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A Arte do Encontro

Dividida em uma pesquisa bibliográfica crítica acerca da gamification e numa autoetnografia da participação em larps, a pesquisa propõe um modelo lúdico e, portanto, comunicacional, pautado pela complexidade, pela contra-hegemonia e pela ecologia. Por ludocomunicação, conceito defendido em A Arte do Encontro, compreende-se um contraponto à gamification – pautada pela competividade e pela virtualização – que visa a utilização de dinâmicas lúdicas para promover a formação e manutenção de relações comunitárias.

Dividida em uma pesquisa bibliográfica crítica acerca da gamification e numa autoetnografia da participação em larps, a pesquisa propõe um modelo lúdico e, portanto, comunicacional, pautado pela complexidade, pela contra-hegemonia e pela ecologia. Por ludocomunicação, conceito defendido em A Arte do Encontro, compreende-se um contraponto à gamification – pautada pela competividade e pela virtualização – que visa a utilização de dinâmicas lúdicas para promover a formação e manutenção de relações comunitárias.

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5 AUTOETNOGRAFIA

cidi dar o nickname de Anauê88 para esse personagem – numa alusão

tanto ao discurso muito próximo do integralismo que se fazia presente

nas manifestações políticas, quanto ao escândalo de neonazismo que

havia ocorrido naquela semana na cidade estadunidense de Charlottesville

(o número 88 tem uso simbólico para neonazistas). O primeiro

participante do larp que encontrei no subterrâneo e fracamente iluminado

bar era uma figura de calças jeans com a barra grosseiramente

dobrada, coturno, camiseta branca agarrada no corpo, jaqueta jeans e

suspensório. O nickname que estampava seu peito em uma fita crepe

era Bandeirante_Paulista.

Naquele momento, penso agora, já dava para sentir que algo estava

muito errado na política brasileira. Afinal, sem qualquer combinação

prévia, eu havia pensado numa caricatura de um neoliberal com aspiração

fascista, ao mesmo tempo em que outro participante representava

um personagem que era facilmente reconhecido como skinhead. Logo

após nos cumprimentarmos, reconhecemos os outros dois participantes

que iriam compor aquele larp. Não me lembro de seus nicknames, mas

lembro de seus estereótipos: um ancap incel (dois termos que ouvi pela

primeira vez naquele dia, referentes respectivamente a anarcocapitalista

e celibata involuntário) e uma pessoa que poderia ser definida pelo

adágio Hay gobierno? Soy contra!.

O larp, que durou cerca de duas horas, foi sucedido por outras duas

com os participantes, já fora de seus personagens, discutindo o (então)

absurdo político que havíamos criado naquela narrativa: discursos

ultraconservadores, a tomada da narrativa da direita por grupos extremistas

e a propagação de shitposting 74 e de notícias conspiratórias (o

termo Fake News ainda não havia entrado em voga na ocasião). Hoje,

ao retomar tal relato, já com praticamente sete meses de um novo presidente

em posse, penso que deveríamos ter levado mais a sério o que,

de maneira lúdica, colocamos em pauta naquele dia. Pois, nos meses

74. Postagens de conteúdo irônico, ofensivo e de baixa qualidade postadas em redes sociais.

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