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Retorno_a_Historia_Do_Pensamento_Cristao_-_Justo_Gonzalez

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contra os cristãos. Portanto, boa parte do que esses teólogos afirmam<br />

sobre o monoteísmo cristão e a doutrina da criação deve ser entendida<br />

dentro de sua polêmica contra o politeísmo.<br />

As “heresias” eram, no entanto, o principal perigo que nossos<br />

autores tinham de enfrentar, um perigo maior ainda que o do paganismo.<br />

Dentro da própria igreja apareceram várias doutrinas que,<br />

na opinião da maioria, punham em risco o próprio centro da fé. Isto<br />

não significa que a igreja quisesse que todos pensassem exatamente<br />

da mesma forma. Pelo contrário, como já vimos, dentro da igreja<br />

existiam várias correntes teológicas e todas eram igualmente permitidas.<br />

Entretanto, havia certas opiniões que pareciam negar aspectos<br />

essenciais da fé como o monoteísmo, a criação e a encarnação de<br />

Deus em Jesus Cristo. Tais opiniões foram prontamente rejeitadas<br />

pelo restante da igreja, que lhes dfeu o nome de “heresias”.<br />

A mais importante dessas heresias foi o gnosticismo. Seu nome<br />

se deriva da crença de que a salvação era obtida por meio de um<br />

“conhecimento” secreto ou “gnose”. Ainda hoje os estudiosos não<br />

concordam sobre as origens do gnosticismo. Ele parece ter surgido<br />

de diversas raízes na astrologia babilónica, na filosofia grega,<br />

nas religiões de mistério, no apocalipsismo judaico e em outras<br />

fontes^. As pessoas que se convertiam ao cristianismo procedentes<br />

de diversos ambientes frequentemente traziam essas doutrinas<br />

para a igreja, onde o gnosticismo logo se tornou uma verdadeira<br />

ameaça. Mas o que nos interessa aqui não é a questão das origens<br />

do gnosticismo, mas suas doutrinas e por que os grandes mestres<br />

da igreja se opuseram a ele.<br />

* A bibliografia sobre o gnosticism o é m uito abundante. Sobre suas origens, veja <strong>Historia</strong> dei<br />

pensamiento, v. 1, p. 124, n .l6 . U m livro relativam ente recem e que m erece atenção especial<br />

dentro do contexto do argum ento deste ensaio é o de E. Pagels, The Gnostic Gospel, N ew<br />

York; R andom H ouse, 1979. O argum ento de Pagels de que a condenação do gnosticism o e os<br />

m eios que a igreja em pregou para responder a ele serviram para suprim ir as vozes dissidentes<br />

e fortalecer a posição dos que detinham a autoridade certam ente é válido. O que se pode<br />

discutir é se essa foi a principal razão pela qual o gnosticism o foi condenado. E m todo caso,<br />

fica claro que, em reação ao gnosticism o, o cristianism o se institucionalizou m uito m ais do<br />

que antes e que aum entou o p oder dos que tinham autoridade na igreja. Tam bém fica claro que,<br />

depois de term inada a luta, várias posturas e tendências gnósticas voltaram a se introduzir no<br />

cristianism o ortodoxo. Isto não significa que o gnosticism o tivesse razão ou que não devesse<br />

ter sido rejeitado. T rata-se sim plesm ente de outro dos m uitos casos em que o debate teológico<br />

se m isturou com a luta política.

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