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outros as responsabilidades pelos<br />
erros é algo que seduz muito o<br />
ser humano.<br />
Poderíamos ficar horas discutindo<br />
essa questão de modo<br />
generalizado, mas quero particularizar<br />
minha discussão para uma<br />
área que me interessa de perto: a<br />
do autodesenvolvimento.<br />
Para facilitar a abordagem,<br />
divido minhas reflexões em três<br />
momentos: antecedentes, situação<br />
atual e perspectivas quanto ao<br />
futuro. Vamos a elas.<br />
Até um passado bastante recente,<br />
as empresas tinham uma<br />
espécie de pacto com seus colaboradores<br />
(que, antigamente, eram<br />
chamados de empregados). De<br />
maneira sintética, vigorava um<br />
acordo tácito de que, em troca da<br />
total subserviência do trabalhador,<br />
o capital garantiria a estabilidade<br />
da relação. Ou seja, se você se subordinasse<br />
– sem questionar muito<br />
– às regras da organização, ela<br />
não mandaria você embora.<br />
Esse tipo de acordo fez com<br />
que a maioria de nossos pais e<br />
avós trabalhasse na mesma empresa<br />
por trinta, quarenta ou mesmo<br />
cinquenta anos. E eles tinham<br />
tanto orgulho de ter feito isso que<br />
proclamavam em cada oportunidade<br />
a sua fidelidade ao mesmo<br />
empregador.<br />
Em virtude dessa situação, as<br />
organizações não se recusavam<br />
a investir no desenvolvimento de<br />
seus colaboradores. Afinal, eles<br />
permaneceriam fiéis durante toda<br />
a sua vida profissional, e isso<br />
garantia o retorno sobre o investimento<br />
feito em treinamento e<br />
desenvolvimento. Mas, entre o<br />
final dos anos 80 e o início dos<br />
90 do século passado, tudo começou<br />
a mudar...<br />
Desde aquela época – e perdurando<br />
até os dias atuais –, a relação<br />
entre o capital e o trabalho vem<br />
sofrendo profundas modificações.<br />
Sem querer gastar muitas linhas<br />
descrevendo algo que estamos vivenciando,<br />
é fácil verificar que<br />
poucas são as chamadas “organizações<br />
de carreira”. Por outro lado,<br />
para os mais jovens, permanecer<br />
na mesma empresa por mais do<br />
que meia dúzia de anos é sinônimo<br />
de estagnação.<br />
Sabedoras dessa realidade, as<br />
organizações passaram a valorizar<br />
– cada vez mais – aqueles que<br />
assumem as rédeas de seu próprio<br />
desenvolvimento e passam, inclusive,<br />
a pagar melhor aos mais preparados.<br />
A lógica por trás do novo<br />
comportamento é fácil de ser<br />
entendida. Vale mais a pena remunerar<br />
bem a quem já vem preparado<br />
do que se arriscar a investir<br />
em alguém que pode mudar<br />
de empregador a qualquer hora.<br />
O problema é que, no que se<br />
refere ao autodesenvolvimento,<br />
nos defrontamos hoje com vários<br />
desafios, que poucos sabem como<br />
administrar:<br />
a) No que devo me desenvolver?<br />
b) Como vou me desenvolver?<br />
c) Quando devo iniciar?<br />
d) Quanto devo investir?<br />
Creio que a resposta para a<br />
primeira pergunta só pode ser<br />
obtida por aqueles que estão habituados<br />
a planejar o seu próprio<br />
futuro. Para saber no que devemos<br />
nos desenvolver, é preciso saber<br />
onde queremos chegar.<br />
Se você é vendedor, pensa em<br />
assumir cada vez maiores e mais<br />
importantes responsabilidades,<br />
mas não quer se tornar um gestor,<br />
é importante focar no desenvolvimento<br />
de habilidades técnicas,<br />
que lhe permitirão obter<br />
melhores resultados de seu trabalho.<br />
Se você pensa em coordenar<br />
equipes, precisará desenvolver<br />
novas habilidades de caráter<br />
gerencial. Se nos seus planos<br />
está uma internacionalização de<br />
carreira, precisará dominar outros<br />
idiomas. Se quer se dedicar<br />
a um segmento muito técnico,<br />
terá que manter um nível mínimo<br />
de atualização tecnológica.<br />
E por aí vai.<br />
Para a segunda pergunta, há<br />
duas reflexões importantes. A primeira<br />
diz respeito à sua disponibilidade<br />
de tempo e recursos. A<br />
segunda diz respeito à existência<br />
de boas instituições de ensino perto<br />
de você. Não há dúvida de que<br />
a qualidade de qualquer programa<br />
de desenvolvimento humano, técnico<br />
ou gerencial é função dos<br />
recursos que são empregados nas<br />
atividades didático-pedagógicas.<br />
Em outras palavras, o acesso à<br />
tecnologia de ponta é algo fundamental<br />
(eu faço doutorado na França<br />
e, quando converso com amigos<br />
que estão estudando em instituições<br />
brasileiras com menos recursos,<br />
vejo isso claramente). Também<br />
é preciso entender a nítida correlação<br />
entre o quanto você aprende<br />
e o tempo que tem para dedicar<br />
ao aprendizado. A segunda questão<br />
– a da proximidade de boas<br />
escolas – hoje é um pouco atenuada<br />
com o ensino a distância. Mas<br />
isso não significa que possamos<br />
esperar, sempre, obter o mesmo<br />
grau de qualificação quando estudamos<br />
por meio de mídias interativas.<br />
O contato pessoal sempre<br />
terá seu valor.<br />
A terceira questão é fácil de<br />
responder, com uma só palavra:<br />
AGORA!<br />
Para a quarta, vou te dar um<br />
conselho – e deixar que você termine<br />
esta leitura pensando nele:<br />
invista o máximo que puder, sem<br />
que isso signifique abrir mão de<br />
todas as outras coisas que lhe dão<br />
prazer. Lembre-se do antigo ditado<br />
segundo o qual “conhecimento<br />
é a única coisa que ninguém<br />
pode tomar de você”.<br />
“Vale mais a<br />
pena remunerar<br />
bem a quem já<br />
vem preparado<br />
do que se<br />
arriscar a investir<br />
em alguém que<br />
pode mudar de<br />
empregador a<br />
qualquer hora.”<br />
J.B. Vilhena é coordenador<br />
acadêmico do MBA em<br />
Gestão Comercial da FGV,<br />
doutorando em Gestão de<br />
Negócios pela FGV/Rennes<br />
(França), consultor e palestrante.<br />
E-mail: jbvilhena@uol.<br />
com.br<br />
vendamais.com.br - MAIO-JUNHO 2017 35