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Retorno_a_Historia_Do_Pensamento_Cristao_-_Justo_Gonzalez

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estoicismo era a filosofia que melhor se ajustava ao modo como os<br />

romanos viam a realidade. Para os estoicos, a meta da sabedoria é<br />

descobrir a lei que governa o universo e viver de acordo com ela.<br />

Como acontece frequentemente, o que para os estoicos parecia ser<br />

a “lei natural”, comum à humanidade inteira, era na realidade o que<br />

os elementos mais respeitados da sociedade consideravam bom. Por<br />

isso, Marco Aurélio não via conflito algum entre ser governante do<br />

Império e ser um filósofo estoico. Afinal, a lei romana não lhe parecia<br />

ser outra coisa do que uma aplicação concreta da lei universal.<br />

Respirando esse ponto de vista filosófico no ambiente em que vivia,<br />

Tertuliano via a realidade de modo semelhante aos estoicos. Além<br />

disso, a ênfase dada pelos estoicos à lei natural se ajustava perfeitamente<br />

a suas inclinações legalistas. Por isso, ao mesmo tempo em que<br />

deplorava e condenava a intrusão da filosofia na teologia, o próprio<br />

Tertuliano, possivelmente sem se dar conta disto, era um estoico’“.<br />

Em conclusão, se procuramos uma única palavra que nos sirva<br />

para caracterizar a teologia de Tertuliano e sua preocupação fundamental,<br />

essa palavra é Lei. De acordo com seu pensamento, o cristianismo<br />

é superior a toda filosofia humana porque se fundamenta na<br />

revelação da lei última do universo, que é a lei de Deus.<br />

Tertuliano teve seus precursores na igreja ocidental. Todos eles<br />

escreviam em grego, eram de uma cultura profundamente helenizada<br />

e, portanto, não eram tão legalistas quanto Tertuliano. Já em fins do<br />

século I, a Primeira epístola aos coríntios de Clemente de Roma manifesta<br />

a influência estoica que depois será tão marcante em Tertuliano” .<br />

Em meados do século H, a tendência legalista nessa compreensão do<br />

cristianismo se percebe no Pastor de Hermas e na chamada Segunda<br />

epístola de Clemente. Ambos podem ser considerados precursores de<br />

Tertuliano, especialmente no que se refere ao perdão dos pecados —<br />

tema a que voltaremos em outro capítulo. Juntos, todos esses autores<br />

exemplificam os primeiros passos da teologia do tipo A, conforme ela<br />

foi sendo forjada dentro do molde dos interesses práticos e jurídicos<br />

que tanto absorviam a mentalidade romana.<br />

Veja <strong>Historia</strong> dei pensamiento, v. 1, p. 172, n. 5, 6.<br />

" Veja ibid., v. 1, p. 64-66.

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