Retorno_a_Historia_Do_Pensamento_Cristao_-_Justo_Gonzalez
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tivesse feito os seres humanos e depois decidido se fazer carne em<br />
Jesus Cristo; antes, Deus tinha, desde o princípio, a intenção de se<br />
encarnar, e, por isso, o modelo usado na criação de Adão e Eva foi<br />
o Verbo encarnado^’.<br />
Isso implica que a encarnação não foi apenas um remédio contra<br />
o pecado, mas fazia parte do propósito mesmo de Deus. Mais<br />
adiante voltaremos a este assunto. Basta salientar aqui que, por mais<br />
estranho que pareça a nós cristãos modernos, esse foi um tema relativamente<br />
comum na teologia cristã antiga —^e até na Idade Média^®.<br />
Em suma o ser humano foi criado bom —^mas não no sentido de<br />
que estivesse completo e terminado, e sim porque o Verbo encarnado<br />
serviu de modelo para sua criação. Nossos primeiros pais tinham a<br />
capacidade de crescer e, assim, de se parecer cada vez mais com o<br />
Verbo, até que finalmente pudessem desfrutar de comunhão íntima<br />
com o Criador^’.<br />
Esse crescimento deveria ser tal que, por fim, os humanos se<br />
tornariam superiores aos anjos. Os anjos são como os tutores de um<br />
príncipe^l Embora os tutores tenham autoridade provisória sobre o<br />
Epid. 26: “A ‘im ag em ’ é o Filho de D eus, em cuja im agem o ser hum ano foi criado.” Adv.<br />
haer. 5.16.2: “D esde tem pos antigos se disse que o ser hum ano foi criado segundo a im agem<br />
de D eus. N o entanto, isso ainda não se m anifestava p orque o Verbo ainda era invisível e ele foi<br />
0 m odelo para a criação do ser hum ano.” C f Epid. 97.<br />
N o fato de que T ertuliano o afirm a pode-se ver que se trata de um tem a com um na<br />
A ntiguidade. Segundo ele, D eus, “contem plando C risto, seu Verbo, que h averia de se encarnar,<br />
disse: ‘Façam os o ser hum ano à nossa im agem e sem elhança’.” Adv. Marc. 5.8. Entretanto,<br />
tal afirm ação não tem relação com o resto da teologia de T ertuliano. P arece ser sim plesm ente<br />
um a opinião com um que ele aceita, m as que não tem função algum a era seu pensaraento. Sua<br />
interpretação da imago D ei no sentido de que o ser huraano se parece cora D eus pode ser vista<br />
era Adv. Marc. 2.5. Sua visão estática da perfeição original aparece em Adv. Marc. 5.5. Seria<br />
possível citar rauitas outras passagens no raesm o sentido.<br />
Adv. haer. 4.14.1: “N o princípio. D eus forraou A dão, não porque tivesse necessidade dele,<br />
raas para ter uraa p essoa a quem conferir seus benefícios.” Isto tem uraa relação estreita<br />
cora a raeta de divinizar a criatura hum ana — teraa ao qual voltareraos. A criança criada<br />
o riginalraente deveria receber os benefícios divinos e, em conseqüência deles, deveria crescer<br />
e, assira, ser capaz de uraa com unhão m ais íntim a cora Deus.<br />
Epid. 12: “H avendo feito do ser hum ano o senhor da terra e de tudo que nela havia,<br />
secretam ente tarabéra o tom ou senhor de seus servidores ali [ou seja, os anjos]. E stes já<br />
haviara atingido sua raaturidade, enquanto que o senhor, isto é, o ser hum ano, ainda era<br />
pequeno e tinha de crescer para chegar à sua perfeição com pleta.” É possível que h aja ecos<br />
da m esm a tradição era Tertuliano, De pat. 5, raas o sentido desse texto é um tanto obscuro.<br />
O bserve-se, era todo caso, que opiniões sem elhantes sobre a superioridade dos seres huraanos<br />
era relação aos anjos tarabém se encontrara era Paulo (IC o 6.3: “N ão sabeis que havem os de<br />
ju lg a r os próprios anjos?”) e era H ebreus 2.5-8.