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Retorno_a_Historia_Do_Pensamento_Cristao_-_Justo_Gonzalez

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forma de se entender a autoridade das Escrituras é muito semelhante<br />

à de Tertuliano; o nascimento virginal é empobrecido, convertendo­<br />

-se em pedra de toque para se assegurar de que verdadeiramente se<br />

crê na Bílília; pressupõe-se que a morte de Jesus em substituição<br />

a nossos pecados é o próprio centro da doutrina da redenção; e o<br />

reino de Deus, cuja vinda se espera, fica geralmente destituído de<br />

suas dimensões de justiça social. Portanto, ao mesmo tempo em que<br />

pretende ser um retorno à fé bíblica, o fundamentalismo não passa,<br />

na realidade, de um retomo à teologia do tipo A — retorno que,<br />

como toda teologia desse tipo, tende a reduzir a mensagem bíblica a<br />

uma série de regras para a fé e para a ação.<br />

Algo semelhante aconteceu dentro do catolicismo romano, onde<br />

a velha ortodoxia se viu ameaçada pelos estudos e conclusões históricas<br />

dos “modernistas”. Neste caso, não era só a Bíbha que se<br />

via ameaçada, mas os dogmas e a própria estmtura da igreja. Se os<br />

dogmas se desenvolveram — se têm história, como afirmavam os<br />

historiadores —, como a igreja pode continuar afirmando que seus<br />

ensinamentos são verdadeiros? Além disso, o desafio do liberalismo<br />

político foi muito mais sério para o catolicismo do que para o protestantismo.<br />

O aparecimento do estado secular, da educação pública<br />

a cargo de um estado laico e de outras instituições que encarnavam<br />

os ideais liberais constituía um sério desafio à autoridade tradicional<br />

da igreja. Na esfera política, isso culminou no ano 1870, quando<br />

o Reino da Itália se apoderou de Roma e de quase todos os velhos<br />

territórios papais.<br />

Em resposta a tudo isso, a Igreja Católica se entrincheirou numa<br />

teologia estrita do tipo A e desenvolveu um sistema de autoridade<br />

cada vez mais rígido. Isto deu origem ao movimento ultramontanista<br />

e, afinal, levou à proclamação do dogma da infalibilidade papal pelo<br />

Concilio Vaticano I. Esse concilio e uma série de decretos de Pio<br />

IX — que na ocasião ocupava a sé romana — afirmaram que existia<br />

uma autoridade final e imutável — a do papa — que se encontrava<br />

acima de todas as dúvidas levantadas pela investigação histórica,<br />

pela ciência moderna e pelas novas condições políticas. Os “modernistas”<br />

católicos foram forçados a guardar silêncio — ou abandonaram<br />

a igreja — e, com isso, os dirigentes eclesiásticos acreditaram<br />

haver respondido aos desafios do mundo moderno e do liberalismo.

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