Retorno_a_Historia_Do_Pensamento_Cristao_-_Justo_Gonzalez
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necessário o arrependimento^. Ao se submeter a esse rito ordenado<br />
por Jesus Cristo, o pecador arrependido recebe o perdão de todos<br />
os seus pecados. Mas, a partir daí, ele deve cuidar para não pecar<br />
mais, porque isso seria um insulto à majestade de Deus. Como o<br />
batismo não pode ser repetido, o cristão deve se assegurar de que<br />
teme verdadeiramente a Deus antes de solicitar esse rito. Por essa<br />
razão, Tertuliano pensa que o batismo deve ser adiado até que o<br />
candidato já tenha passado pelos perigos e tentações da mocidade.<br />
Depois de seu primeiro batismo com água, o cristão tem uma<br />
oportunidade a mais de se arrepender*. Mas, depois desse segundo<br />
arrependimento, não resta a quem pecar mais do que o batismo com<br />
sangue, ou seja, o martírio®. Tertuliano, assim como muitos cristãos<br />
de seu tempo, pensava que Deus perdoaria o cristão batizado que<br />
caía se, depois, ele desse testemunho de sua fé e de seu arrependimento<br />
por meio do martírio.<br />
Mas o que nos interessa aqui, por ser típico da teologia do tipo<br />
A, é que Tertuliano entende o batismo como o início da vida cristã'".<br />
Uma vez batizado, o cristão deve ver nesse rito seu compromisso de<br />
não pecar. Mas o rito não tem mais poder efetivo". Isto é importante<br />
porque, como veremos mais adiante, a partir de outra perspectiva<br />
teológica o batismo, ainda que praticado uma única vez, continua<br />
tendo valor e sendo efetivo por toda a vida do cristão.<br />
Isso, por sua vez, leva-nos a tratar de um problema que foi de<br />
capital importância para os que adotaram essa postura teológica,<br />
tanto antes quanto depois de Tertuliano. Trata-se da questão dos<br />
pecados pós-batismais. Em meados do século II, em Roma, um<br />
De Poen. 6: “N ão som os lavados para que deixem os de pecar, m as porque deixam os de pecar,<br />
pois no coração já fom os lavados.”<br />
»Ibid. 7.<br />
"De bap. 16: “Ele nos deu esses dois batism os de seu lado ferido, para que aqueles que creram<br />
em seu sangue possam ser lavados com a água, e os que foram lavados com a água possam<br />
beber o sangue. Este é o batism o que tom a o lugar do banho na fonte quando não foi recebido<br />
e o restaura quando foi perdido.” O contexto m ostra claram ente que se trata do m artírio, e não<br />
sim plesm ente da eucaristia.<br />
Ibid. 1: “Feliz é nosso sacram ento da água no qual se lavam os pecados de nossa cegueira<br />
inicial, som os tom ados livres e adm itidos na vida eterna.”<br />
'' É por isso que Tertuliano se opõe ao batism o das pessoas que ainda haverão de sofrer as<br />
tentações m ais sérias, com o as crianças, os solteiros e os viúvos que ainda não foram “m ais<br />
fortalecidos para a continência” (ibid. 18).