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Retorno_a_Historia_Do_Pensamento_Cristao_-_Justo_Gonzalez

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segunda criação, em que residiremos até que estejamos prontos para<br />

voltar ao mundo espiritual para o qual fomos criados.<br />

Não é necessário dizer que essa ideia de uma dupla criação não<br />

foi bem vista pelo resto da igreja. Entre outras dificuldades, levava,<br />

como conseqüência direta, à doutrina da preexistência das almas —<br />

doutrina pagã que os cristãos de pronto rejeitaram.<br />

O que nos interessa aqui não é tanto o conteúdo da doutrina de<br />

Orígenes sobre a criação, mas sim as razões que o levaram a ela. Para<br />

cie, assim como para toda a sua tradição filosófica, a vida inteleclual<br />

era superior à vida física. O intelecto ou o espírito — que para<br />

Orígenes era a mesma coisa — encontrava-se tão acima da matéria<br />

que o corpo não podia fazer parte do plano original de Deus. Portanto,<br />

era necessário explicar por que Deus havia feito um mundo material.<br />

A segunda criação, o mundo material, não fazia parte do plano original<br />

de Deus. Note-se o quanto esta posição se aproxima dos gnósticos<br />

c de Marcião, que afirmavam que o mundo material, em vez de ser a<br />

criação do Ser Supremo, devia-se a um ser inferior. Orígenes rejeita a<br />

doutrina gnóstica, mas no final das contas propõe que, embora Deus<br />

lenha feito o mundo físico, essa criação foi resultado do pecado das<br />

criaturas — dos espíritos originais — e não da vontade eterna de Deus.<br />

Essa concepção implica que, para Orígenes, a história é resultado<br />

do pecado, não apenas no sentido de que o curso da história leva o<br />

selo do pecado, mas também no sentido mais amplo de que a própria<br />

existência de um mundo em que transcorre a história se deve<br />

ao pecado. De novo, para Orígenes a verdade não pode existir no<br />

lemporaP’. Por conseguinte, seria possível dizer que a história é uma<br />

intrusa no plano divino, que só incluía a existência de uma criação<br />

espiritual e fora do tempo.<br />

A mesma perspectiva pode ser vista no modo como Orígenes<br />

entende a imagem de Deus no ser humano. De acordo com ele, isto<br />

' Isso leva R ichard R H anson a afirm ar que “o tem a crítico em relação ao qual O rígenes<br />

nunca aceitou a perspectiva b íblica foi a im portância da história. Para os autores bíblicos,<br />

a história é por excelência o cam po da autorrevelaçâo de D eus. [...] O rígenes era incapaz<br />

de ver ou com preender tal coisá. E le não rejeita nem abandona a história, [...] M as corre o<br />

risco de reduzir sua im portância e, com ela, a im portância dos sacram entos e da escatologia.<br />

Para ele, se a história tiver algum a im portância, será com o um a parábola em ação.” Allegory<br />

and Event: A Study o f the Sources and Significance o f Origen’s Interpretation o f Scripture,<br />

London: SC M , 1959, p. 363-64,

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