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VendaMais-262-cultura-organizacional

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outros as responsabilidades pelos<br />

erros é algo que seduz muito o<br />

ser humano.<br />

Poderíamos ficar horas discutindo<br />

essa questão de modo<br />

generalizado, mas quero particularizar<br />

minha discussão para uma<br />

área que me interessa de perto: a<br />

do autodesenvolvimento.<br />

Para facilitar a abordagem,<br />

divido minhas reflexões em três<br />

momentos: antecedentes, situação<br />

atual e perspectivas quanto ao<br />

futuro. Vamos a elas.<br />

Até um passado bastante recente,<br />

as empresas tinham uma<br />

espécie de pacto com seus colaboradores<br />

(que, antigamente, eram<br />

chamados de empregados). De<br />

maneira sintética, vigorava um<br />

acordo tácito de que, em troca da<br />

total subserviência do trabalhador,<br />

o capital garantiria a estabilidade<br />

da relação. Ou seja, se você se subordinasse<br />

– sem questionar muito<br />

– às regras da organização, ela<br />

não mandaria você embora.<br />

Esse tipo de acordo fez com<br />

que a maioria de nossos pais e<br />

avós trabalhasse na mesma empresa<br />

por trinta, quarenta ou mesmo<br />

cinquenta anos. E eles tinham<br />

tanto orgulho de ter feito isso que<br />

proclamavam em cada oportunidade<br />

a sua fidelidade ao mesmo<br />

empregador.<br />

Em virtude dessa situação, as<br />

organizações não se recusavam<br />

a investir no desenvolvimento de<br />

seus colaboradores. Afinal, eles<br />

permaneceriam fiéis durante toda<br />

a sua vida profissional, e isso<br />

garantia o retorno sobre o investimento<br />

feito em treinamento e<br />

desenvolvimento. Mas, entre o<br />

final dos anos 80 e o início dos<br />

90 do século passado, tudo começou<br />

a mudar...<br />

Desde aquela época – e perdurando<br />

até os dias atuais –, a relação<br />

entre o capital e o trabalho vem<br />

sofrendo profundas modificações.<br />

Sem querer gastar muitas linhas<br />

descrevendo algo que estamos vivenciando,<br />

é fácil verificar que<br />

poucas são as chamadas “organizações<br />

de carreira”. Por outro lado,<br />

para os mais jovens, permanecer<br />

na mesma empresa por mais do<br />

que meia dúzia de anos é sinônimo<br />

de estagnação.<br />

Sabedoras dessa realidade, as<br />

organizações passaram a valorizar<br />

– cada vez mais – aqueles que<br />

assumem as rédeas de seu próprio<br />

desenvolvimento e passam, inclusive,<br />

a pagar melhor aos mais preparados.<br />

A lógica por trás do novo<br />

comportamento é fácil de ser<br />

entendida. Vale mais a pena remunerar<br />

bem a quem já vem preparado<br />

do que se arriscar a investir<br />

em alguém que pode mudar<br />

de empregador a qualquer hora.<br />

O problema é que, no que se<br />

refere ao autodesenvolvimento,<br />

nos defrontamos hoje com vários<br />

desafios, que poucos sabem como<br />

administrar:<br />

a) No que devo me desenvolver?<br />

b) Como vou me desenvolver?<br />

c) Quando devo iniciar?<br />

d) Quanto devo investir?<br />

Creio que a resposta para a<br />

primeira pergunta só pode ser<br />

obtida por aqueles que estão habituados<br />

a planejar o seu próprio<br />

futuro. Para saber no que devemos<br />

nos desenvolver, é preciso saber<br />

onde queremos chegar.<br />

Se você é vendedor, pensa em<br />

assumir cada vez maiores e mais<br />

importantes responsabilidades,<br />

mas não quer se tornar um gestor,<br />

é importante focar no desenvolvimento<br />

de habilidades técnicas,<br />

que lhe permitirão obter<br />

melhores resultados de seu trabalho.<br />

Se você pensa em coordenar<br />

equipes, precisará desenvolver<br />

novas habilidades de caráter<br />

gerencial. Se nos seus planos<br />

está uma internacionalização de<br />

carreira, precisará dominar outros<br />

idiomas. Se quer se dedicar<br />

a um segmento muito técnico,<br />

terá que manter um nível mínimo<br />

de atualização tecnológica.<br />

E por aí vai.<br />

Para a segunda pergunta, há<br />

duas reflexões importantes. A primeira<br />

diz respeito à sua disponibilidade<br />

de tempo e recursos. A<br />

segunda diz respeito à existência<br />

de boas instituições de ensino perto<br />

de você. Não há dúvida de que<br />

a qualidade de qualquer programa<br />

de desenvolvimento humano, técnico<br />

ou gerencial é função dos<br />

recursos que são empregados nas<br />

atividades didático-pedagógicas.<br />

Em outras palavras, o acesso à<br />

tecnologia de ponta é algo fundamental<br />

(eu faço doutorado na França<br />

e, quando converso com amigos<br />

que estão estudando em instituições<br />

brasileiras com menos recursos,<br />

vejo isso claramente). Também<br />

é preciso entender a nítida correlação<br />

entre o quanto você aprende<br />

e o tempo que tem para dedicar<br />

ao aprendizado. A segunda questão<br />

– a da proximidade de boas<br />

escolas – hoje é um pouco atenuada<br />

com o ensino a distância. Mas<br />

isso não significa que possamos<br />

esperar, sempre, obter o mesmo<br />

grau de qualificação quando estudamos<br />

por meio de mídias interativas.<br />

O contato pessoal sempre<br />

terá seu valor.<br />

A terceira questão é fácil de<br />

responder, com uma só palavra:<br />

AGORA!<br />

Para a quarta, vou te dar um<br />

conselho – e deixar que você termine<br />

esta leitura pensando nele:<br />

invista o máximo que puder, sem<br />

que isso signifique abrir mão de<br />

todas as outras coisas que lhe dão<br />

prazer. Lembre-se do antigo ditado<br />

segundo o qual “conhecimento<br />

é a única coisa que ninguém<br />

pode tomar de você”.<br />

“Vale mais a<br />

pena remunerar<br />

bem a quem já<br />

vem preparado<br />

do que se<br />

arriscar a investir<br />

em alguém que<br />

pode mudar de<br />

empregador a<br />

qualquer hora.”<br />

J.B. Vilhena é coordenador<br />

acadêmico do MBA em<br />

Gestão Comercial da FGV,<br />

doutorando em Gestão de<br />

Negócios pela FGV/Rennes<br />

(França), consultor e palestrante.<br />

E-mail: jbvilhena@uol.<br />

com.br<br />

vendamais.com.br - MAIO-JUNHO 2017 35

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