>carpus sellowii Klotzsch ex Endl.),casca-d’anta (Drymis brasiliensis Miers), cocão (Erythroxylum cuspidifolium <strong>Mar</strong>t.) eorelha-<strong>da</strong>-onça (Symplocos celastrinea <strong>Mar</strong>t. ex Miq.). Em lugares mais protegi<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>mocorrer indivíduos <strong>de</strong> espécies típicas <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>s menores, que costumam apresentar<strong>de</strong>senvolvimento fraco. Os troncos <strong>da</strong>s árvores e arbustos são revesti<strong>do</strong>s <strong>de</strong> musgos,hepáticas, orquí<strong>de</strong>as (ex. Sophronitis spp, Oncidium spp e Maxillaria spp) e bromeliáceascoriáceas. Além <strong>da</strong>s árvores, <strong>de</strong>staca-se a abundância <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> bambus que po<strong>de</strong>mformar gran<strong>de</strong>s bolsões monoespecíficos. No solo são freqüentes as gran<strong>de</strong>s bromeliáceasterrestres e rupícolas (gêneros Vriesia spp, Dyckia spp e Bromelia spp) e muitas pteridófitas(exemplos característicos são os gêneros Gleichenia spp e Polystichum spp).Por fim, os campos <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> são formações abertas, que ocorrem a partir <strong>da</strong> cota <strong>do</strong>s1.200 metros (SCARAMUZZA, 2006). Embora dissemina<strong>do</strong>s pelas serras interioranasmais altas, esses campos são pouco freqüentes na Ecorregião <strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>do</strong> <strong>Mar</strong>, on<strong>de</strong>as maiores manchas se encontram nas serras <strong>da</strong> divisa <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro eMinas Gerais, nos limites <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> Ecorregião <strong>do</strong>s Campos Rupestres. Fora <strong>de</strong>ssa áreaexistem pequenas manchas associa<strong>da</strong>s aos solos rasos e paredões <strong>de</strong> rocha exposta,nos morros mais altos <strong>do</strong> complexo <strong>da</strong> <strong>Serra</strong> <strong>do</strong> <strong>Mar</strong>, como por exemplo, os campos <strong>do</strong>Curucutu no município <strong>de</strong> São Paulo.UNIR PARA CONSERVAR A VIDAA flora <strong>do</strong>s campos <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> é forma<strong>da</strong> principalmente por compostas, capins,bambuzinhos, bromélias, orquí<strong>de</strong>as, velosiáceas, sempre-vivas, musgos e líquenes. Umacaracterística importante <strong>de</strong>ssas formações é o alto grau <strong>de</strong> en<strong>de</strong>mismo <strong>de</strong> suas espéciesvegetais, sen<strong>do</strong> muitas <strong>de</strong>las restritas a uma serra, ou mesmo a um único morro.