Retorno_a_Historia_Do_Pensamento_Cristao_-_Justo_Gonzalez
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Deus, esse desenvolvimento acabou desvirtuado, de modo que, em<br />
certo sentido, somos monstros. É como se fossemos crianças que, por<br />
causa de algum acidente, perderam a capacidade de pensar e falar, e,<br />
apesar disso, continuássemos crescendo^l O crescimento é bom, mas<br />
a forma que toma, devido a esse acidente, fica distorcida. <strong>Do</strong> mesmo<br />
modo, como criaturas de Deus, nosso desenvolvimento como indivíduos<br />
e espécie humana é bom. Mas o curso concreto tomado por esse<br />
desenvolvimento é de fato monstruoso, por ter sido desvirtuado pelo<br />
pecado. Somos escravos de Satanás, da mesma forma que o menino<br />
do exemplo que acabamos de dar é escravo de seu acidente.<br />
O que precisamos então é, acima de tudo, libertação. Precisamos<br />
que alguém derrote o tirano que nos oprime, permitindo que sejamos<br />
novamente as criaturas que Deus deseja. Depois dessa libertação,<br />
precisamos que Deus nos oriente mais uma vez em nosso crescimento<br />
em direção à comunhão com nosso Criador.<br />
Por essas razões, Irineu descreve a obra de Cristo, acima de tudo,<br />
como uma vitória sobre os poderes que nos mantinham subjugados.<br />
Foi Jesus Cristo que “chamou a todos que choravam e, depois de<br />
perdoar os que haviam sido levados cativos de seus pecados, livrou<br />
-os de suas correntes”^'*. Foi ele que “devolveu a liberdade à humanidade<br />
e lhe deu a herança da incorrupção”^^.<br />
Sua paixão deu lugar à força e ao poder. Porque o Senhor,<br />
mediante sofrimento, “quando subiu às alturas, levou cativo<br />
o cativeiro e concedeu dons aos homens”, e aos que creem<br />
nele deu “autoridade para calcar aos pés serpentes e escorpiões<br />
e sobre todo o poder do inimigo”, ou seja, do chefe da<br />
apostasia [Satanás]. Nosso Senhor, também através de sua<br />
paixão, destruiu a morte e derrotou o erro, e pôs fim à corrupção,<br />
e destruiu a ignorância, e manifestou a vida, e revelou a<br />
verdade, e concedeu o bem da incorrupção.^®<br />
' ‘ Veja a discussão detalhada d esse aspecto da teologia de Irineu em G. W ingren, Man and the<br />
Incarnation-, A Study in the Biblical Theology o f Irenaeus, Philadelphia: M uhlenberg Press,<br />
1959, p. 26-38.<br />
"Arfv. haer 3.9.3.<br />
Ibid. 3.5.2.<br />
"■Ibid. 3.18.6. H á um a m ultidão de textos em que Irineu expressa a m esm a ideia.