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Retorno_a_Historia_Do_Pensamento_Cristao_-_Justo_Gonzalez

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No entanto, é fato que alguns dos imperadores que perseguiram<br />

o cristianismo são contados entre os governantes mais sábios da<br />

Antiguidade. Diocleciano, por exemplo, foi um estadista hábil, o<br />

único que soube manter unido um império que se despedaçava. E<br />

foi este grande estadista e, de muitos modos, governante exemplar<br />

que desencadeou contra o cristianismo a mais sangrenta das perseguições.<br />

Eusébio põe a culpa em Galério e nos conselhos que este<br />

deu ao imperador. Embora seja possível que tenha havido tais conselhos,<br />

não é verossímil pensar que Diocleciano tenha perseguido o<br />

cristianismo sem estar convencido, pelo menos em parte, de que ele<br />

representava uma ameaça para o Império.<br />

Além disso, se as perseguições tivessem sido o resultado de<br />

uma série de mal-entendidos, seria possível pensar que, à medida<br />

que os governantes aprendessem mais sobre as doutrinas e práticas<br />

cristãs, a perseguição diminuiria. Mas aconteceu exatamente<br />

o contrário. E possível ver o desenvolvimento da compreensão<br />

do cristianismo por parte das autoridades desde os tempos de<br />

Trajano — cujo parente e governador da Bitínia, Plínio, torturava<br />

os cristãos para descobrir seus ensinamentos e práticas — até<br />

Marco Aurélio, que escreveu algumas bastante corretas, embora<br />

desfavoráveis, sobre o cristianismo, e assim até Diocleciano, em<br />

cuja época o Império conhecia perfeitamente as doutrinas e práticas<br />

dos cristãos.<br />

Tudo isso indica que, do ponto de vista do Império, o cristianismo<br />

era um movimento subversivo e, quanto mais as autoridades<br />

conheciam a seu respeito, mais se convenciam disso. Nessa perspectiva,<br />

os cristãos constituíam mais uma das muitas sociedades<br />

que se organizavam no Império e eram vistas com desconfiança<br />

por ele, por temor de que criassem divisões e até subversões“’.<br />

A insistência dos cristãos na existência de um único Deus, diante<br />

da multiplicidade dos deuses romanos, tinha uma importância<br />

enorme, pois a unidade do Império tinha sido fundada sobre um<br />

' N a correspondência entre Plínio e Trajano — a m esm a à qual já m e referi, em que Plínio<br />

solicita instruções sobre os cristãos — , há um a carta em que Plínio sugere a Trajano a<br />

criação de um a sociedade voluntária de bom beiros. Trajano lhe responde que são justam ente<br />

sociedades desse tipo que causaram distúrbios recentes na B itínia e que todas elas acabam se<br />

tom ando m ovim entos políticos (Ep. 10.34).

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