A Arte do Encontro
Dividida em uma pesquisa bibliográfica crítica acerca da gamification e numa autoetnografia da participação em larps, a pesquisa propõe um modelo lúdico e, portanto, comunicacional, pautado pela complexidade, pela contra-hegemonia e pela ecologia. Por ludocomunicação, conceito defendido em A Arte do Encontro, compreende-se um contraponto à gamification – pautada pela competividade e pela virtualização – que visa a utilização de dinâmicas lúdicas para promover a formação e manutenção de relações comunitárias.
Dividida em uma pesquisa bibliográfica crítica acerca da gamification e numa autoetnografia da participação em larps, a pesquisa propõe um modelo lúdico e, portanto, comunicacional, pautado pela complexidade, pela contra-hegemonia e pela ecologia. Por ludocomunicação, conceito defendido em A Arte do Encontro, compreende-se um contraponto à gamification – pautada pela competividade e pela virtualização – que visa a utilização de dinâmicas lúdicas para promover a formação e manutenção de relações comunitárias.
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
2 TRAPAÇA MIDIÁTICA
mananciais da experiência, enquanto a segunda toma por base a
eficiência da transmissão.
Outro ponto de contato entre as características paradigmáticas e comunicacionais
previamente enunciadas é a relação com o tempo, uma
vez que “o tempo pseudocíclico consumível é o tempo espetacular, em
sentido restrito, tempo de consumo de imagens, em sentido amplo,
imagem do consumo do tempo 35 ” (DEBORD, 2003a, p. 124). A sentença
de Debord é categórica ao demonstrar a usurpação do tempo pelas
imagens. E cabe salientar novamente que a instituição do poder se dá
pela colonização do biotempo (ROMANO, 2004).
O espetáculo debordiano é ainda fruto de uma visão disjuntiva entre
produção e produto, ou ainda produção e consumo. É hegemonicamente
vigente um paradigma que separa o sujeito do objeto, uma comunicação
que separa emissor de receptor, e uma sociedade que divide entre espetáculo/imagem
e espectador/corpo. Se existe separação, consequentemente
haverá hierarquização. Nesse sentido, “o espetáculo é a ideologia por
excelência, porque expõe e manifesta na sua plenitude a essência de
qualquer sistema ideológico: o empobrecimento, a submissão e a negação
da vida real” (DEBORD, 2003a, p. 161-162). Mais uma vez, evidencio a
relação dos conceitos debordianos com a reflexão benjaminiana: para
o autor alemão, a barbárie das guerras mundiais do século XX causa
uma miséria da experiência, de modo que passa a ser compreensível,
ante a possibilidade de revisitar o horror das memórias de trincheiras
e extermínios, uma negação da vida real (BENJAMIN, 1987c).
Sobretudo, é sob a forma da ideologia que o espetáculo se apresenta
aos umbrais do século XXI. A imagem (enquanto capital acumulado)
prevalece nos espaços onde o desenvolvimento econômico é exacerbado.
Termômetro disso é a força das marcas oriundas de países ditos
35. A critério de ilustração, talvez um dos mais emblemáticos retratos da imagem do
consumo do tempo seja o quadro Saturno devorando o filho, de Francisco de Goya.
87