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Retorno_a_Historia_Do_Pensamento_Cristao_-_Justo_Gonzalez

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modo que fosse de seu agrado e proveito. Constantino e seus sucessores<br />

ofereceram à fé cristã o poder e o prestígio do Estado e, em<br />

troca disso, boa parte da igreja suavizou sua mensagem para que não<br />

parecesse demasiado ofensiva aos poderosos.<br />

Já nos tempos de Eusébio, a maior parte da igreja oriental se<br />

encontrava sob a influência teológica e filosófica de Orígenes —<br />

pelo menos até que o grande mestre alexandrino fosse declarado<br />

herege pelo Quinto Concilio Ecumênico. Ainda que bem poucos o<br />

seguissem a ponto de defender suas posturas mais extremas, praticamente<br />

toda a teologia formal era construída sobre o fundamento<br />

do modo como Orígenes compreendia a divindade — modo que se<br />

derivava mais de fontes platônicas do que da Bíblia ou de outras<br />

fontes cristãs. Foram muito poucos os teólogos que se opuseram<br />

a essa platonização do cristianismo durante a época dos grandes<br />

concílios ecumênicos. Quase todos os que se atreveram a fazer<br />

isso — Paulo de Samósata, Eustácio de Antioquia e os que depois<br />

foram chamados de “nestorianos” — foram rejeitados pelo resto<br />

da igreja e, dali em diante, foram considerados hereges. Essa força<br />

platonizante se fez sentir nas controvérsias trinitárias e cristológicas<br />

que sacudiram a igreja durante os séculos IV e V e levaram aos<br />

grandes concílios ecumênicos.<br />

O fato de que a teologia de tipo B parecia ter mostrado que o Deus<br />

das Escrituras era idêntico ao Ser Supremo da filosofia clássica teve<br />

um profundo impacto na teologia cristã. Desde Orígenes, passou-se<br />

a pressupor que o melhor modo de falar sobre o Ser Supremo era<br />

como o faziam os filósofos. Em suma, com relação à doutrina de<br />

Deus, a teologia de tipo B se impôs em praticamente toda a igreja.<br />

Nessa perspectiva, que se tomou tradicional na teologia cristã, Deus<br />

deve ser descrito em termos de negação de toda a imperfeição (Deus<br />

é infinito, impassível, imutável) e de absolutização de toda perfeição<br />

(Deus é onipotente, onipresente, onisciente).<br />

Durante a época dos grandes concílios (do primeiro, reunido em<br />

Niceia no ano 325, até o quarto, em Calcedônia, em 451), foram<br />

poucos os teólogos que se opuseram a essa platonização da fé. Isto<br />

se aplica particularmente ao Oriente, pois no Ocidente a influência<br />

da teologia do tipo A oferecia certa resistência a esse processo. Mas,<br />

em todo caso, o fato é que os quatro grandes concílios e a maior parte

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