A Arte do Encontro
Dividida em uma pesquisa bibliográfica crítica acerca da gamification e numa autoetnografia da participação em larps, a pesquisa propõe um modelo lúdico e, portanto, comunicacional, pautado pela complexidade, pela contra-hegemonia e pela ecologia. Por ludocomunicação, conceito defendido em A Arte do Encontro, compreende-se um contraponto à gamification – pautada pela competividade e pela virtualização – que visa a utilização de dinâmicas lúdicas para promover a formação e manutenção de relações comunitárias.
Dividida em uma pesquisa bibliográfica crítica acerca da gamification e numa autoetnografia da participação em larps, a pesquisa propõe um modelo lúdico e, portanto, comunicacional, pautado pela complexidade, pela contra-hegemonia e pela ecologia. Por ludocomunicação, conceito defendido em A Arte do Encontro, compreende-se um contraponto à gamification – pautada pela competividade e pela virtualização – que visa a utilização de dinâmicas lúdicas para promover a formação e manutenção de relações comunitárias.
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6 VINCULAR É BRINCAR
Longe de qualquer autoerotismo, pensar a comunicação a partir do amor
envolve sempre um Tu buberiano. Por isso, complementar ao erótico,
compete o antropofágico. Distante de qualquer devoração oriunda da
fome ou da gula, a comunicação antropofágica pressupõe:
[...] a sede de outridade, comunhão com a paisagem e com os corpos
que nela habitam, reconstrução dos signos, portanto, do universo, por
meio da hiperbolização dos nossos sentidos, cada vez mais anestesiados
pelo excesso de visão: cegueira. [...] Comunicação capaz de realizar a
comunhão entre o homem, os seres, os objetos, o cosmos, experiência
incomunicável que ao mesmo tempo dá ao homem a integração com
o universo e a sua individualidade (SILVA, 2007, p. 167-168).
Nesse exercício pleno de comunhão, dinâmica que dá a tônica para a
estrutura de comunidade que propomos, o que importa é a assimilação
do Tu pelo Eu, tal qual a abertura do Eu para ser devorado pelo Tu.
Considero ser a mais sincera forma de criar o Nós (não por acaso, sinônimo
de vínculo), essencial para a noção de comunidade. Um Nós cuja
possibilidade é atrelada ao sensível (ou seja, ao erótico) e, ao mesmo
tempo, a um estado de porosidade.
As comunidades, numa perspectiva vaneigemiana, também são pautadas
pelo princípio da participação, originário da paixão de jogar. Me
recordo que, ao final do mestrado, a relação do jogar com a participação
já havia despertado meu interesse, pois “conceitos como a participation
mystique junguiana [...] foram tocados durante a pesquisa. Esse
fenômeno [...] foi excluído desse estudo por necessitar de uma visão
integrada e profunda entre áreas como a Psicologia e a Sociologia, além
da própria Comunicação” (IUAMA, 2018a, p. 157).
Hoje, tomo a liberdade de pensar de maneira diferente. A participação
mística, conforme vista na obra de Jung, é um conceito oriundo do
filósofo e antropólogo Lucien Lévy-Bruhl, que também o nomeava
como mentalidade primitiva. “A participação permitiu multinumeração,
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