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Retorno_a_Historia_Do_Pensamento_Cristao_-_Justo_Gonzalez

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adulador de Constantino. No entanto, sua própria biografia mostra<br />

que a realidade é muito mais complexa^. Eusébio havia se mantido<br />

firme em meio às perseguições, e, portanto, não é justo acusá-lo de<br />

ser um covarde que não ousou criticar Constantino. Além disso,<br />

algumas de suas páginas mais exageradas em relação aos méritos do<br />

grande imperador foram escritas depois da morte de Constantino;<br />

logo, não tinham um propósito servil. Eusébio parece ter sido sincero<br />

em sua admiração por Constantino, e neste ponto parece refletir<br />

a atitude de muitos cristãos que, depois de séculos de ameaças de<br />

perseguição, viam-se agora finalmente livres de tal ameaça, e para<br />

os quais, portanto, a conversão de Constantino era nada menos do<br />

que um milagre da divina providência. Logo, parte da importância<br />

de Eusébio consiste justamente em ser um reflexo fiel do ambiente<br />

dominante nas igrejas de seu tempo.<br />

Em suas posturas teológicas e filosóficas, Eusébio era um seguidor<br />

de Orígenes. Este último havia passado seus últimos anos em<br />

Cesareia, onde deixou sua biblioteca, e onde anos mais tarde o<br />

jovem Eusébio foi cativado pela curiosidade intelectual de Pânfilo,<br />

que o introduziu na obra do grande mestre alexandrino. Foi em<br />

parte graças à biblioteca de Orígenes que Eusébio pôde produzir sua<br />

grande História eclesiástica.<br />

Portanto, Eusébio, origenista convicto, acreditava que o cristianismo<br />

era uma série de verdades eternas e imutáveis reveladas em<br />

Jesus Cristo, mas perfeitamente compatíveis com o que os filósofos<br />

haviam descoberto antes. Comentando a esse respeito se disse<br />

que Eusébio era um historiador que não cria na história — ou pelo<br />

menos, não na história como um processo contínuo"^. Ele não via<br />

’ C om relação a E usébio e seus propósitos com o historiador, veja o que dissem os em La<br />

historia también tiene su historia, B uenos A ires: K airós, 2001, p. 44-55.<br />

* E sse foi 0 com entário do professor Jaroslav P elikan em um a série d e conferências proferidas<br />

no C olum bia T heological Sem inary há cerca de 20 anos. E ntretanto, é necessário reconhecer<br />

tam bém que E usébio recebeu a influência da teologia do tipo C: “Eusébio, em C esareia, a<br />

m eio cam inho entre A ntioquia e A lexandria, conciliou sua adm iração por O rígenes com um<br />

interesse nos fatos observáveis que é tipicam ente antioqueno, o que se percebe m elhor que<br />

nunca em seus escritos históricos. [...] P ara ele, a história hum ana apresenta um padrão no qual<br />

a era patriarcal da fé foi recapitulada na E ra C ristã d a graça, estando um a separada da outra<br />

pela era m osaica da Lei. A era final havia com eçado com C risto e se consum ado na conversão<br />

do Im pério ao cristianism o sob C onstantino” (D. S. W allace-H adrill, Christian Antioch: A<br />

Study o f Early Christian Thought in the East, C am bridge: U niversity Press, 1982, p. 52-53).

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