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Retorno_a_Historia_Do_Pensamento_Cristao_-_Justo_Gonzalez

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foi de fato preparando o caminho para a igreja pós-constantiniana.<br />

O que os apologistas procuravam com sua obra era mostrar a seus<br />

inimigos — e talvez a si mesmos — que o cristianismo não era a fé<br />

rude, imoral, desordenada e radical que alguns diziam que era.<br />

Isto fica explícito na obra dos apologistas do tipo B, como<br />

Clemente e Orígenes, que se propuseram mostrar que o cristianismo<br />

não era incompatível com o melhor da íilosoíia pagã. Por íim, porém,<br />

tanto eles quanto seus sucessores começaram a usar essa íilosoíia<br />

como instrumento hermenêutico para interpretar as Escrituras e o<br />

caráter da fé cristã.<br />

Algo semelhante se aplica, embora de forma mais tácita do que<br />

explícita, a apologistas como Taciano e Tertuliano, apesar de ambos<br />

terem sido considerados expositores clássicos da oposição mais<br />

extrema entre o cristianismo e a cultura. Tertuliano se expressou com<br />

palavras fortes contra a íilosoíia pagã, mas em sua tarefa apologética<br />

pretendeu mostrar que o cristianismo não era o monstro de imoralidade<br />

e irresponsabilidade que se dizia que era. Ele não fez isso<br />

harmonizando o cristianismo com a íilosoíia platônica, como faziam<br />

seus colegas do tipo B, mas interpretando-o em termos da lei — e<br />

não devemos nos esquecer que de a ordem jurídica era, junto com<br />

a íilosoíia, uma das duas grandes tradições das quais, com razão, o<br />

mundo greco-romano se orgulhava.<br />

Portanto, enquanto a teologia do tipo B mostrava que o cristianismo<br />

era compatível com a íilosoíia grega, a do tipo A mostrava<br />

que ele era compatível com a lei e a ordem do Império.<br />

Levando em consideração tudo isso, neste capítulo e nos que<br />

se seguem, concentraremos nossa atenção na teologia ocidental.<br />

Excetuando os casos, como os primeiros grandes concílios, nos<br />

quais os debates no Oriente de fala grega deixaram marcas profundas<br />

no Ocidente latino, limitar-nos-emos a seguir o curso da teologia<br />

ocidental, que, por íim, levaria tanto ao catolicismo romano<br />

quanto ao protestantismo. Com relação à teologia oriental, é bom<br />

salientar que, dado o caráter altamente conservador das práticas<br />

litúrgicas das igrejas ortodoxas, uma boa dose de teologia do tipo<br />

A sempre existiu em seu culto, embora a teologia acadêmica e<br />

formal da ortodoxia grega em geral tenha seguido os parâmetros<br />

do tipo B. E possível ver uma relação entre isso e o fato de que,

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