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Retorno_a_Historia_Do_Pensamento_Cristao_-_Justo_Gonzalez

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O que, do ponto de vista europeu e norte-americano, parecia ser<br />

um conflito cósmico entre o Oriente e Ocidente — ou, como diria<br />

um presidente norte-americano, uma guerra contra o “Império do<br />

Mal” — , era visto de uma outra forma a partir da perspectiva do<br />

Sul sofrido e empobrecido. Desta outra perspectiva, o Nordeste<br />

e o Noroeste — duas formas da mesma civilização ocidental<br />

— eram como dois valentões de bairro brigando por toda parte,<br />

forçando outros a brigar e não deixando ninguém em paz. Ao<br />

contrário do que se pensava no Norte, o grande conflito do século<br />

XX — e, portanto, do começo do XXI — não era entre o Oriente<br />

e o Ocidente, mas entre o Norte e o Sul, entre os colonizadores<br />

e os colonizados, entre os “desenvolvidos” e os supostamente<br />

“subdesenvolvidos” — na realidade, “mal desenvolvidos”, e<br />

isso, em grande parte, por causa do impacto e da interferência<br />

do Norte. Da perspectiva do Sul, a “vitória” do Ocidente sobre a<br />

União Soviética era apenas uma etapa desse grande conflito entre<br />

o Norte e o Sul. E o novo Norte, agora unido sob a hegemonia<br />

de uma única superpotência, ainda teria de enfrentar o desafio do<br />

Sul e de um estado de coisas insustentável, pois o Norte não pode<br />

subsistir sem o Sul e, até certo ponto, a miséria do Sul começa<br />

a invadir os antigos territórios do Norte, onde todos os países<br />

supostamente ricos têm agora focos de pobreza e de miséria que,<br />

há 40 anos, eram inimagináveis.<br />

Por tudo isso, em fins do século XX a humanidade inteira começou<br />

a calcular o custo do pretenso progresso da modernidade. Sem<br />

negar o valor, por exemplo, das novas técnicas médicas ou das novas<br />

facilidades de comunicação, hoje está claro que o “progresso” da<br />

modernidade não alcançou grande parte da espécie humana — ou,<br />

pior ainda, alcançou-a para trazer destruição e miséria. Em muitos<br />

casos, esse progresso também foi obtido às expensas de sistemas<br />

ecológicos cuja destruição terá consequências ainda desconhecidas.<br />

Já em fins do século XX, e mais ainda no XXI, ficava claro que<br />

o globo terrestre não podia sustentar o modo de vida dos países<br />

supostamente desenvolvidos. Se o mundo inteiro alcançasse o nível<br />

de “desenvolvimento” do Atlântico Norte, com um automóvel para<br />

cada duas ou três pessoas, por quanto tempo poderíamos ainda respirar?<br />

Se 0 mundo todo produzisse resíduos industriais no mesmo

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