A Arte do Encontro
Dividida em uma pesquisa bibliográfica crítica acerca da gamification e numa autoetnografia da participação em larps, a pesquisa propõe um modelo lúdico e, portanto, comunicacional, pautado pela complexidade, pela contra-hegemonia e pela ecologia. Por ludocomunicação, conceito defendido em A Arte do Encontro, compreende-se um contraponto à gamification – pautada pela competividade e pela virtualização – que visa a utilização de dinâmicas lúdicas para promover a formação e manutenção de relações comunitárias.
Dividida em uma pesquisa bibliográfica crítica acerca da gamification e numa autoetnografia da participação em larps, a pesquisa propõe um modelo lúdico e, portanto, comunicacional, pautado pela complexidade, pela contra-hegemonia e pela ecologia. Por ludocomunicação, conceito defendido em A Arte do Encontro, compreende-se um contraponto à gamification – pautada pela competividade e pela virtualização – que visa a utilização de dinâmicas lúdicas para promover a formação e manutenção de relações comunitárias.
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4 A ARTE DO ENCONTRO
Por último, para a realização de uma TAZ, é vital que exista um nomadismo
psíquico. Inspirado em Deleuze, Guattari e Lyotard, entre outros,
Bey (1985a, p. 100, tradução própria) advoga que:
Esses nômades mapeiam seus trajetos por estrelas estranhas, que podem
ser agrupamentos luminosos de dados no ciberespaço, ou talvez alucinações.
Estabeleça um mapa do terreno; sobre esse, coloque um mapa
das mudanças políticas; sobre esse, um mapa da Rede, especialmente
da contra-Rede com sua ênfase no fluxo clandestino de informação e
sua logística – e finalmente, acima de todos, o mapa 1:1 da imaginação
criativa, da estética e dos valores criativos. A grade resultante ganha
vida, animada por turbilhões inesperados e surtos de energia, coágulos
de luz, túneis secretos, surpresas.
Nos larps, essas três táticas me parecem estar presentes. A unidade
pela afinidade, ou bando, diz respeito à participação voluntária. Só se
participa de um larp se o indivíduo assim o quiser. Consequentemente,
a relação pautada pela generosidade se estabelece: cada jogador
contribui com estímulos para a experiência dos demais, ao mesmo
tempo em que sua própria experiência é agraciada com os estímulos
dos outros participantes. A estrutura festiva faz-se presente, já que
essa também diz respeito à estrutura do jogo. Quanto ao nomadismo
psíquico, talvez seja o elemento que dá essência ao larp: afinal, o que
seria o desempenho de papeis senão a perambulação pelas diferentes
facetas que compõem a psique de um indivíduo?
Mas, para além do nomadismo nos mundos interiores, o larp também evoca
uma postura que poderia ser tratada como muito próxima da deriva. É Debord
(2003b, p. 87) quem conduz por uma teoria da deriva, ao afirmar que:
Entre os diversos procedimentos situacionistas, a deriva se apresenta
como uma técnica de passagem rápida por ambiências variadas. O
conceito de deriva está indissoluvelmente ligado ao reconhecimento
de efeitos de natureza psicogeográfica e à afirmação de um compor-
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