Retorno_a_Historia_Do_Pensamento_Cristao_-_Justo_Gonzalez
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apareceu pela primeira vez a prática de comutar a pena. Dali ela<br />
passou para a Grã-Bretanha e, finalmente, para o continente europeu<br />
nos séculos VIII e IX.<br />
Esse processo chegou a tal ponto que o papa Urbano II, ao proclamar<br />
a Primeira Cruzada, ofereceu “indulgência plenária” aos que<br />
aceitassem sua convocação. Isto significava que qualquer satisfação<br />
que o cruzado devesse lhe seria comutada em troca da outra, mais<br />
gloriosa, de ir à Terra Santa e guerrear contra os infiéis. Em 1300,<br />
Bonifácio VIII ofereceu indulgência plenária aos peregrinos que<br />
fossem a Roma por ocasião do jubileu daquele ano. Já nessa época, as<br />
indulgências começavam a perder seu caráter comutativo, tomando<br />
-se, antes, uma simples absolvição que a igreja concedia aplicando<br />
o tesouro dos méritos ao pecador que recebia a indulgência®. A<br />
partir de então, as indulgências continuaram a ser concedidas em<br />
troca de donativos, e daí surgiu a prática de vendê-las contra a qual<br />
os reformadores do século XVI protestaram. No entanto, o que nos<br />
interessa aqui é mostrar a estreita relação que existe entre todo o<br />
sistema penitencial e a teologia do tipo A.<br />
Outro modo pelo qual a cristandade ocidental tentou oferecer<br />
a Deus satisfação por seus pecados foi a celebração da comunhão.<br />
Desde tempos antiquíssimos, a igreja sustentara a existência de<br />
uma relação estreita entre a comunhão e a salvação. Entretanto, os<br />
escritores cristãos mais antigos — e certamente os da teologia do<br />
tipo C — não falam de “méritos” no contexto da comunhão, mas<br />
se referem a ela como o modo pelo qual nós, como membros do<br />
corpo de Cristo, nos nutrimos de sua vida. Mas, durante a Idade<br />
Média, tornou-se cada vez mais comum falar da comunhão como<br />
uma repetição do sacrifício de Cristo, em virtude da qual os méritos<br />
desse sacrifício podem, então, ser aplicados tanto aos presentes<br />
quanto a outros, inclusive aos mortos que estão no purgatório.<br />
Essa ideia, que aparece nos escritos de Gregório Magno em fins<br />
do século VI e princípios do VII’®, tornou-se a base da celebração<br />
da missa pelos mortos, a que a igreja romana deu continuidade ao<br />
longo dos séculos.<br />
Veja, p o r exem plo, A lberto M agno, In IV Sent. 4.2.16.<br />
Veja a história do m onge <strong>Justo</strong>, que saiu do purgatório após 30 m issas serem rezadas por<br />
ele, em D ia l 6.55. P o r essa razão, tais m issas receberam o nom e de “m issas gregorianas”.