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A Arte do Encontro

Dividida em uma pesquisa bibliográfica crítica acerca da gamification e numa autoetnografia da participação em larps, a pesquisa propõe um modelo lúdico e, portanto, comunicacional, pautado pela complexidade, pela contra-hegemonia e pela ecologia. Por ludocomunicação, conceito defendido em A Arte do Encontro, compreende-se um contraponto à gamification – pautada pela competividade e pela virtualização – que visa a utilização de dinâmicas lúdicas para promover a formação e manutenção de relações comunitárias.

Dividida em uma pesquisa bibliográfica crítica acerca da gamification e numa autoetnografia da participação em larps, a pesquisa propõe um modelo lúdico e, portanto, comunicacional, pautado pela complexidade, pela contra-hegemonia e pela ecologia. Por ludocomunicação, conceito defendido em A Arte do Encontro, compreende-se um contraponto à gamification – pautada pela competividade e pela virtualização – que visa a utilização de dinâmicas lúdicas para promover a formação e manutenção de relações comunitárias.

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A ARTE DO ENCONTRO

existência de duas percepções espaço-temporais: pública e privada. O

espaço e o tempo públicos, por serem compartilhados, precisam ser

quantificáveis, de modo que tendem à linearidade. Já no âmbito privado,

tempo e espaço comportam-se de maneira não-quantificável e

não-linear, dado o seu caráter subjetivo. Com o desenvolvimento das

TICs, a percepção do espaço passa a tender ao infinito, assim como a

do tempo passa a tender ao nulo 22 . Por conta disso, as esferas pública e

privada do espaço-tempo passam a se confundir. Sobretudo, a dinâmica

de cada uma delas passa a contaminar a outra: quantificamos o que

deveria ser não-quantificável, tal como o tempo que passamos com a

pessoa querida, assim como transformamos em infinito o que deveria

ser limitado e quantificável, tal como a conversão do espaço de trabalho

no espaço privado 23 .

No que diz respeito ao jogo, os três autores convidados para discutir

o tema (Huizinga, Caillois e Winnicott) são unívocos sobre a relação

desse com os limites espaço-temporais, conforme exposto no capítulo

anterior. Winnicott (2019) e Huizinga (2017) devotam parte significativa

de suas reflexões ao assunto, seja sob o nome de zona transicional, seja

sob o nome de círculo mágico (conceitos que doravante tomarei como

paralelos). Ao tomar o mundo atual como um mundo de extremos, onde

os fenômenos tendem a se dividir entre infinitos e imediatos, como

essas zonas transicionais/círculos mágicos se comportam? Se a zona

transicional winnicottiana é, por excelência, o espaço da experiência,

22. Embora a Física e a Matemática não sejam minha área de expertise, é possível observar

uma analogia ao conceito de dromocracia de Virilio. Se a velocidade é igual à variação de

espaço dividida pela variação de tempo, a divisão de um número que tende ao infinito

por um que tende ao nulo reforça ainda mais o caráter titânico da velocidade. Pondero

se a relação entre metros por segundo e bits por segundo não seria um termômetro de

tal mudança de ordem de grandeza da velocidade na qual, no lugar de criar uma relação

espaço-temporal, cria uma relação informativo-temporal.

23. O próprio termo home office contém em si a semente de tal conceito: como domiciliar

é o adjetivo e escritório o substantivo, escritório domiciliar implica que o lugar passa a

ser, acima de tudo, local de trabalho. Ao contrário do comum imperativo trabalhe em casa,

penso que o mais correto seria more no trabalho.

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